• Redação Galileu
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Espaguetificação: astrônomos veem estrela sendo devorada por buraco negro (Foto: ESO/M. Kornmesser)

Espaguetificação: astrônomos veem estrela sendo devorada por buraco negro. Acima: Concepção artística de uma estrela sendo desfeita por forças de maré exercidas por um buraco negro supermassivo (Foto: ESO/M. Kornmesser)

Utilizando dados do Observatório Europeu do Sul (ESO), uma equipe internacional de astrônomos analisou um acontecimento raro: a explosão de uma estrela sendo dilacerada por um buraco negro supermassivo. Um estudo sobre o fenômeno, conhecido por evento de ruptura de marés, foi compartilhado nesta segunda-feira (9) no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Os cientistas explicam que fenômenos como o observado são chamados de "espaguetificação" e são bem difíceis de estudar. A nova detecção é a mais próxima da Terra registrada até hoje, a pouco mais de 215 milhões de anos-luz de distância. "A ideia de que um buraco negro 'suga' uma estrela próxima parece saída da ficção científica", afirmou Matt Nicholl, líder do estudo e professor e pesquisador da Royal Astronomical Society na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, em declaração à imprensa. "Mas é exatamente o que acontece num evento de ruptura de marés."

Localização de AT2019qiz na constelação de Eridano (Foto: ESO, IAU and Sky & Telescope)

Localização de AT2019qiz na constelação de Eridano (Foto: ESO, IAU and Sky & Telescope)

Por conta da extrema atração gravitacional, quando uma estrela se aproxima demais de um buraco negro supermassivo no centro de uma galáxia, ela se desfaz em finas correntes de matéria. Esses finos filamentos, então, caem no buraco negro durante o processo de espaguetificação, causando um arroubo de energia extremamente luminoso que pode ser detectado pelos astrônomos.

Embora o clarão tenha sido particularmente brilhante e forte, os cientistas tiveram dificuldades para avaliar o evento por conta de uma nuvem de poeira e restos de matéria presentes ao redor do local do evento. "Descobrimos que, quando um buraco negro devora uma estrela, [o fenômeno] pode lançar uma parcela de matéria para o exterior, obstruindo a sua visualização", explicou Samantha Oates, que também participou da pesquisa.

Os astrônomos estimam que a estrela tinha aproximadamente a mesma massa que o nosso Sol, perdendo cerca de metade dela para o buraco negro gigante — que, por sua vez, tem mais de um milhão de vezes a massa da estrela. Segundo a equipe, a observação do evento, batizado de AT2019qiz, foi possível porque o estudo foi realizado pouco tempo depois da espaguetificação da estrela.

"Como apanhamos o evento cedo, pudemos ver a cortina de poeira e detritos sendo criada à medida que o buraco negro lançava uma poderosa corrente de matéria com velocidades de até 10 mil quilômetros por segundo para o exterior", indicou a coautora Kate Alexander, bolsista Einstein da Nasa na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos. "Essa única 'espiada atrás da cortina' nos proporcionou a primeira oportunidade de localizar a origem do material ocultante e acompanhar em tempo real como era engolfado pelo buraco negro."

A equipe relata que uma observação do tipo nunca foi feita e espera que a pesquisa ajude na compreensão de como a matéria se comporta em ambientes de extrema gravidade. Mais que isso, os astrônomos acreditam que o AT2019qiz pode até ser uma "pedra de Roseta" para interpretar futuras observações de eventos de ruptura de marés.

Assista abaixo uma animação que simula o que acontece durante esse fenômeno: