Só quem é mãe sabe. A conexão com os nossos filhos é tão forte e tão intensa que parece até transcendental. Porém, para os cientistas, não há nada de transcendental nessa história. Por mais que o amor de mãe pareça inexplicável, os especialistas garantem: existem, sim, muitas explicações racionais (e até biológicas) por trás dessa ligação.
![Amor de mãe: mãe e filha se abraçando — Foto: Freepik](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/i1_s9rmVz90ehDI50pEG5-E2R3w=/0x0:1500x1000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2024/X/1/DVywBKSgauHIqkBtZx5A/mae-e-filha-em-casa-se-abracando.jpg)
Segundo o neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, do Hospital das Clínicas (SP), diversos estudos e pesquisas comprovam a relação fisiológica e emocional que o vínculo afetivo materno pode produzir. "A mulher, como genitora, é 'bombardeada' de hormônios como a ocitocina e a prolactina – responsáveis pelo amor e pelo instinto protetor. Esses neurotransmissores são responsáveis também por estimular a produção de leite e a contração uterina. Com isso, fica claro perceber que a ligação entre mãe e filho não é só carnal, mas, também, hormonal, física e emocional", explica.
Tudo isso já está mais do que comprovado. Existem até fotos — sim, fotos! — que reforçam essa tese. Em 2015, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Cambridge (EUA), conseguiram, pela primeira vez na história, capturar o amor entre uma mãe e um filho. Com a ajuda de um exame de ressonância magnética, puderam fotografar o que acontece com o cérebro do bebê quando recebe um beijo da mãe.
"Ele detectou a reação hormonal no cérebro de um bebê de dois meses enquanto sua mãe o beijava. Foi possível observar o fluxo sanguíneo no cérebro do bebê e como a atividade cerebral muda em reação ao estimulo do beijo que ele estava recebendo", conta Gomes. O beijo causa uma reação química no cérebro e acontecem 'explosões' de ocitocina, dopamina e serotonina, todos hormônios ligados ao bem-estar e a sentimentos de carinho e apego.
Segundo o neurocientista, a explicação está na forma como o nosso cérebro trabalha com recompensas. "Ao abraçar – ou ser abraçado – o circuito mesolímbico dopaminérgico é ativado, uma região responsável por emoções agradáveis, e uma descarga de neurotransmissores e substâncias que causam bem-estar são disparadas para todo o corpo, causando a sensação de conforto que só o contato com alguém de quem gostamos muito é capaz de causar", afirma.
![Exame de ressonância magnética mostrou como cérebro do bebê reage à interação com a mãe (Foto: Divugação/MIT) — Foto: Crescer](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/TRsnL9P1oITiUE7mydsYu1pQEOE=/0x0:677x677/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2022/S/w/IaDZ0pS0i9nOCH2G4QjA/2019-09-12-69766693-1833009686844895-7837531530913120256-n.jpeg)
Conexão desde o útero
Apesar de o toque e a convivência ajudarem a reforçar o laço entre mãe e filho, essa conexão começa já durante a gravidez, ou melhor, logo depois da concepção. Assim que a placenta se implanta no útero, as células do feto podem entrar no corpo da mãe e vice-versa, num processo chamado microquimerismo.
“Eles se alojam frequentemente nos pulmões, no coração, em locais onde o sangue é compartilhado, e também na pele. Nós encontramos essas células encontramos em quase todos os tecidos”, diz a pesquisadora Melissa Wilson, professora associada de genética na Arizona State University, e coautora de um estudo sobre microquimerismo fetal e saúde materna. Sabe aquela história de dizer que carregamos um pedacinho dos nossos filhos no nosso coração aonde quer que nós vamos? É literalmente isso. “Parece meio mágico. Quase como ficção científica também”, comentou Athena Aktipis, professora associada de psicologia na Arizona State University, que também participou do estudo.
![Mãe e filha dando um abraço — Foto: Freepik](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/BXs_IKizq-bgBiDD3MG9f2IGUxY=/0x0:1000x1500/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2024/G/o/OKRZ79TDO7v7hdYJIS5w/full-shot-mae-e-filha.jpg)
E não é só isso. Um estudo realizado por cientistas da Royal Holloway (Inglaterra) constatou que mulheres grávidas tendem a usar mais o lado direito do cérebro, que corresponde ao controle das emoções. Em outras palavras, é como se o organismo da mãe fosse treinando para criar conexão com o bebê que está a caminho. “Os resultados sugerem que, durante a gravidez, as mudanças na maneira como o órgão processa as emoções faciais assegura que as mães estejam neurologicamente preparadas para se vincularem ao bebê no nascimento”, explicou a líder da pesquisa, Victoria Bourne, do Departamento de Psicologia.
É como se essas mulheres ficassem mais sensibilizadas pelo contato com expressões faciais. Desse modo, ver o rosto do bebê pela primeira vez – o que já é uma emoção e tanto! – geraria impacto ainda maior e estimularia a ligação a ele. Depois do nascimento, a tendência é que esse vínculo só se fortaleça e intensifique.
“A cada abraço, o nosso corpo libera ocitocina, o hormônio do prazer, e aumenta a sensação de segurança e conexão com o outro. Essa é a teoria do amor que vale para a vida inteira e não tem nenhuma contraindicação”, explica o neuropediatra Marco Cesar Roque, da Maternidade Pro Matre Paulista (SP).