• Luiza Monteiro
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Duilia de Mello é astrofísica, colunista da GALILEU e está à frente de um projeto com astrônomos amadores para fotografar resquícios da colisão de galáxias (Foto: Reprodução/www.alumni.usp.br/)

Duilia de Mello é astrofísica, colunista da GALILEU e está à frente de um projeto com astrônomos amadores para fotografar resquícios da colisão de galáxias (Foto: Reprodução/www.alumni.usp.br/)

A ideia de que cientistas são seres que trabalham isolados em um laboratório está, cada vez mais, caindo por terra. Não só pelo interesse público em torno dos estudos científicos, mas também pela possibilidade de que pesquisadores trabalhem junto com pessoas interessadas no tema, mas que não tenham a formação acadêmica necessária. É o que está fazendo a astrônoma Duilia de Mello, professora e vice-reitora de Estratégias Globais da Universidade Católica da América, nos Estados Unidos, e pesquisadora colaboradora do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa.

A renomada cientista brasileira — que tem no extenso currículo a autoria da descoberta da supernova SN1997D, das bolhas azuis (“orfanatos” de estrelas fora das galáxias) e do tamanho real da galáxia espiral NCG 6872 — apresenta nesta quinta-feira (14), no 237º Encontro de Janeiro da Sociedade Astronômica Americana, sua mais nova empreitada.

Ela se uniu a cinco astrônomos amadores para fazer Imagens Profundas de Fusões (Deep Images of Mergers, ou DIM, em inglês), que analisam resquícios de galáxias antigas que sofreram colisões entre si. Junto a Marcelo Wagner Silva, funcionário público; Cristóvão Jacques Lage de Faria, engenheiro e empresário; João Antônio Mattei, engenheiro e CEO de uma empresa de construção civil; Eduardo de Jesus Oliveira, professor de ciências farmacêuticas na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri; e Sérgio José Gonçalves da Silva, engenheiro de telecomunicações, Duilia está investigando algo que já é parte de sua pesquisa: galáxias que, ao final de sua evolução, colidiram com outras galáxias. 

Imagem profunda da galáxia Centaurus A feita com equipamentos e técnicas por astrônomos amadores (Foto: DIM team)

Gif mostra galáxia Centaurus A registrada em Imagem Profunda de Fusão (DIM). Em amarelo, as conchas identificadas em estudo publicado em 1983 no periódico 
Astrophysical Journal; em vermelho, as novas conchas vistas pela equipe de astrônomos amadores e Duilia de Mello (Foto: DIM team)

Utilizando equipamentos pessoais (telescópios e câmeras) dos astrônomos amadores, a equipe registrou por 41 horas a galáxia Centaurus A, por 10 horas a galáxia Arp 230 e ainda pretende analisar a NGC 1052. A ideia é fotografar especificamente as conchas e ondulações que se formam ao redor de galáxias após colisões e investigar se elas têm alguma relação com o gás hidrogênio que se espalha do lado de fora de galáxias que colidiram.

“Os amadores têm seus próprios telescópios à disposição. Não precisamos enviar projetos para observar e não temos limite do tempo que queremos observar”, pontua de Mello a GALILEU, da qual também é colunista, junto às astrônomas Geisa Ponte e Ana Posses. “Além disso, como estamos procurando por estruturas bem delicadas e fracas, os amadores conhecem bem as técnicas para realçar essas estruturas porque são excelentes astrofotógrafos”, ressalta a astrofísica.

Conchas da galáxia Arp 230, em registro feito ao longo de 10 horas pela equipe (Foto: DIM team)

Conchas da galáxia Arp 230, em registro feito ao longo de 10 horas pela equipe (Foto: DIM team)

O papel de Duilia é assegurar que tudo seja feito com o rigor científico necessário para que, ao formar as imagens, não sejam “criadas” estruturas que não existem. “O [astrônomo] profissional precisa entender que será necessário adaptar o projeto para que os amadores participem. Por exemplo, eu sei que não poderemos fazer medidas rigorosas das conchas, mas não precisamos de medidas rigorosas nesse estágio do projeto. O que queremos é a identificação das conchas, depois de identificadas podemos fazer as medidas novamente com os telescópios profissionais”, explica.

Para garantir a acurácia das imagens, de Mello selecionou a galáxia Centaurus A como a prova de conceito. Situada a 13 milhões de anos-luz de distância, ela é brilhante e bem visível do Brasil, e conhecida por ter conchas e gás hidrogênio ao seu redor. Nas imagens feitas pela equipe, foi possível observar as conchas distantes do centro da galáxia. Eles também conseguiram registrar conchas na galáxia Arp 230 tão distantes quanto as que foram vistas com o telescópio Hubble

Equipe de astrônomos amadores que trabalham com Duilia de Mello no projeto (Foto: Reprodução)

Equipe de astrônomos amadores que trabalham com Duilia de Mello no projeto (Foto: Reprodução)

“Em imagens profundas feitas com esses telescópios relativamente pequenos, podemos enxergar um grande campo de visão e expandir nossa pesquisa para conchas em maiores distâncias”, escreve Duilia no resumo da pesquisa. O próximo passo, segundo a cientista, é crescer a equipe de astrônomos amadores para aumentar ainda mais o número de observações. Os novos integrantes serão selecionados de acordo com o tipo de equipamento que possuem.