De todos os tipos de câncer que surgem na infância, a leucemia é o mais comum. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ela representa 28% dos casos entre os pacientes oncológicos. Na prática, isso significa que, de cada três crianças com câncer, pelo menos uma delas vai receber o diagnóstico de leucemia.
![Menina fazendo tratamento para câncer infantil — Foto: Freepik](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/IdYBrqc80dONd0ybM0OQY1iNCbw=/0x0:1500x1000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2023/h/b/bCLj7LR0GpJH4Z1BtsIw/young-child-therapy-battling-cancer.jpg)
Os cânceres surgem quando as nossas células começam a se multiplicar de forma diferente do que deveriam, muito rápido e de forma desordenada. Isso pode acontecer com células de qualquer parte do nosso corpo. Quando ocorre com as células do nosso sangue, o câncer é chamado de leucemia.
Tipos de leucemia em crianças
A leucemia não é uma doença que se manifesta sempre da mesma forma. A maneira como ela vai aparecer depende de alguns fatores, como o tipo de célula do sangue afetada. No caso das crianças, existem três tipos de leucemias que são mais comuns. De forma geral, elas podem ser classificadas em:
1. Aguda ou crônica: essa classificação diz respeito ao estágio de desenvolvimento das células afetadas. As células sanguíneas se formam a partir de células-tronco, encontradas dentro da medula óssea. As células-tronco têm a capacidade de dar origem a muitos tipos de células diferentes. Aos poucos, elas vão se subdividindo e amadurecendo até, por fim, ganharem funções específicas e se tornarem glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas...
As leucemias agudas acontecem justamente em células que ainda não estão maduras e não têm função específica. Elas representam aproximadamente 97% dos casos na infância e costumam evoluir de forma rápida. "Nas leucemias crônicas, as células já estão mais maduras e diferenciadas, mas elas são produzidas em uma quantidade exagerada", explica Ana Virgínia Lopes, oncologista pediátrica responsável pelo tratamento de leucemias no Hospital do GRAAC (SP).
2. Linfoide ou mieloide: essa classificação diz respeito ao tipo de célula do sangue afetada. Normalmente, a doença afeta as células de defesa do sangue, os chamados glóbulos brancos. "As leucemias podem ser classificadas em linfoides (ou linfoblásticas) e mieloides (ou mieloblásticas), de acordo com os tipos de glóbulos brancos que comprometem", diz a SBP.
Sendo assim, o nome dado à doença sempre vai dar "pistas" das características dela e de como ela está se manifestando no organismo. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, os diagnósticos mais comuns na infância costumam ser:
- Leucemia linfoide aguda (LLA): 75% a 80% dos casos de leucemia em crianças
- Leucemia mieloide aguda (LMA): 15% a 20% dos casos de leucemia em crianças
- Leucemia mieloide crônica (LMC): 2% a 5% dos casos de leucemia em crianças
![Menina em tratamento para câncer — Foto: Freepik](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/rZ4OyOC5JWQP_ZQlfnjnAtIsSO8=/0x0:1604x1064/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2023/H/q/Q2PwtfQdi0lSeNQybG2g/screen-shot-2023-11-23-at-09.47.33.png)
Sintomas de leucemia em crianças
Quanto antes conseguirmos identificar os sinais da leucemia, melhor. Acontece que perceber a doença logo nos estágios iniciais, antes mesmo de aparecerem sintomas, ainda é um grande desafio. "Atualmente não existem exames laboratoriais ou de rastreamento que possam ser realizados para dar um diagnóstico precocemente. Por isso, precisamos ficar muito atentos aos possíveis sintomas mesmo", diz a oncologista pediátrica Ana Virgínia Lopes, do Hospital do GRAAC.
E é aí que surge outro desafio: aproximadamente dois terços das crianças e adolescentes com leucemia apresentam sintomas inespecíficos. Em outras palavras, isso quer dizer que são sintomas que também aparecem em várias outras doenças comuns na infância, como viroses, gripe...
"Então, é normal que a família e o pediatra não pensem logo de cara em leucemia. Por isso, qualquer sintoma, por menor que seja, precisa ser um sinal de alerta para acompanhar e, se for o caso, fazer outros exames", explica Cecília Costa, líder do Centro de Referência de Tumores Pediátricos do A.C. Camargo Cancer Center (SP).
Alguns sintomas que costumam aparecer em casos de leucemia em crianças são:
- Dor nos ossos
- Fadiga ou cansaço exagerado
- Tontura ou vertigens
- Palidez
- Febre
- Infecções que não passam ou que se repetem
- Hematomas na pele
- Sangramentos no nariz ou na gengiva
- Inchaço do abdômen
- Perda de apetite
- Nódulos
- Dores de cabeça
- Vômitos
- Dificuldade para respirar
Diagnóstico de leucemia em crianças
![Menina em tratamento para câncer — Foto: Freepik](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/t-TswJVvK_tHAZNnnFdR133HNRk=/0x0:1606x1064/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2023/s/I/F9invrTOG4BcYITyYAgw/screen-shot-2023-11-23-at-09.47.23.png)
Como já foi dito, as primeiras suspeitas da leucemia costumam ser levantadas só depois do aparecimento de sintomas sem explicação aparente. Casos os sinais surjam, o primeiro passo é procurar o pediatra e marcar uma consulta. No atendimento, o médico fará exames físicos e tentará entender mais sobre o quadro.
Se realmente houver a suspeita de câncer, o pediatra partirá para um segundo momento da investigação. Para confirmar o diagnóstico, é preciso verificar amostras de sangue e da medula óssea. Para isso, costumam ser solicitados dois exames: o hemograma (exame de sangue simples) e o mielograma (exame que analisa o material coletado da medula óssea).
No exame de sangue, a maioria das crianças com leucemia costuma apresentar muitos glóbulos brancos e poucos glóbulos vermelhos e plaquetas. Ainda que isso levante uma suspeita a mais, ela não é suficiente para o diagnóstico. Também é preciso examinar em laboratório uma amostra de células da medula óssea.
Se, finalmente, a doença se confirmar, a criança deve ser encaminhada a um oncologista pediátrico, especialista em câncer infantil. "O ideal é que seja encaminhada imediatamente para um centro especializado, para começar o tratamento o quanto antes", afirma Ana Virgínia, do GRAAC. Aí começa o processo de fazer outros tipos de teste, para descobrir qual o tipo de leucemia e definir como será conduzido o tratamento.
Tratamento de leucemia em crianças
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O protocolo de tratamento vai depender, é claro, do tipo de leucemia que a criança apresenta e do estágio em que a doença está. Segundo a oncologista pediátrica Ana Virgínia Lopes, o tratamento é personalizado de acordo com o padrão de resposta de cada criança. "É um quebra-cabeça, em que vamos montando o protocolo com base nas evidências que temos", afirma.
A boa notícia é que, em geral, as chances de cura são bastante altas em pacientes pediátricos. "A leucemia em idade pediátrica tem uma evolução muito melhor do que em idades mais avançadas. Por uma série de fatores biológicos, a criança costuma ter uma tolerância melhor aos tratamentos", diz o oncopediatra Vicente Odone, diretor do ITACI - Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (SP).
Isso não significa que o processo é fácil. O principal tratamento para as leucemias infantis, especialmente as agudas, ainda é a quimioterapia. Ela pode ser administrada por via oral, intravenosa, intramuscular ou intratecal (quando o remédio é aplicado no líquido cefalorraquidiano). Costuma ser um protocolo longo e intenso, exigindo algumas internações para administração das medicações. Pode levar até dois anos de idas e vindas ao hospital.
Já o tratamento da Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é um pouco diferente. Normalmente, ele é realizado com um medicamento oral, chamado inibidor da tirosina quinase. "Este tipo de leucemia decorre do surgimento de uma alteração específica no material genético, conhecida como translocação BCR-ABL, capaz de aumentar a multiplicação celular através de uma proteína tirosina quinase", diz a SBP. Ao inibir essa proteína, o medicamento atua impedindo que essas células malignas em específico se multipliquem, sem afetar outras células saudáveis do organismo.
Outros tipos de tratamento, como transplante de células-tronco e radioterapia, só são usados em casos muito específicos.
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