• Redação Galileu
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 (Foto: Pixabay)

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Duas bebês chinesas que tiveram o DNA geneticamente modificado antes de nascerem podem ter risco de morte precoce mais alto, de acordo com nova pesquisa. O cientista chinês He Jiankui alega ter feito o procedimento nas gêmeas Lulu e Nana — que nasceram em novembro de 2018 — com o intuito de protegê-las do vírus HIV.

Embora o procedimento, feito com a técnica CRISPR, tenha sido concebido para imitar uma mutação natural que protege cerca de 10% dos europeus nórdicos da infecção pelo HIV, uma nova pesquisa, conduzida nos Estados Unidos, aponta para o fato de que a mutação está ligada à redução da expectativa de vida. Por exemplo, aos 74 anos, a taxa de mortalidade dos britânicos que têm essa mutação em ambos os genes é em média 26% maior — em comparação com pessoas que têm mutações em apenas uma cópia ou em nenhuma delas.

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De acordo com He Jiankui, ele mirou em um gene chamado CCR5m que produz uma proteína que se projeta da superfície das células imunológicas — e impede o vírus HIV de infectar as células —, resultado de uma mutação natural chamada delta 32. Embora o chinês não tenha conseguido replicar a mutação natural, ele aparentemente conseguiu fazer com que uma das bebês desenvolvesse geneticamente uma cópia do CCR5, enquanto a outra desenvolveu duas.

"Além das muitas questões éticas envolvidas com os bebês CRISPR, o fato é que, agora, com o conhecimento atual, ainda é muito perigoso tentar introduzir mutações sem saber o efeito completo do que fazem", disse Rasmus Nielsen, um dos membros do novo estudo, em comunicado. “Nesse caso, provavelmente, não é uma mutação que a maioria das pessoas gostaria de ter. Você está, na verdade, em uma situação pior se a tiver."

Para investigar o impacto da desativação do gene CCR5, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, analisaram registros médicos ligados aos genomas de mais de 400 mil pessoas registradas no Biobanco do Reino Unido. Não está claro como as mutações afetam a expectativa de vida, mas pesquisas anteriores sugeriram que elas aumentam a probabilidade de as pessoas morrerem de gripe. "Nesse caso, o custo da resistência ao HIV pode ser maior suscetibilidade a outras doenças, e talvez mais comuns", escrevem os autores no artigo.

He Jiankui (Foto: Reprodução/YouTube)

O cientista chinês He Jiankui (Foto: Reprodução/YouTube)

He Jiankui era pesquisador da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, localizada na província de Shenzhen: a instituição abriu uma investigação para averiguar o projeto conduzido pelo médico e disse em comunicado que não tinha conhecimento da realização desse trabalho. Uma reportagem do jornal The New York Times afirma que Jiankui está mantido sob guarda em seu apartamento, que fica no campus da universidade. Há pessoas não identificados ao redor do prédio — e não está claro se eles trabalham para o governo chinês, para a faculdade ou para outra organização.

Logo após a revelação de que a edição de DNA humano foi realizada com sucesso, a comunidade científica internacional e o governo chinês criticaram duramente o trabalho. Em entrevista à emissora CCTV, o vice-ministro da Ciência e Tecnologia, Xu Nanping, afirmou que a edição humana de genes é ilegal e inaceitável. "O incidente envolvendo os bebês geneticamente modificados violou descaradamente as leis e regulações relevantes do nosso país", afirmou o político.

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