Biologia
Nova espécie de louva-a-deus da Mata Atlântica homenageia Museu Nacional
Com apoio da National Geographic Society, biólogos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro descreveram espécie que fazia parte do acervo de insetos da instituição
3 min de leitura![Vates phoenix é a mais nova espécie de louva-a-deus brasileira. Acima: montagem de fotos com fêmea de Vates phoenix (Foto: Lucas Fiat/Projeto Mantis) Vates phoenix é a mais nova espécie de louva-a-deus brasileira. Acima: montagem de fotos com fêmea de Vates phoenix (Foto: Lucas Fiat)](https://cdn.statically.io/img/s2.glbimg.com/MGyCsQcVyBBsMwZxos2tK4UrUNw=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2020/03/02/vatesphoenix_dupla_9Z3h4pS.jpg)
Vates phoenix é a mais nova espécie de louva-a-deus brasileira. Acima: montagem de fotos com fêmea de Vates phoenix (Foto: Lucas Fiat/Projeto Mantis)
Entre as mais de 900 espécies de louva-a-deus que faziam parte do acervo do Museu Nacional, um pequeno espécime não identificado chamou a atenção dos biólogos Leonardo Lanna e João Felipe Herculano. Membros do Projeto Mantis, que busca estudar e divulgar espécies do inseto encontradas na Mata Atlântica, os pesquisadores perceberam que aquele animal com cerca de 6 centímetros, asas verdes e uma bela cabeça em forma de coroa era uma espécie completamente nova.
Em artigo publicado recentemente no European Journal of Taxonomy, os pesquisadores descreveram pela primeira vez o Vates phoenix, que agora faz parte do leque de 250 espécies de louva-a-deus registradas no Brasil, o país com a maior diversidade de espécies do inseto.
Renascendo das cinzas
![Macho de Vates phoenix e suas asas translúcidas (Foto: Lucas Fiat/Projeto Mantis) Macho de Vates phoenix e suas asas translúcidas (Foto: Lucas Fiat)](https://cdn.statically.io/img/s2.glbimg.com/xLfZAwca7PMknSsiPj6smtlbL5w=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2020/03/02/vphoenix_macho_projetomantis_press_2.jpg)
Macho de Vates phoenix e suas asas translúcidas (Foto: Lucas Fiat/Projeto Mantis)
Após encontrar um espécime não identificado na natureza, os pesquisadores recorreram à coleção de louva-a-deus do Museu Nacional para descobrir a que espécie ele pertencia. Lá, acharam mais três exemplares parecidos com o animal, mas que também não haviam sido descritos. Animados, estavam diante da descoberta de uma nova espécie.
Em 2017, os biólogos partiram em uma expedição com a National Geographic Society para encontrar mais indivíduos semelhantes, entre outros animais raros e potencialmente novos. Na Reserva Ecológica de Guapiaçu, a 97 quilômetros da capital fluminense, os biólogos encontraram espécimes vivos do macho. Um ano depois, em 2018, acharam uma fêmea, a peça que faltava para que pudessem realmente descrever a nova espécie.
![Fêmea de Vates phoenix pertencente à coleção do Museu Nacional (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis) Fêmea de Vates phoenix pertencente à coleção do Museu Nacional (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis)](https://cdn.statically.io/img/s2.glbimg.com/Y2dcmY4kepVAKjkbFWuXo9f4OEs=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2020/03/02/vphoenix_femeamuseu_projetomantis_press-2.jpg)
Fêmea de Vates phoenix pertencente à coleção do Museu Nacional (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis)
No mesmo ano, o Museu Naconal foi consumido pelas chamas e, com isso, a coleção de louva-a-deus da instituição se perdeu. "Quando descobrimos os espécimes, o museu ainda estava de pé", lembra Lanna. "O incêndio ocorreu enquanto pensávamos no nome da nova espécie. Isso nos afetou muito, e a todos os pesquisadores do Brasil, porque a história científica e biológica do país estava ali."
Daí porque os biólogos decidiram homenagear a instituição. "Não queríamos um nome muito óbvio. Queríamos simbolizar essa espécie como o renascimento da coleção de louva-a-deus do Museu Nacional. Por isso escolhemos a fênix, ave mitológica que renasce das cinzas", explica Lanna, que espera que os espéciemes retornem ao museu quando ele for reconstruído. "É sobre a crença de que ele vai conseguir crescer e se tornará forte novamente."
![Ilustração da Vates phoenix (Foto: Paulo Ormindo) Ilustração da Vates phoenix (Foto: Paulo Ormindo)](https://cdn.statically.io/img/s2.glbimg.com/2bUnM1vzwwuC7b9VSUaUcvFTz7g=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2020/03/02/vphoenix_ilustracao_pauloormindo_press.jpg)
Ilustração da Vates phoenix (Foto: Paulo Ormindo)
A espécie
Antes de ser descrita, os espécimes de Vates phoenix eram muito confundidos com espécies do gênero Vates que habitam a Amazônia. Nativos da Mata Altântica, eles revelaram ser muito diferentes dos primos do norte do país.
Suas principais características são os grandes lobos nas pernas, a camuflagem marrom com asas verdes e uma protuberância semelhante a uma coroa na cabeça — em espécies amazônicas, ela lembra mais um chifre.
Como de costume entre os louva-a-deus, machos e fêmeas da nova espécie são muito diferentes. As fêmeas têm asas verdes, camulhando-as como uma folha, enquanto as asas dos machos são translúcidas. Eles também têm estruturas em forma de S em suas antenas, o que facilita na hora de captar os feromônios das fêmeas – que, por sua vez, têm antenas finas e curtas. Os machos medem cerca de 6 centímetros e as fêmeas costumam ser um pouco maiores, com 6,5 centímetros ou mais.
![Protuberância na cabeça em forma de coroa é uma característica da espécie Vates phoenix. Macho tem antena com pequenas estruturas em S (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis) Protuberância na cabeça em forma de coroa é uma característica da espécie Vates phoenix. Macho tem antena com pequenas estruturas em S (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis)](https://cdn.statically.io/img/s2.glbimg.com/ZpgDNHHIq5RIO05zKoHKAg6L-_k=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2020/03/02/vphoenix_macho_projetomantis_press_5.jpg)
Protuberância na cabeça em forma de coroa é uma característica da espécie Vates phoenix. Macho tem antena com pequenas estruturas em S (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis)
O Vates phoenix pode ser encontrado em áreas de Mata Atlântica do norte ao sul do estado do Rio de Janeiro e tem alguns espécimes registrados em Ubatuba, no litoral de São Paulo.
Seu comportamento ainda é um mistério. Como não foram capturados indíduos jovens ou em habitat natural — foi usada uma técnica com fonte luminosa para atraí-los — os pesquisadores ainda não sabem como esses insetos se comportam, mas a aposta é que eles vivam nas copas da árvores.
Projeto Mantis
O artigo publicado na European Journal of Taxonomy foi assinado ao lado do experiente entomólogo peruano Julio Rivera e dos pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Sávio Cavalcante e Maria Lúcia França Teixeira. As imagens da espécie foram feitas por Lucas Fiat, diretor de arte do Projeto Mantis. "A fotografia contribui para a divulgação da espécie e na identificação também, inclusive pela população", afirma Lanna.
![Fêmea de Vates phoenix (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis) Fêmea de Vates phoenix (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis)](https://cdn.statically.io/img/s2.glbimg.com/NwZ_112LR7MLjgcHgIfqfL99eXE=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2020/03/02/vphoenix_femea_projetomantis_presse_3.jpg)
Fêmea de Vates phoenix (Foto: Lucas Fiat/ProjetoMantis)
Todos os animais são mantidos vivos após sua captura e criados até a morte natural pelos membros do projeto, que organizam palestras e exposições para conscientizar as pessoas da importância dos louva-a-deus para o ecossistema. "Como os criamos vivos, é muito mais fácil conectar as pessoas, pois o louva-a-deus é um inseto inofensivo", conta. "Geralmente encaramos insetos como um problema, uma 'praga' ou um transmissor de doenças. Mas, na verdade, eles constituem a maior biodiversidade de animais do planeta e são a base de tudo. Buscamos conscientizar as pessoas sobre isso."