• Redação Galileu
Atualizado em
Hubble identifica exoplaneta que se comporta como o procurado Planeta Nove (Foto: ESA/Hubble, M. Kornmesser)

Hubble identifica exoplaneta que se comporta como o procurado Planeta Nove (Foto: ESA/Hubble, M. Kornmesser)

Em 2013, observações realizadas com os Telescópios Magalhães no Observatório Las Campanas, no deserto do Atacama, no Chile, revelaram o exoplaneta HD106906 b. Na ocasião, os astrônomos descobriram muito pouco sobre o corpo celeste, situado a 336 anos-luz da Terra. Agora, graças ao Telescópio Espacial Hubble, alguns dos mistérios acerca do astro começaram a ser revelados.

Em um artigo publicado nesta quinta-feira (10) no The Astronomical Journal, cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e do Observatório Europeu do Sul, no Chile, sugerem que o corpo celeste possa ser o famoso "Planeta Nove". O tal astro, que é uma hipótese antiga, seria um planeta com cerca de dez vezes a massa da Terra que teria uma órbita externa ao Sistema Solar exterior e explicaria as órbitas peculiares de alguns objetos transnetunianos no Cinturão de Kuiper

"Apesar da falta de detecção do Planeta Nove até o momento, a órbita do planeta pode ser inferida com base em seu efeito sobre os vários objetos no Sistema Solar externo”, explicou Robert De Rosa, um dos cientistas, em declaração. "Isso sugere que, se um planeta for de fato responsável pelo que observamos nas órbitas dos objetos transnetunianos, ele deveria ter uma órbita excêntrica inclinada em relação ao plano do Sistema Solar — e essa previsão é semelhante ao que observamos em HD 106906b."

As novas análises revelaram que o exoplaneta reside extremamente longe de seu par de estrelas jovens e brilhantes: uma distância que equivale a mais de 730 vezes a da Terra ao Sol. Essa enorme distância, por sua vez, diminui a força gravitacional exercida em HD 106906b, levando-o a se movimentar muito lentamente e a ter uma órbita de 15 mil anos.

As medições também revelaram que a órbita de HD 106906b é muito inclinada, alongada e externa a um disco de detritos empoeirados que circunda as estrelas gêmeas do exoplaneta. "Para destacar por que [a órbita] é estranha, podemos apenas olhar para nosso próprio Sistema Solar e ver que todos os planetas estão aproximadamente no mesmo plano”, explicou Meiji Nguyen, líder do estudo. "Seria bizarro se, digamos, Júpiter tivesse uma inclinação de 30 graus em relação ao plano em que todos os outros planetas orbitam. Isso levanta todos os tipos de questões sobre como HD 106906 b acabou tão longe em uma órbita tão inclinada."

Os pesquisadores têm uma teoria sobre a peculiar órbita do corpo celeste. Segundo eles, o planeta teria se formado muito mais perto de suas estrelas, cerca de três vezes a distância que a Terra está do Sol, mas a movimentação dentro do disco de gás do sistema teria feito com que a órbita do planeta decaísse, forçando-o a migrar para dentro, em direção a seus hospedeiros estelares.

No meio do processo, entretanto, as forças gravitacionais das estrelas teriam "chutado" o exoplaneta para uma órbita excêntrica, expulsando-o do sistema. HD 106906 b teria sido levado ao vazio do espaço interestelar, não fosse uma estrela que, passando muito perto do sistema, teria estabilizado a órbita do astro, impedindo-o de deixar seu sistema inicial.

O complicado cenário teorizado pelos cientistas, por sua vez, é bem semelhante com uma das hipóteses acerca da criação do Planeta Nove. De acordo com a ideia, o exoplaneta teria se formado no Sistema Solar interno, mas teria sido expulso do sistema por interações com Júpiter, e, então, outras estrelas teriam estabilizado sua órbita do Planeta Nove.

“É como se tivéssemos uma máquina do tempo para nosso próprio Sistema Solar, voltando 4,6 bilhões de anos para ver o que pode ter acontecido quando nosso jovem Sistema Solar estava dinamicamente ativo e tudo estava sendo empurrado e reorganizado”, comentou o coautor Paul Kalas.

A equipe ressalta, contudo, que muitas investigações são necessárias antes que os cientistas possam tirar qualquer conclusão. "Ainda há muitas questões em aberto sobre este sistema", acrescentou De Rosa. "Por exemplo, não sabemos de forma conclusiva onde ou como o planeta se formou. Embora tenhamos feito a primeira medição do movimento orbital, ainda existem grandes incertezas sobre os vários parâmetros orbitais. É provável que tanto observadores quanto teóricos estudem HD 106906 por muitos anos, desvendando os muitos mistérios deste notável sistema planetário."