• Isabela Moreira
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Dan Stevens e Emma Watson em 'A Bela e a Fera' (Foto: Divulgação)

Em 1990, o departamento de publicidade da Disney teve uma ideia inusitada: exibir trechos de seu novo projeto para um público seleto no Festival de Cinema de Nova York. O filme estava inacabado e os presentes não conseguiam entender o motivo de uma animação, gênero que na época ainda era restrito ao entretenimento infantil, ter sido selecionada para o evento.

Ninguém — inclusive os executivos da Disney — poderia prever o que se passaria nos próximos minutos. Bela, a mocinha do filme, se debulha em lágrimas em cima do corpo da Fera, figura de aparência monstruosa, mas de bom coração, por quem se apaixonou. A comoção da personagem faz com que um feitiço seja quebrado e a Fera volte à vida e à sua forma original, de príncipe. A plateia foi à loucura e ficou de pé para aplaudir o filme.

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Rascunhos de 'A Bela e a Fera', como apresentado no Festival de Cinema de Nova York (Foto: Divulgação)

A cena, descrita no documentário O Despertar da Bela Adormecida (2009), representa só uma pontinha do fenômeno que A Bela e a Fera se tornaria. O filme chegou aos cinemas no fim de 1991 e foi um sucesso de público e crítica, se tornando a primeira animação a ser indicada na categoria de melhor filme no Oscar — acabou perdendo para O Silêncio dos Inocentes.

A versão live action da animação, que chega nos cinemas brasileiros em 16 de março de 2017, não consegue trazer à tona o encanto que tornou o romance entre a jovem sonhadora e o príncipe mesquinho uma das histórias de amor mais conhecidas do mundo.

O novo A Bela e a Fera faz parte da estratégia da Disney de criar versões com atores de carne e osso para seus clássicos, como Alice no País das Maravilhas (2010), Malévola (2014), Cinderela (2015) e Mogli: O Menino Lobo (2016), nas quais escala grandes nomes de Hollywood e utiliza a tecnologia para ressaltar elementos de histórias já queridas pelo público. Mas enquanto os lançamentos dos últimos anos tentaram inovar — Malévola traz uma nova perspectiva sobre a vilã, Cinderela não é um musical e Mogli usa efeitos especiais para aproximar os animais da realidade —, A Bela e a Fera é uma cópia quase idêntica de seu original. Mas nem de longe tão boa.

Dirigido por Bill Condon (responsável por A Saga Crepúsculo: Amanhecer partes I e II), o filme é estrelado por Emma Watson (de Harry Potter) e Dan Stevens (de Downton Abbey). A história é aquela já conhecida: uma fada transforma um príncipe mesquinho em Fera e decreta que ele só voltará à sua forma original quando aprender a amar e ver além das aparências. Quando Bela, uma jovem linda, inteligente e corajosa, se prontifica a tomar o lugar de seu pai como prisioneira do castelo, a Fera encontra motivos para acreditar que suas chances não estão perdidas.

Emma Watson como Bela em 'A Bela e a Fera' (Foto: Divulgação)

Emma Watson como Bela em 'A Bela e a Fera' (Foto: Divulgação)

Ao adaptar o conto de fadas publicado em 1756 por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont na animação de 1991, a roteirista Linda Woolverton (que também escreveu Aladdin e O Rei Leão) optou por incluir diversos coadjuvantes em forma de objetos animados na história. Dessa forma, em vez de apenas o relacionamento, muitas vezes classificado como Síndrome de Estocolmo, entre a Bela e a Fera, o filme ganhou charme e números de dança conduzidos por castiçais, relógios e bules falantes.

O recurso não funciona no live action de 2017. A forma com que os efeitos especiais foram usados para desenvolver os personagens do castelo fez com que eles ficassem com uma aparência antiquada e impessoal, não parecendo objetos reais, muito menos pessoas transformadas neles. Isso faz com que cenas inteiras percam o charme, incluindo o grande e famoso número musical “À Vontade” (“Be Our Guest”, em inglês), cantado pelo castiçal Lumière na cozinha. O que, em partes, redime os personagens é o carisma na performance dos atores que os dublam — na versão em inglês, participaram atores como Ewan McGregor, Emma Thompson e Ian McKellen.

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O castiçal Lumière nas versões de 1991 e 2017 (Foto: Divulgação)

O novo filme tenta recriar o sucesso da animação, repetindo sequências, falas e músicas, mas esses elementos não funcionam na versão live action. O visual fica pesado e os atores deixam de ser o centro das cenas. As poucas diferenças que tenta embutir, como um pouco do passado dos protagonistas, não é o suficiente para fazer o longa se destacar. Para que isso acontecesse, talvez fosse necessário que a produção fosse mais parecida com a adaptação feita para o teatro musical — A Bela e a Fera chegou na Broadway em 1994 e foi um sucesso de bilheterias exportado para o mundo inteiro, inclusive o Brasil em 2002 e 2009 —, com mais empolgação, músicas e coreografias.

A Bela e a Fera tem quase tudo que os fãs que esperaram tanto para assisti-lo querem encontrar: Emma Watson com a aparência exata da heroína, romance e música. A Disney não poupou recursos para tornar o filme o mais grandioso possível, mas com isso esqueceu a magia, que é insubstituível.

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