• Gabriela Garcia*
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Pesquisa revela que 49% das brasileiras desconhecem a vaginose (Foto: Juli Kosolapova/Unsplash)

Pesquisa revela que 49% das brasileiras desconhecem a vaginose (Foto: Juli Kosolapova/Unsplash)

A saúde íntima feminina ainda é cercada de tabus. Isso vale especialmente para a vagina, incluindo doenças que atingem o órgão genital. Como resultado, a desinformação toma conta. É o que acontece com a vaginose, infecção bacteriana comum entre as mulheres.

Uma pesquisa conduzida pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC) e encomendada pela Gino-Canesten, marca de medicamento da farmacêutica alemã Bayer contra a vaginose, investigou o conhecimento das brasileiras sobre esse problema.

Os resultados demonstram que 49% das mulheres no país nunca ouviram falar da doença, embora ela já tenha acometido 13% das entrevistadas. O levantamento foi realizado em maio de 2022 com 2 mil mulheres de 16 a 60 anos.

Não é candidíase

A vaginose é uma infecção causada por bactérias, sendo a mais comum a Gardnerella vaginalis, que se desenvolve quando ocorre um desequilíbrio da flora vaginal. “Muitos acabam confundindo a candidíase com a vaginose, pois ambas têm origem no desequilíbrio do pH e da flora vaginal, mas cada uma apresenta sintomas e, principalmente, tratamentos completamente diferentes”, disse a ginecologista e obstetra Ornella Minelli, em evento realizado nesta quarta-feira (10), em São Paulo, para divulgar a pesquisa.

Entre os fatores que contribuem para desbalancear a flora vaginal estão usar roupas molhadas e quentes com frequência, abusar do uso de antibióticos e abafar a região íntima. 

A candidíase é uma infecção fúngica, que tem como principais sintomas coceira na região íntima, ausência de odor, corrimento esbranquiçado e espesso. Já a vaginose se apresenta com odor que se assemelha ao cheiro de peixe, corrimento mais acinzentado e pode causar sangramentos após a relação sexual.

Embora a candidíase tenha uma maior incidência, afetando cerca de 52% das mulheres brasileiras ao menos uma vez na vida, de acordo com uma pesquisa feita pelo Ibope em julho de 2020, a vaginose bacteriana, ainda que menos conhecida, é tão preocupante quanto.

“Se a vaginose não for tratada, as bactérias que causam a infecção podem subir do trato genital inferior, vulva e vagina, para o colo e útero chegando nas tubas uterinas e causando uma obstrução” alerta Minelli, em entrevista a GALILEU. “É importante lembrar que, numa gestação, o encontro entre óvulo e espermatozoide depende das tubas, então se estão obstruídas, há uma situação de infertilidade." 

A médica ressalta também que a falta de tratamento pode evoluir para a Doença Inflamatória Pélvica Aguda (DIPA), que em alguns casos pode levar à retirada das tubas uterinas.

Vergonha e desinformação

Apesar de ser um problema tão sério, esse é mais um aspecto dos quais muitas mulheres têm vergonha — ou mesmo desconhecem. Segundo a pesquisa da IPEC, 45% das entrevistadas declaram sentir um certo desconforto em falar sobre sua saúde íntima; e 30% delas sentem vergonha até mesmo de comprar medicamentos relacionados a isso.

“Infelizmente, esse tema ainda é muito velado. Não abrangem o assunto como deveriam, nem dentro de casa, nem nas escolas. Isso acaba fazendo que muitas meninas usem a internet como fonte de informação, mas nem sempre é uma fonte segura” alertou Claudia Milan, fisioterapeuta pélvica, durante o evento.

Segundo as especialistas, abordar esse assunto de maneira natural desde cedo com meninas reflete em como elas irão encarar a saúde íntima no futuro. A disseminação de informações sobre o tema é essencial, até para que consigam identificar quando algo não está normal, além de ajudar a prevenir casos de ISTs, gavidez precoce e outros problemas.

*Com supervisão e edição de Luiza Monteiro