• Redação Galileu
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Supostas anotações feitas por Galileu registrando a descoberta das quatro luas de Júpiter (Foto: Reprodução/Universidade de Michigan)

Supostas anotações feitas por Galileu registrando a descoberta das quatro luas de Júpiter (Foto: Reprodução/Universidade de Michigan)

Umas das peças mais importantes da coleção da Biblioteca da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, é um documento supostamente escrito e assinado por Galileu Galilei no século 17. Mas agora se sabe que ele é falso.

Ao analisar os escritos do documento, Nick Wilding, historiador da Universidade do Estado da Georgia, também nos EUA, descobriu que ele foi forjado no início do século 20, provavelmente pelo conhecido falsificador Tobia Nicotra.

Os monogramas foram os delatores da autenticidade do documento: a marca d’água no papel era do século 18, o que não fazia sentido, já que Galileu teria feito as anotações entre 1609 e 1610. Após uma investigação interna, a reitoria da universidade informou que as hipóteses levantadas por Wilding eram verdadeiras.

“Por quase um século, o manuscrito tem sido uma das joias da Biblioteca da Universidade de Michigan, somos gratos ao professor Wilding por compartilhar suas descobertas e agora estamos trabalhando para reconsiderar o papel do manuscrito em nossa coleção”, afirma a instituição, em comunicado.

O documento, de fato, apresenta informações valiosas. A metade superior contém o rascunho de uma carta ao Doge de Veneza, datada de 24 de agosto de 1609, com a apresentação de um telescópio então recém-construído.

Galileu Galilei morreu em 1643 (Foto:  Wikipedia / Justus Sustermans)

Galileu Galilei morreu em 1643 (Foto: Wikipedia / Justus Sustermans)

A outra parte traz o registro das observações das luas de Júpiter, de 7 a 15 de janeiro de 1610. A descoberta dos quatro satélites de Júpiter — Io, Europa, Ganimedes e Calisto — pelo astrônomo contribuiu para desbancar a teoria vigente na época de que tudo orbitava ao redor da Terra.

A versão final da carta é mantida nos Arquivos do Estado de Veneza, na Itália, e as notas sobre as luas de Júpiter fazem parte do Dossiê Sidereus Nuncius da Biblioteca Central Nacional de Florença.

Origem

Segundo a Universidade de Michigan, o manuscrito chamou a atenção pela primeira vez em maio de 1934, quando a casa de leilões American Art Anderson Galleries estava a biblioteca do falecido Roderick Terry, um rico colecionador de manuscritos e primeiros livros impressos. De acordo com o catálogo do leilão, o documento foi validado pelo Cardeal Pietro Maffi (1858-1931), arcebispo de Pisa, que comparou a folha com uma carta autografada por Galileu em sua coleção.

O empresário Tracy McGregor, colecionador de livros e manuscritos, arrematou o objeto. Em 1938, após sua morte, os curadores do Fundo McGregor legaram o manuscrito à universidade estadunidense, onde está até hoje.

“Embora a carta de autenticação de Maffi esteja faltando, esses dois supostos documentos de Galileu foram investigados e encontrados como falsificações doadas por Tobia Nicotra. Nicotra foi condenado a dois anos de prisão e uma multa pesada em 1934 por falsificação, incluindo documentos de Galileu”, explica a instituição.

Autenticidade

Wilding começou a questionar a autenticidade do papel quando iniciou as pesquisas para a próxima biografia de Galileu Galilei, da qual ele é o autor. Em maio de 2022, ele encaminhou um e-mail para o curador Pablo Alvarez questionando sobre a marca d’água e a procedência do manuscrito, expressando sérias dúvidas sobre sua autenticidade.

Na época da prensa manual, os fabricantes de papel costumavam usar marcas d'água distintas para identificar suas folhas. É possível datar um papel quando sua marca d'água está vinculada a uma determinada fábrica durante um determinado período.

Segundo estudos, a marca d'água no “manuscrito de Galileu” contém monogramas com as iniciais do fabricante de papel — "AS" — e local de produção — "BMO" (Bérgamo, na Itália). Nenhum outro papel com marca d'água BMO foi datado antes de 1770, a partir de quando se tornaram bem comuns.