• Redação Galileu
Atualizado em
Fezes humanas preservadas descobertas próximas ao Stonehenge  (Foto: Lisa-Marie Shillito)

Fezes humanas preservadas descobertas próximas ao Stonehenge (Foto: Lisa-Marie Shillito)

Uma análise de fezes encontradas em uma vila pré-histórica perto de Stonehenge, na Inglaterra, revelou que os antigos habitantes da região ingeriam parasitas junto de miúdos de vaca malcozidos. Os resultados foram publicados nesta sexta-feira (20) na revista Parasitology.






A carne dos órgãos internos de vacas era consumida durante festas de inverno pelos moradores, que davam as sobras aos cães. Indícios disso foram detectados por arqueólogos da Universidade de Cambridge em 19 pedaços de fezes de mais de 4,5 mil anos, também chamados de coprólitos, na área de Durrington Walls.

Cinco dos coprólitos (ou 26%) continham parasitas, sendo um deles proveniente de um ser humano e quatro de cachorros. “Esta é a primeira vez que parasitas intestinais foram recuperados da Grã-Bretanha neolítica, e encontrá-los no ambiente de Stonehenge é realmente algo importante”, afirma o principal autor do estudo, Piers Mitchell, em comunicado.

Quatro coprólitos, incluindo o humanos, tinham ovos de vermes Capillariidae, com formato de limão. Esses seres infectam uma grande variedade de animais e em raras ocasiões atingem humanos, alojando seus ovos no fígado sem aparecerem nas fezes humanas.

Porém, eles surgiram nos cocôs perto do Stonehenge, indicando que as pessoas que defecaram ali comiam pulmões ou fígados malcozidos de animais já infectados.

Ovo microscópico de verme descoberto em Durrington Walls no Reino Unido. A barra de escala preta mede 20 micrômetros (Foto: Evilena Anastasiou)

Ovo microscópico de verme descoberto em Durrington Walls no Reino Unido. A barra de escala preta mede 20 micrômetros (Foto: Evilena Anastasiou)

Para determinar se os coprólitos eram de humanos ou animais, os cientistas analisaram os fósseis com ​​esteróis e ácidos biliares. “Como os vermes Capillariidae podem infectar gado e outros ruminantes, parece que as vacas podem ter sido a fonte mais provável dos ovos do parasita”, explica Mitchell.

Estudos anteriores com dentes de vaca em Durrington Walls apontaram que alguns bovinos foram conduzidos a quase 100 km de Devon ou do País de Gales até o local para banquetes. Padrões dos ossos de gado sugeriram ainda que a carne bovina foi cortada para fazer ensopados e a medula óssea foi extraída.

Uma reconstrução de uma das casas neolíticas descobertas em Durrington Walls, perto de Stonehenge (Foto: Universidade de Cambridge)

Uma reconstrução de uma das casas neolíticas descobertas em Durrington Walls, perto de Stonehenge (Foto: Universidade de Cambridge)

Contudo, os cientistas encontraram fezes caninas contendo tênias de peixe, revelando que pescado cru também pode ter sido consumido pelos animais. Mas nenhuma evidência óssea de peixes foi encontrada na área. “Durrington Walls foi ocupado em grande parte sazonalmente, principalmente nos períodos de inverno. O cachorro provavelmente já chegou infectado com o parasita”, especula o especialista.






As datas da região coincidem com as da segunda fase da construção de Stonehenge, quando foram erguidas duas pedras verticais para sustentar uma terceira pedra horizontal. O monumento em si não servia para os banquetes, que ocorriam em Durrington Walls, onde foram achados objetos de cerâmica e mais de 38 mil ossos de animais (90% de porcos e  menos de 10% de vacas).

“Carne suína e bovina eram assadas no espeto ou cozidas em panelas de barro, mas parece que os miúdos nem sempre foram tão bem cozidos. A população não estava comendo peixes de água doce em Durrington Walls, então eles devem ter contraído as tênias em seus assentamentos”, conta Mike Parker Pearson, que escavou o terreno entre 2005 e 2007.