• Redação Galileu
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Representação artística de um magnetar em explosão, mostrando o complexo campo magnético e emissão (Foto: McGill University Graphic Design Team)

Representação artística de um magnetar em explosão, mostrando o complexo campo magnético e emissão (Foto: McGill University Graphic Design Team)

Em um estudo publicado nesta quarta-feira (4) na revista Nature, pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá anunciam a descoberta inédita de rajadas rápidas de rádio na nossa galáxia. Os sinais energéticos detectados são os mais próximos até hoje e, por isso, os especialistas conseguiram apontar sua origem: um magnetar, tipo de estrela de nêutrons com poderoso campo magnético


Desde 2007, quando rajadas rápidas de rádio foram identificadas pela primeira vez, os astrônomos observaram esses fenômenos diversas vezes pelo Universo. Mas, por serem tão distantes, sua origem sempre foi desconhecida. “Há esse grande mistério sobre o que poderia produzir essas explosões de energia”, disse Kiyoshi Masui, professor assistente de física do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em comunicado. “Essa é a primeira vez que conseguimos juntar uma dessas exóticas rajadas rápidas de raio com um único objeto astrofísico.”

Para detectar as rajadas (também conhecidas pela sigla FRB em inglês), os astrônomos usaram o radiotelescópio CHIME, que ficam em um observatório no estado de British Columbia, no Canadá. O aparelho monitora constantemente o céu em busca de ondas de rádio.

No fim de abril de 2020, os especialistas observaram, com o CHIME, a atividade vinda de um magnetar na Via Láctea, em direção ao centro da galáxia, a aproximadamente 30 mil anos-luz da Terra. O objeto foi batizado pelo cientistas como SGR 1935+2154, suas coordenadas no espaço.

Logo após a explosão detectada no magnetar, o CHIME registrou, com diferença de milissegundos, dois eventos de rajadas rápidas de rádio. Esses sinais vieram de uma localização muito próxima ao SGR 1935+2154, indicando que ele teria sido a fonte. “Se tivesse vindo de qualquer outro objeto perto do magnetar, teria sido uma grande coincidência”, comenta Masui.


Análises posteriores revelaram que o magnetar é 3 mil vezes mais brilhante do que qualquer outra estrela de nêutrons do tipo que já foi observada emitindo sinais de rádio.

Mas como isso acontece?

Essa é a pergunta que os astrônomos se fazem agora, porque ainda não se sabe ao certo como as FRB são geradas e, especificamente, de que maneira os magnetares as produzem.

A maior parte das emissões de rádio no espaço são produzidas por um processo conhecido como radiação síncrotron, em que um gás de elétrons de alta energia interage aleatoriamente com um campo magnético, de forma que emitem energia em frequências de rádio. Geralmente isso acontece em buracos negros supermassivos, remanescentres de supernovas e gases quentes parados em galáxias.

Mas a suspeita é de que os magnetares emitam essas rajadas por um processo diferente: em vez de interagir de forma aleatória com um campo magnético, os elétrons o fariam em massa. Segundo os autores do estudo, seria como ocorre aqui na Terra, em que ondas de rádio são direcionadas por meio de um fio em uma mesma direção. “A mecânica de como isso acontece astrofisicamente, em magnetares e pulsares, não é bem entendida”, justifica Masui.


Agora, a equipe vai unir esses achados aos de outras detecções recentes do tipo para tentar compreender a origem desses sinais misteriosos. “Estamos com nossos olhos abertos para outros magnetares, mas a grande questão é estudar essa única fonte e esmiuçar o que ela nos diz sobre como as FRBs são feitas”, afirma o professor do MIT.