• Redação Galileu
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Asteroide Ryugu contém aminoácidos que podem ter possibilitado surgimento da vida (Foto: Eizo Nakamura et.al )

Asteroide Ryugu contém aminoácidos que podem ter possibilitado surgimento da vida (Foto: Eizo Nakamura et.al )

Amostras retiradas do asteroide 162173 Ryugu pela sonda espacial japonesa Hayabusa2 demonstraram conter indícios de água e aminoácidos, componentes básicos da vida na Terra. A detecção surpreendente foi divulgada nesta quinta-feira (9) no jornal Proceedings of the Japan Academy.






A coleta de 5,4 gramas do asteroide chegou à Terra em dezembro de 2020 e foi estudada em instalações da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA), em Sagamihara. Uma análise geoquímica do material aconteceu então em junho de 2021, em uma segunda etapa de estudo, conduzida pelo Pheasant Memorial Laboratory (PML) e pelo Institute for Planetary Materials, da Universidade de Okayama.

Partículas das amostras revelaram em seu interior texturas indicativas de processos de congelamento-descongelamento, além de uma massa de grãos finos de vários minerais e outra com grãos mais grossos.

Entre os minerais, havia filossilicatos (um tipo de argila), que se formaram durante reações químicas entre silicatados não hidratados e água líquida. Ao analisarem manganês e cromo em minérios de magnetita (óxido de ferro) e dolomita (carbonato de cálcio-magnésio), os cientistas concluíram que a alteração aquosa ocorreu cerca de 2,6 milhões de anos após a formação do Sistema Solar. 

Asteroide Ryugu pode conter matéria orgânica e pequenas quantidades de água (Foto: Eizo Nakamura et.al )

Asteroide Ryugu pode conter matéria orgânica e pequenas quantidades de água (Foto: Eizo Nakamura et.al )

Isso sugere que os materiais de Ryugu tinham líquido muito cedo na história do nosso sistema. O calor que derreteu a água congelada teria surgido de elementos radioativos que sobrevivem apenas por um tempo relativamente curto. Após muitos desses elementos decaírem, o corpo do asteroide esfriava e depois congelava de novo.

Isótopos de cromo, cálcio e oxigênio indicaram ainda que Ryugu preservou materiais de uma nebulosa protosolar em volta do que depois se tornaria o Sol. Por outro lado, materiais orgânicos revelaram indícios de sua formação no meio interestelar, que fica entre as estrelas.

Isso sugere que o asteroide já era aquoso fora do Sistema Solar. Porém, para formar água líquida, era necessário que Ryugu tivesse centenas de quilômetros de tamanho. Como o objeto tem menos de 1 km em diâmetro, os cientistas acreditam que ele era parte de um corpo muito maior, chamado planetesimal. 

Planetesimais são possíveis fontes de cometas, então um desses cometas teria surgido. Segundo os pesquisadores japoneses, o fragmento se moveu então para dentro do Sistema Solar, passando de gelo para gás. Essa mudança pode ter originado o formato de “pião” de Ryugu, além de jatos de vapor d'água.






Após esse processo, o objeto se tornou finalmente rochoso e os mecanismos relacionados à água cessaram. Depois, a superfície da pedra foi bombardeada por partículas energéticas do vento solar e raios cósmicos do Sol e de estrelas distantes. Isso mudou sua superfície, fazendo com que a estrutura da matéria orgânica se alterasse.

Apesar dessa jornada estar melhor compreendida, a grande curiosidade do asteroide ainda são seus aminoácidos, já que a rocha espacial nunca foi exposta à biosfera da Terra, como os meteoritos. 

Em comunicado, a equipe considera que esses achados já começaram a mudar a compreensão dos eventos que ocorreram desde antes do Sistema Solar até os dias atuais. "O trabalho futuro nas amostras de Ryugu, sem dúvida, continuará a avançar nosso conhecimento do Sistema Solar e além", escrevem os cientistas.