Comportamento
 


Os últimos meses foram desafiadores para Kamila Leal, 35 anos, de Campinas, São Paulo. Ao mesmo tempo em que se preparava para a chegada de uma nova vida, ela precisou lidar com o luto — após a perda do marido, Vitor Rodrigues Brum. Grávida e com um filho de 2 anos, na época, a comissária de bordo precisou encontrar forças para continuar. "Foi muito doloroso seguir a gestação sem ele. Estar enlutada e grávida foi um pesadelo para mim", admite.

"Eu me vi num deserto, sozinha, imaginando como seria sobreviver com duas crianças sem meu parceiro de vida e pai dos meus filhos", continua. "Porém, eu sempre me agarrei à fé em Deus para me sentir mais forte", conta", completa. Ela, que deu à luz Lara há menos de um mês, contou em detalhes à CRESCER como foi passar por essa experiência durante a gestação da caçula: "A chegada da Lara nos trouxe mais fôlego e mais amor, mesmo em meio a dor. Ela é uma parte viva dele, que temos o privilégio de cuidar, e isso nos trouxe, de certa forma, um conforto".

Kamila perdeu o marido, Vitor, durante a gravidez da filha Lara — Foto: Arquivo pessoal
Kamila perdeu o marido, Vitor, durante a gravidez da filha Lara — Foto: Arquivo pessoal

"Minha gravidez foi planejada. Meu marido e eu já tínhamos vontade de ter outro filho por conta da minha idade e para que as crianças crescessem juntas. Mas quando descobri que estava grávida, fiquei surpresa, pois achei que demoraria mais tempo — o positivo veio logo na primeira tentativa. Fiquei muito feliz com a notícia e meu marido também. Nosso sonho sempre foi ter uma família grande, muitos filhos... Porém, a vida nos pegou de surpresa.

Assim que soube da gravidez, ele ficou muito feliz, deu pulos de alegria. Quando contei, ele estava nos Estados Unidos. Então, fiz uma vídeochamada e gravei a reação dele. Ele sempre foi muito paizão, chorão e se emocionou com a notícia. Ele foi passar uma temporada no exterior a trabalho e eu continuei no Brasil, pois trabalho aqui. Ele sempre buscava o melhor para a nossa família e tinha o sonho de abrir um negócio lá.

À esquerda, Vitor após receber a notícia da segunda gravidez e, à direita, Kamila e o filho no ensaio de Lara — Foto: Arquivo pessoal
À esquerda, Vitor após receber a notícia da segunda gravidez e, à direita, Kamila e o filho no ensaio de Lara — Foto: Arquivo pessoal

Mas logo depois que descobri a gravidez, com apenas 6 semanas de gestação, ele adoeceu devido a uma bactéria no sangue. Tudo indica que a bactéria, adquirida devido a uma intoxicação alimentar, levou a um quadro de sepse [condição potencialmente letal causada pela resposta do corpo a uma infecção, que leva a danos em tecidos e órgãos]. Ela se espalhou pelo corpo e acometeu vários órgãos, deixando ele bem debilitado. Foram trinta dias em cuidados intensivos, porém, ele não resistiu e faleceu.

Durante a internação, deixei meu filho com minha família no Brasil e fui para os Estados Unidos. Todos os dias, eu ia ao hospital saber notícias sobre seu quadro de saúde, e ele esteva sempre muito mal. Era muito raro receber uma boa notícia e, quando recebíamos, em seguida já descobriam novos problemas. Foi muito difícil para mim ter que ir sozinha ao hospital, grávida, e ainda ficar longe do meu filho. Foi assim durante cerca de vinte dias. Depois, o Pai dele foi também para me acompanhar e dar apoio. Só que, em um momento, ele pegou mais bactérias no hospital e um fungo no sangue. Ele novamente entrou em um quadro de sepse.

Os médicos sempre foram muito realistas quanto as chances de sobrevivência, mas nós tínhamos esperança e fé de que ele fosse se recuperar. Até que, em um momento, recebemos a notícia de que deveríamos ficar no hospital, pois, muito provavelmente, ele não sobreviveria a mais um dia. Meu mundo desabou! Eu me vi num deserto, sozinha, imaginando como seria sobreviver com duas crianças sem meu parceiro de vida e pai dos meus filhos.

A equipe de saúde nos deixou ficar ao lado dele. Até que chegou o momento em que ele teve uma parada cardiorrespiratória. Eu não consegui ficar dentro do quarto vendo a pressão dele oscilar — subia um pouco, depois baixava, ou seja, ficar assistindo ele morrer, para mim, foi muito pesado. Decidi sair do quarto e esperar na sala ao lado. Antes, me despedi, chorei muito, coloquei a voz do nosso filho para ele ouvir, abracei — mas não tinha mais o que fazer.

Foi muito doloroso seguir a gestação sem ele. Estar enlutada e grávida foi um pesadelo para mim. Porém, eu sempre me agarrei à fé em Deus para me sentir mais forte. Quando voltei dos Estados Unidos com as cinzas do meu esposo, fizemos uma linda despedida. Depois disso, a forma que encontrei para lidar com o luto na gestação foi me manter ocupada sempre. Ficava vendo as roupas da bebê, planejando o que precisava comprar, decidi fazer uma pequena reforma no apartamento e passava a maior parte do tempo com a cabeça planejando e tentando seguir em frente, sem ele.

Na primeira foto, Kamila com Vitor e o primogênito. Na segunda foto, grávida, com o filho e o retrato de Vitor — Foto: Arquivo pessoal
Na primeira foto, Kamila com Vitor e o primogênito. Na segunda foto, grávida, com o filho e o retrato de Vitor — Foto: Arquivo pessoal

Mas em alguns momentos, eu desabava — ficava sozinha e me permitia chorar, olhar seus vídeos e fotos. Ao mesmo tempo que as lembranças me fazem chorar, também trazem conforto ao saber que fomos muito felizes e não me arrependo de nada. Meu filho mais velho tem 3 anos e ainda não entende muito sobre a perda. Ele ainda pergunta do pai e até diz: "Papai sumiu, mamãe”. Então, eu explico que o papai ficou muito 'dodói' e foi morar no céu com Jesus, virou uma estrelinha. No início, ele pedia muito pelo pai, mas os dias foram passando e acho que entendeu que o pai não volta mais. Sempre antes de dormir, rezamos juntos e incluo o pai dele nas nossas orações — quero manter sua memória viva.

Kamila e Vitor juntos, na chegada do primeiro filho do casal — Foto: Arquivo pessoal
Kamila e Vitor juntos, na chegada do primeiro filho do casal — Foto: Arquivo pessoal
Vitor e o filho — Foto: Arquivo pessoal
Vitor e o filho — Foto: Arquivo pessoal

Eu optei pelo parto cesárea, pois, no parto do meu primeiro filho, fiquei 24 horas em trabalho de parto e meu marido esteve comigo o tempo todo. Então, não queria passar por isso novamente sem a presença dele. Minha irmã me acompanhou no parto, foi bem emocionante. Chorei muito, pois queria muito meu marido ali, presente. Foi um misto de sentimentos. Eu tive vontade de encontrá-lo e, ao mesmo tempo, a vontade de ver o rostinho da minha filha. Tudo correu perfeitamente. Os profissionais de saúde, sensibilizados com minha história, me trataram com muito carinho. Me senti acolhida e isso me deixou tranquila.

A chegada da Lara nos trouxe mais fôlego e mais amor, mesmo em meio a dor. Ela é uma parte viva dele, que temos o privilégio de cuidar, e isso nos trouxe, de certa forma, um conforto. E ela se parece muito com o pai — isso enche o meu coração de alegria toda vez que olho para ela. Agora, depois que minha filha nasceu, a saudade apertou mais — a falta dele, do meu parceiro, me deixou mais sensível. Mas com um recém-nascido em casa, o tempo também é curto e tenho me dedicado muito à ela. Tenho uma rede de apoio — minha mãe, irmã, primas e os pais e irmãs do meu esposo. Eles me ajudam muito. Se não fossem eles, não sei como seria.

Separar as roupas e pertences dele para doação foi uma parte bem dolorosa, assim como voltar para casa com as cinzas dele no avião, ir às consultas obstétricas e passar as festas comemorativas sem ele (principalmente o aniversário do meu filho, o meu e o Natal). Foram muitos momentos desafiadores, que ainda doem, e quando o gatilho da saudade é acionado. Mas lidar com meus filhos sem ele é a parte mais tocante. Hoje, eles são ainda pequenos, não sentem a dor como nós, adultos, sentimos, mas quando eles crescerem e entenderem sobre a dor, sobre a perda e o quão incrível o pai deles foi, acho que será bem difícil para mim. Ainda estou lidando com o luto, pois faz apenas sete meses que ele partiu, mas cada dia é um novo recomeço e uma nova luta."

Kamila com os filhos — Foto: Arquivo pessoal
Kamila com os filhos — Foto: Arquivo pessoal
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