• Redação Galileu
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Um novo estudo sugere que as vespas atualmente chamadas Ormyrus labotus são, na verdade, pelo menos 16 espécies diferentes (Foto: Reprodução/Entomological Society of America)

Um novo estudo sugere que as vespas atualmente chamadas Ormyrus labotus são, na verdade, pelo menos 16 espécies diferentes (Foto: Reprodução/Entomological Society of America)

Uma ideia comum entre biólogos é a de que a maioria das espécies de plantas e animais permanece desconhecida. Acredita-se que muitas estejam em áreas remotas, e outras podem simplesmente ainda não terem sido identificadas. É o caso da Ormyrus labotus, uma pequena vespa parasitoide conhecida pela ciência desde 1843.

Há muito tempo o inseto é considerado um generalista, isto é, que consegue sobreviver em diversas condições ambientais e fazer uso de diferentes recursos. Esse tipo de vespa põe seus ovos em mais de 65 espécies de outros insetos. No entanto, um estudo publicado nesta quarta-feira (16) no periódico Insect Sytematics and Diversity sugere que, na verdade, as vespas atualmente chamadas de Ormyrus labotus são, na verdade, pelo menos 16 espécies diferentes – idênticas na aparência, mas geneticamente distintas.

Com o avanço das técnicas genéticas, não é incomum descobrir espécies “crípticas” (que podem ser morfologicamente indistinguíveis) dentro de uma espécie de inseto conhecida. Mas o número daquelas encontradas dentro de Ormyrus labotus sublinha a importância de se buscar a “diversidade oculta” do mundo, segundo Andrew Forbes, professor associado de biologia da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, e autor sênior do estudo.

Ele explica que descobrir sobre essa diversidade oculta – e, mais importante, entender a biologia de cada espécie – se torna um componente crítico da conservação e manutenção da saúde do ecossistema. “Sabemos sobre o quão importante mesmo as menores espécies podem ser para um ecossistema”, afirma Forbes, em comunicado.

Insetos intrigantes que emergem de galhas de carvalho

As vespas parasitoides depositam seus ovos em outros insetos e artrópodes, e geralmente se especializam em parasitar um pequeno número de espécies hospedeiras. Enquanto isso, uma grande variedade de insetos põe seus ovos em plantas onde suas larvas eclodem e então induzem a planta a formar uma estrutura protetora chamada “galha” ao redor das larvas. As vespas do gênero Ormyrus parasitam esses insetos formadores de galhas.

Para um projeto de pesquisa realizado entre 2015 e 2019, Sofia Sheikh e Anna Ward, na época estudantes de pós-graduação no laboratório de Forbes, coletaram galhas formadas em carvalhos e observaram os insetos que surgiram.

Elas notaram que as vespas emergindo de uma grande diversidade de tipos de galhas combinavam com a descrição de Ormyrus labotus, e isso fez os pesquisadores se questionarem. “Parecia altamente incomum para uma espécie de parasitoide ser capaz de explorar um conjunto tão amplo e dinâmico de hospedeiros”, diz Sheikh, agora estudante de doutorado na Universidade de Chicago, também nos EUA.

Para testar se as vespas coletadas eram realmente uma espécie ou um bando de "sósias", Sheikh, Ward e Forbes extraíram amostras de DNA de cada um dos espécimes que emergiram das galhas de carvalho e analisaram o grau de variação genética entre eles.

Em seguida, combinaram essa análise genética com dados sobre os atributos físicos e fatores ecológicos das vespas – por exemplo, de que tipo de galhas de carvalho elas surgiram e em que época do ano isso aconteceu – para colocar as vespas em grupos de espécies provavelmente separadas.

Como resultado final, descobriram que as vespas coletadas que originalmente pareciam ser Ormyrus labotus compreendem pelo menos 16 espécies distintas, possivelmente até 18.

Caça a novas espécies crípticas

A equipe identificou vários outros estudos que descobriram espécies enigmáticas dentro de supostas espécies generalistas, mas nenhum que encontrou tantas ao mesmo tempo. E é possível que espécies mais distintas, que de outra forma corresponderiam a O. labotus, ainda sejam encontradas, dizem os pesquisadores. Isso porque a coleção original de espécimes de galhas de carvalho que Sheikh e Ward reuniram não foi projetada para abranger todos os hospedeiros conhecidos de O. labotus.

Por enquanto, Ormyrus labotus continuará sendo um “complexo de espécies”, com essas espécies recém-delineadas conhecidas, mas ainda não formalmente descritas e nomeadas. Forbes afirmou que seu laboratório “só brinca” com taxonomia formal, mas todos os espécimes do estudo foram preservados e estão disponíveis para outros pesquisadores que queiram realizar uma revisão taxonômica do gênero Ormyrus. “Se alguém quiser dar um nome a essas espécies de Ormyrus, estamos prontos para ajudar no que pudermos”, dizo pesquisador.

Para Sheikh, mais do que qualquer número específico de novas espécies em potencial, é importante a forma como esse estudo e muitos outros estão revelando uma infinidade de diversidade enigmática. “Isso, para mim, sugere que ainda temos muito a aprender sobre os processos que estruturam as interações das espécies entre si e seus ambientes.”