• Redação Galileu
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Sono (Foto: Flcikr/ bark/ Creative Commons)

A falta do sono reduz a atividade de regiões cerebrais ligadas à capacidade de empatia (Foto: Flcikr/ bark/ Creative Commons)

Não é de hoje que a privação do sono é apontada por cientistas como um fator prejudicial para a nossa saúde e bem-estar. Pouco se fala, no entanto, no prejuízo que ela pode trazer para as pessoas ao nosso redor, como aponta um estudo publicado no PLoS Biology journal, com o título: “A perda de sono leva à redução da ajuda humana entre indivíduos, grupos e sociedades em grande escala”.

Para entender como o sono pode influenciar a nossa disposição em agir de forma generosa, os pesquisadores primeiro reuniram cerca de 20 jovens adultos em um laboratório. Os participantes dormiram uma noite e ficaram acordados por outra. No período da manhã, preencheram um questionário padronizado de altruísmo, avaliando sua probabilidade de ajudar estranhos ou conhecidos em vários cenários, entre eles oferecer uma carona a um colega de trabalho com necessidades ou ceder um assento em um ônibus. Sem nunca ler o mesmo cenário mais de uma vez, aproximadamente 80% dos participantes mostraram menos probabilidade de ajudar os outros quando privados de sono do que quando descansados.

Ainda neste experimento, foi realizada uma ressonância magnética para comparar a atividade neural de cada participante em estado de repouso e em estado privação de sono. As imagens corroboram com o teste comportamental e mostram que a falta do sono reduz a atividade de regiões cerebrais ligadas à capacidade de empatia.

Os pesquisadores ainda verificaram a relação entre a ausência de sono e um comportamento mais egoísta em grupos maiores. Para isso, recrutaram mais uma centena de participantes e fizeram com que eles mantivessem um registro do sono por quatro noites, completando subconjuntos do questionário de altruísmo antes das 13h. Também nesta situação quanto mais tempo os participantes passavam acordados na cama, o que indica uma medida de sono ruim, menores suas pontuações no índice de altruísmo. Essa queda no altruísmo foi verdadeira tanto ao comparar os indivíduos consigo mesmos quanto ao calcular a média das pontuações em todo o grupo.

Por fim, os pesquisadores ainda realizaram uma série de testes para avaliar o impacto do horário de verão. Para tanto, analisaram doações realizadas de 2001 a 2016 para a Donors Choose, uma organização sem fins lucrativos que arrecada dinheiro para projetos escolares nos Estados Unidos. O levantamento verificou que na semana após a mudança de horário, o total de doações caiu de US$  82 para cerca de US$ 73 por dia.

Segundo o resumo da pesquisa, os resultados mostram que “ o sono inadequado representa uma força influente significativa que determina se os humanos escolhem ajudar uns aos outros, observável em níveis micro e macroscópicos de interação civilizada". Os pesquisadores ainda ressaltam: “As implicações desse efeito podem não ser triviais quando consideramos a essencialidade da ajuda humana na manutenção da sociedade civil cooperativa e combinamos com os relatos cada vez mais frequentes do declínio no sono em muitas nações do primeiro mundo”.