• Redação Galileu
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Como o calor de 400ºC ajuda Mercúrio a produzir o próprio gelo. Acima, um dos polos do planeta onde há gelo (Foto: NASA)

Como o calor de 400ºC ajuda Mercúrio a produzir o próprio gelo. Acima, um dos polos do planeta onde há gelo (Foto: NASA)

Como se já não fosse difícil acreditar que existe gelo em Mercúrio, onde as temperaturas diurnas atingem 400ºC, um novo artigo publicado no Astrophysical Journal Letters defende que é exatamente esse calor o responsável pela existência de gelo no planeta.

Isso porque, como na Terra, os asteroides levaram a maior parte da água existente em Mercúrio para lá. Entretanto, os especialistas acreditam que as altas temperaturas, combinadas com o frio de 200ºC negativos que atinge as crateras polares do planeta, formam uma espécie de "laboratório químico".

"Isso não é uma ideia estranha, fora do campo da [astronomia]. O mecanismo químico básico foi observado dezenas de vezes em estudos desde o final dos anos 1960", disse Brant Jones, um dos pesquisadores, em comunicado. "Mas isso foi em superfícies bem definidas. A aplicação dessa química em superfícies complicadas, como as de um planeta, é uma pesquisa inovadora." 

Como explicam os cientistas, minerais no solo superficial de Mercúrio contêm as chamadas hidroxilas (OH), que são formadas principalmente por prótons. O calor extremo ajuda a liberar essas subsâncias da superfície, que acabam energizadas, e colidem, produzindo moléculas de água e hidrogênio que flutuam pelo planeta.

Então, embora algumas moléculas de água sejam quebradas pela luz do Sol ou se distanciem muito da superfície, outras delas caem perto dos polos gelados de Mercúrio, em locais que ficam permanentemente protegidos do calor. "A quantidade total que postulamos que se tornaria gelo é de 10^13 kg (10.000.000.000.000 kg) durante um período de cerca de 3 milhões de anos", explicou Jones. "O processo pode ser facilmente responsável por até 10% do gelo total de Mercúrio."

Mercúrio (Foto: nasa)

Mercúrio (Foto: NASA)

Um fato que corrobora para a teoria é que os prótons derivados dos ventos solares são mais abundantes em Mercúrio do que na Terra, onde nosso poderoso campo magnético forma uma barreira e impede a entrada dessas partículas. O campo do planeta equivale a apenas 1% do daqui, o que permite que prótons e outras partículas cheguem facilmente à superfície.

De acordo com os cientistas, os prótons enviados pelo Sol se implantam no solo de Mercúrio a em todo o planeta, permitindo a formação de hidroxilas. "São como grandes tornados magnéticos. Causam imensas migrações de prótons na maior parte da superfície de Mercúrio ao longo do tempo", disse Thomas Orlando, que também participou da pesquisa.

Ainda assim, os estudiosos acreditam que a maior parte da água em Mercúrio seja proveniente da queda de asteroides. "Um cometa ou asteroide, na verdade, não precisa transportar água, pois a colisão sozinha com um planeta ou lua também pode produzir água", explicou Orlando. "Tanto Mercúrio quanto a Lua estão sempre sendo atingidos por pequenos meteoróides, então isso acontece o tempo todo."