• Redação Galileu
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Decoração em um dos dois vasos de cerâmica encontrados na Tumba de Waal de Ajpach. (Foto: Kenichiro Tsukamoto)

Decoração em um dos dois vasos de cerâmica encontrados na tumba de Waal de Ajpach. (Foto: Kenichiro Tsukamoto)

O cargo diplomático de Waal de Ajpach não o livrou de graves problemas de saúde como infecções bacterianas, deficiências nutricionais na infância e artrite nas mãos, pés, cotovelo, joelho e tornozelo. Foi o que descobriram arqueólogos da Universidade da Califórnia em Riverside, nos EUA, a partir da análise de ossos encontrados no México.

Liderada pelo professor de antropologia Kenichiro Tsukamoto, a equipe de pesquisadores descobriu e decifrou hieróglifos escritos em uma escadaria cerimonial no sítio arqueológico de El Palmar, localizado no estado de Campeche, próximo às fronteiras com Guatemala e Belize.

Trajetória e status

Waal de Ajpach era uma espécie de embaixador que viajava em missões diplomáticas carregando bandeiras. Em 726 d.C., segundo os hieróglifos, ele partiu de El Palmar, no sul do México, e viajou 500 quilômetros para encontrar o rei de Copán, em Honduras. Seu objetivo era estabelecer uma aliança entre as dinastias de Copán e Calakmul — que fica perto de El Palmar.

Publicadas em fevereiro no periódico Latin American Antiquity, as descobertas indicaram que Waal de Ajpach foi enterrado sob o chão de um templo, mas, ao contrário de outros funerais de famílias de elite maias, poucos itens acompanharam o corpo do embaixador — apenas dois vasos coloridos e nenhuma joia. Os pesquisadores explicam que Waal teria conseguido a posição diplomática devido à linhagem de seu pai, além de sua mãe também ter pertencido à elite.

Um dos dois vasos encontrados em uma tumba maia em El Palmar.  (Foto: Kenichiro Tsukamoto)

Um dos dois vasos encontrados em uma tumba maia em El Palmar. (Foto: Kenichiro Tsukamoto)

Os primeiros resultados da análise dos ossos surpreenderam os antropólogos. "Sua vida não é como esperávamos com base nos hieróglifos", conta Tsukamoto, em comunicado. "Muitas pessoas dizem que a elite desfrutou de suas vidas, mas a história é geralmente mais complexa."

A partir de métodos de datação, estima-se que o enterro ocorreu por volta do mesmo ano de 726, e os ossos indicam que o homem tinha entre 35 e 50 anos quando morreu. O elevado status na sociedade maia foi associado ao embaixador também por sinais de seus dentes: todos os superiores frontais tinham sido perfurados com implantes de pedras de pirita e jade. O procedimento era considerado um rito de passagem durante a puberdade para confirmar a inclusão em um alto cargo ou grupo social.

Implantes de jade e pirita em dentes encontrados em tumba maia El Palmar.  (Foto: Kenichiro Tsukamoto)

Implantes de jade e pirita em dentes encontrados em tumba maia El Palmar. (Foto: Kenichiro Tsukamoto)

Lesões no esqueleto

Outros aspectos dos ossos mostraram um lado nada glamouroso da vida de Waal de Ajpach. Foi verificada a cura de uma periostite nos braços, condição em que a membrana que envolve os ossos fica inflamada. A causa da inflamação provavelmente foi um trauma, escorbuto, raquitismo ou infecções bacterianas.

Seu crânio apresentou áreas porosas e esponjosas nas laterais, lesão conhecida como hiperostose porótica e originada a partir de deficiências nutricionais ou doenças. Os pesquisadores também constataram o desenvolvimento de artrite nas mãos, pés, cotovelo direito, joelho esquerdo e tornozelo esquerdo. O estudo sugere que a inflamação óssea pode ter sido causada pelo carregamento da bandeira sobre terrenos desnivelados, além do frequente ato de ajoelhar-se diante de governantes maias.