• Redação Galileu
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O peixe Liparis gibbus fotografado sob luz branca (parte superior) e sob condições de iluminação fluorescente (parte inferior) (Foto: Divulgação/J. Sparks, D. Gruber, P. Kragh/American Museum Of Natural History )

O peixe Liparis gibbus fotografado sob luz branca (parte superior) e sob condições de iluminação fluorescente (parte inferior) (Foto: Divulgação/J. Sparks, D. Gruber, P. Kragh/American Museum Of Natural History )

Após passarem horas mergulhando nas águas geladas da Groenlândia, uma dupla de cientistas do Museu Americano de História Natural, nos Estados Unidos, flagrou, pela primeira vez, o fenômeno da biofluorescência em uma espécie de peixe no Ártico.

A pesquisa, publicada nesta sexta-feira (19), no acervo do museu, American Museum Novitates, descreve dois exemplares de peixe-caracol (Liparis gibbus) capazes de absorver certos comprimentos de onda de luz e refleti-los de volta com uma cor diferente. No caso, as criaturas incomuns reluzem em não apenas uma, mas duas cores: vermelho e verde.






"No geral, descobrimos que a biofluorescência marinha é bastante rara no Ártico, tanto em linhagens de invertebrados quanto de vertebrados", conta em comunicado um dos autores do estudo, John Sparks, curador do Departamento de Ictiologia do Museu Americano de História Natural.

Sparks e seu colega, David Gruber, professor de biologia na Baruch College, na cidade de Nova York, queriam desvendar informações inéditas sobre biofluorescência. Já se sabia que a habilidade, também presente em peixes tropicais, podia servir para criar padrões de comunicação e atrair parceiros de acasalamento em algumas espécies.

Porém, os pesquisadores ficaram intrigados ao descobrirem como viviam os peixes do Ártico, que, diferentemente dos tropicais, habitam locais com períodos longos de escuridão. Em especial, a chave da questão era entender como o ambiente escuro podia afetar a biofluorescência desses animais.

"O regime de luz nos polos prevê os meses de inverno de escuridão quase total, onde a biofluorescência não seria funcional", aponta Gruber. "Mas, dados os meses de verão com o Sol da meia-noite, formulamos a hipótese de que ele [esse fenômeno] poderia estar presente."

Os pesquisadores mergulharam durante a expedição para descobrir a fluorescência no peixe-caracol (Liparis gibbus) (Foto: Reprodução/Youtube/American Museum of Natural History)

Os pesquisadores mergulharam durante a expedição para descobrir a fluorescência no peixe-caracol (Liparis gibbus) (Foto: Reprodução/Youtube/American Museum of Natural History)

Ávidos por desvendarem o mistério que cercava os peixes do Ártico, os pesquisadores embarcaram, em 2019, na Expedição Constantine. S. Niarchos, na qual inicialmente exploraram icebergs na costa ocidental da Groenlândia.

Após se depararem com os fascinantes Liparis gibbus, a dupla também detectou biofluorescência vermelha em um caracol de algas (L. tunicatus), coletado no Estreito de Bering, na Ilha Little Diomede, no Alasca.

A habilidade de bioflurescência, que consiste na capacidade de absorver e refletir determinada cor, dando a ilusão de um “brilho colorido”, não pode ser confundida com bioluminescência. A última significa que o animal é capaz de emitir luz por si próprio, normalmente através de algum tipo de química interna.

Sparks e Gruber já tinham identificado mais de 180 novas espécies de peixes com biofluorescência, mas pretendem ampliar ainda mais os estudos. "Estamos concentrando nossos esforços em vários grupos de peixes, incluindo tubarões-gatos, onde mostramos que a biofluorescência verde brilhante aumenta o contraste em seu padrão de pigmentação, tornando mais fácil para os indivíduos verem uns aos outros em profundidade", explica Sparks.