• Redação Galileu
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A longo prazo, uma vacina universal contra a gripe dispensaria a elaboração e administração anual de novos imunizantes – como acontece hoje (Foto:  Mufid Majnun/Unplash)

A longo prazo, uma vacina universal contra a gripe dispensaria a elaboração e administração anual de novos imunizantes – como acontece hoje (Foto: Mufid Majnun/Unplash)

A descoberta de novos anticorpos por pesquisadores da Scripps Research, da Universidade de Chicago e da Icahn School of Medicine, todas nos Estados Unidos, pode auxiliar na criação de uma vacina universal contra a gripe. O imunizante seria resistente às mutações do vírus e, por isso, não precisaria ser reaplicado todos os anos. O estudo foi publicado na Nature em 23 de dezembro.

O que torna as vacinas existentes suscetíveis às mutações dos vírus da gripe – dos grupos H1, H2 e H5 –  é que os anticorpos induzidos por elas normalmente atacam uma parte do vírus em constante mutação, a “cabeça” da hemaglutinina (HA). Essa estrutura, parecida com a proteína spike do coronavírus, modifica-se com muita frequência e por isso são necessárias novas vacinas.

A descoberta publicada na Nature indica uma maneira de driblar essas mutações, atacando o “calcanhar de Aquiles” de todas as cepas da influenza. A partir das amostras de 21 voluntários que já haviam se vacinado contra a gripe ou contraído o vírus, os cientistas identificaram 358 anticorpos diferentes que combatiam o causador da doença.

Muitos deles já eram conhecidos pela ciência, mas um novo grupo chamou a atenção. São anticorpos que não miram na cabeça, mas na base da hemaglutinina. Os autores do estudo chamaram essa região menos mutável de “âncora”. Ao todo, foi possível identificar 50 tipos de anticorpos que atacavam a âncora da HA em diferentes cepas do vírus da gripe H1, o que confirmou a resistência deles às mutações. Testes de laboratórios também confirmaram que esses anticorpos reconheciam cepas dos vírus da gripe H2 e H5.

Segundo os pesquisadores, as amostras desse grupo de voluntários demonstra que o corpo humano já tem a capacidade de produzir anticorpos que miram na região da “âncora”. O desafio daqui para frente será desenvolver uma vacina que incite uma produção ainda maior deles.

“É apenas uma questão de aplicar métodos modernos de engenharia de proteínas para fazer uma vacina que pode induzir esses anticorpos em número suficiente”, afirma em nota Jenna Guthmiller, pós-doutoranda na Universidade de Chicago e uma das autoras do estudo.

A descoberta desses novos anticorpos criam condições para o desenvolvimento de uma vacina universal contra a gripe, resistente a mutações do vírus e que não precisaria de reaplicações constantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os diferentes tipos de influenza afetam gravemente cerca de 3,5 milhões de pessoas no mundo todos os anos. Neste momento, o Brasil atravessa em paralelo à pandemia da Covid-19 um surto da gripe H2N3.