• Redação Galileu
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Chinês He Jiankui em conferência em Hong Kong, último evento no qual ele foi visto (Foto: VOA - Iris Tong/Wikimedia Commons)

Chinês He Jiankui em conferência em Hong Kong, último evento no qual ele foi visto (Foto: VOA - Iris Tong/Wikimedia Commons)

Autoridades chinesas continuam a investigação a respeito do trabalho de He Jiankui, que anunciou no fim de novembro do ano passado a edição bem-sucedida do DNA humano: duas irmãs gêmeas nasceram com resistência ao vírus do HIV e um outro feto já estaria com 14 semanas de gestação. Em comunicado à imprensa estatal chinesa, os membros do governo que estão avaliando o caso afirmaram que Jiankui realizou falsificações de documentos para esconder suas pesquisas e contornou o processo formal de uma pesquisa científica "em busca de fama pessoal".

Desde que o caso foi noticiado, uma força-tarefa da Comissão de Saúde da China investiga as consequências do trabalho realizado pelo pesquisador. Em um relatório preliminar, os responsáveis pelo caso afirmaram que Jiankui "intencionalmente evitou a supervisão" para realizar a edição do DNA humano, algo que é "explicitamente proibido" pelo governo chinês. 

Além disso, Jiankui é acusado de "violar seriamente os princípios éticos e a integridade científica", já que a técnica utilizada ainda não tem garantias asseguradas a respeito da segurança e eficácia para os humanos. De acordo com o relatório, o pesquisador teria apresentado um falso certificado de revisão ética quando recrutou oito casais voluntários para realizar os experimentos — que ocorreram de março de 2017 a novembro de 2018.

Jiankui afirma que utilizou uma técnica conhecida como Crispr-Cas9 em que é possível "cortar e colar" trechos do DNA humano para impedir a replicação de uma informação ou alterar a sequência de um genoma. Com isso, criam-se possibilidades para alterar qualquer tipo de dado genético, desde características físicas à resistência a doenças ou capacidade intelectual.

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Laboratório de He Jiankui esteve fechado nesta semana (Foto: Reprodução/Weibo)

Laboratório de He Jiankui esteve fechado (Foto: Reprodução/Weibo)

O cientista é pesquisador da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, localizada na província de Shenzhen: a instituição abriu uma investigação para averiguar o projeto conduzido pelo médico e disse em comunicado que não tinha conhecimento da realização desse trabalho. Uma reportagem do jornal norte-americano The New York Times afirma que Jiankui está mantido sob guarda em seu apartamento, que fica no campus da universidade. Há pesssoas não identificados ao redor do prédio – e não está claro se eles trabalham para o governo chinês, para a faculdade ou para outra organização.

Apesar disso, o pesquisador pode se comunicar por e-mail e telefonemas, e se correspondia com colegas de trabalho – mas ninguém foi identificado ou quis dar declarações públicas.

Logo após a confirmação de que a edição de DNA humano foi realizada com sucesso, a comunidade científica internacional e o governo chinês criticaram duramente o trabalho. Em entrevista à emissora CCTV, o vice-ministro da Ciência e Tecnologia, Xu Nanping, afirmou que a edição humana de genes é ilegal e inaceitável. "O incidente envolvendo os bebês geneticamente modificados violou descaradamente as leis e regulações relevantes do nosso país", afirmou o político.

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