• Redação Galileu
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Há 9 mil anos, na região dos Andes, as mulheres eram caçadoras (Foto: Matthew Verdolivo, UC Davis IET Academic Technology Services)

Há 9 mil anos, na região dos Andes, as mulheres eram caçadoras (Foto: Matthew Verdolivo, UC Davis IET Academic Technology Services)

Uma nova pesquisa realizada na Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos, contesta a tese de que quem caçava em busca de comida nos primeiros grupos humanos eram os homens. Vestígios de 9 mil anos encontrados em Wilamaya Patjxa, na região andina do Peru, indicam que as mulheres eram responsáveis pela caça. 

O estudo, publicado nesta quarta-feira (4) na revista Science Advances, teve como principal autor Randy Haas, professor-assistente de antropologia da universidade. Foram descobertos indícios de um antigo enterro que continha um "kit" de ferramentas de caça com pontas de projéteis e ferramentas de processamento de animais. Segundo os pesquisadores, na época era prática enterrar as pessoas com os objetos que elas utilizavam enquanto vivas. 

Com base em exames de proteínas dentais, concluiu-se que se tratava de uma mulher caçadora — a primeira a ser enterrada na região.

Ilustração das ferramentas encontradas no túmulo de mulheres caçadoras (Foto: Randy Haas / UC Davis)

Ilustração das ferramentas encontradas no túmulo de mulheres caçadoras (Foto: Randy Haas / UC Davis)

Segundo Haas, até agora, acreditava-se que, já naquela época, vigoravam as práticas sexistas de trabalho, como "homem caçador e mulher coletora". "Agora está claro que a divisão sexual do trabalho era fundamentalmente diferente — provavelmente mais equitativa — no passado de caçadores-coletores de nossa espécie", analisa o cientista, em comunicado.

A descoberta levou a equipe a se perguntar se existiam outras mulheres caçadoras. Olhando para os registros publicados de sepultamentos do final do Pleistoceno e do início do Holoceno nas Américas do Norte e do Sul, foram identificados 429 indivíduos em 107 locais. Destes, 27 estavam associados a ferramentas de caça, sendo 11 mulheres e 15 homens. "É suficiente para concluir que a participação feminina na caça provavelmente não era trivial", dizem os autores.

Embora a pesquisa responda a uma velha questão sobre a divisão de trabalho nas antigas sociedades humanas, ela também levanta algumas novas perguntas. Agora a equipe quer compreender como mudaram as divisões de trabalho por gênero em diferentes épocas e lugares entre os caçadores das Américas.