• Redação Galileu
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4 em cada 10 suicídios envolvem uso de álcool e outras drogas, segundo pesquisa (Foto: Josh Olalde/ Unsplash)

4 em cada 10 suicídios envolvem uso de álcool e outras drogas, segundo pesquisa (Foto: Josh Olalde/ Unsplash)

Quatro em cada dez suicídios ocorrem entre pessoas que usam drogas, especialmente o álcool, antes de tirar a própria vida. Esse dado preocupante está em um estudo publicado no último dia 14 de julho por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) na revista BMC Psychiatric.






A pesquisa analisou características sociodemográficas das vítimas de suicídio, o comportamento delas e as circunstâncias dos eventos na intenção de ajudar a formular políticas públicas de prevenção. Ao todo, foram investigados mais de mil suicídios no Distrito Federal, ocorridos entre 2005 a 2014.

Os dados foram coletados na Polícia Civil a partir de boletins de ocorrência, realizados pelos investigadores durante entrevista com familiares e/ou testemunhas, e laudos médicos legistas do Instituto de Medicina Legal produzidos durante um exame toxicológico.

Entre o total de pessoas que se mataram, 780 passaram pelo exame de perícia e 44% tiveram resultados positivos para substâncias psicoativas. Desses, 72% para o uso exclusivo de álcool e 22% para outras drogas associadas além da bebida alcoólica — em especial a cocaína (56%). 

As vítimas que usaram álcool antes de morrer por suicídio apresentaram uma dose média de 1,49 g da substância por litro de sangue. Aquelas que mudaram seu comportamento antes de se matarem eram mais propensas a ter uma maior concentração sanguínea de álcool, segundo os pesquisadores.

Pessoas com tentativa anterior de suicídio tiveram menor chance de ingerir bebida alcoólica ou outras drogas antes de cometerem o ato. Além do mais, a maioria dos suicidas era homem (84%), o que reflete uma já antiga predominância do sexo masculino nesses casos também no restante do país.

Gráfico mostra população do Distrito Federal entre 2004 – 2018 (vermelho) e taxa de suicídio de indivíduos que usaram substâncias psicoativas (azul) (Foto: Juliano de Andrade Gomes et.al )

Gráfico mostra população do Distrito Federal entre 2004 – 2018 (vermelho) e taxa de suicídio de indivíduos que usaram substâncias psicoativas (azul) (Foto: Juliano de Andrade Gomes et.al )

Para se ter uma ideia, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil foi de 6,13 por 100 mil pessoas em 2016, sendo 9,8 para homens e 2,5 para mulheres. E os dados correm em tendência: segundo estatística de 2019 do Ministério da Saúde, homens apresentaram um risco 3,8 vezes maior de morte por essa causa do que mulheres naquele mesmo ano. 

A pesquisa revelou ainda que a probabilidade de uma pessoa usar álcool e outras drogas e se matar no final de semana foi 1,6 vezes maior do que em dias de semana. Em casa, a chance foi estimada como 2,8 vezes maior do que em qualquer outro lugar. Os grupos mais vulneráveis ​​eram comerciantes e profissionais liberais (29%) e desempregados (28%).






Os autores do estudo alertam que a taxa de suicídio entre pessoas que usaram substâncias psicoativas está crescendo aproximadamente 10 vezes mais do que a população do Distrito Federal. Eles dizem que a associação entre o uso das drogas e as ocorrências pode ser explicada pelos efeitos de algumas delas, que “podem desencadear comportamentos impulsivos potencialmente letais”.

“O uso de substâncias psicoativas e transtornos mentais estão fortemente associados a uma tentativa de suicídio fatal”, escreveram os pesquisadores. “No entanto, esses dados por si só não são capazes de prevenir a ocorrência de tantas mortes a cada ano”.

*O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Para mais informações disque 188 ou acesse o site do CVV.