É normal — e natural — que as crianças, principalmente após o desfralde, explorem o seu próprio corpo e descubram sensações gostosas. “É um prazer infantil”, explica a psiquiatra Carmita Abdo, fundadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP). “Elas não têm a capacidade de erotização do adulto. Não tem conotação erótica: a criança apenas percebe que friccionar a região é gostoso”, esclarece.
A chamada masturbação infantil, natural do desenvolvimento, pode ser descoberta em diferentes fases e ser praticada usando as mãos, um bichinho de pelúcia entre as pernas ou se esfregando no braço do sofá. E justamente por não haver malícia nem compreensão das regras sociais, é comum que façam isso na frente de outras pessoas. Então, o que fazer? Para a psicóloga Ana Canosa, da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, quando um adulto reage mal, a criança pode entender que o prazer sexual é proibitivo e sujo. “Devemos mostrar que há hora e lugar para tudo”, afirma.
![O que é masturbação infantil? — Foto: Freepik](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/fVildJoEFsV6eoHPAGXzodHb9mM=/0x0:1500x1000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2024/0/1/3sxzEfSgKd8wr2OFLPUA/2148197423.jpg)
Sobre privacidade
Menores de 2 anos não assimilam o conceito de privacidade, por isso, segundo a especialista, basta distraí-los quando se estimularem em público. A partir dessa idade, Ana recomenda dizer com calma: “Sei que é gostoso mexer no pênis/vulva [ou apelido], mas só faça isso quando estiver sozinho no quarto ou banheiro, tudo bem?”.
A partir dos 3 anos, já é possível falar sobre privacidade. Mas a orientação é nunca castigar ou reagir de forma que ele se envergonhe da sua atitude. Aproveite para introduzir a noção de consentimento, explicando que os genitais são especiais e ninguém deve tocá-los – a não ser pais, avós ou outros cuidadores durante o banho ou limpeza. E que, caso aconteça, ele deve contar e você não vai ficar bravo.
De olho nas diferenças
Nessa fase, a criança também começa a reconhecer o gênero ao qual pertence e a reparar nas diferenças anatômicas entre meninos e meninas. Correm peladas, arrancam as roupas das bonecas, espiam os corpos dos pais com mais atenção e se envolvem em dinâmicas do tipo “mostra-o-seu-que-eu-mostro-o-meu”.
Por mais assustador que seja flagrar os chamados “jogos sexuais infantis” — conhecidos como “troca-troca” ou “brincadeira de médico”, recorrentes entre os 7 e os 10 anos —, interprete o comportamento sob a ótica da criança. “Essa exploração deve ser encarada com naturalidade, não há nada de inadequado”, afirma a neuropediatra Liubiana Arantes de Araújo. “A maldade e o erotismo estão no olhar do adulto.”
Nomes corretos
Para muitos especialistas, os pais podem começar a educação sexual antes mesmo que os filhos aprendam a falar. Isso significa, por exemplo, incorporar os nomes corretos dos órgãos genitais (pênis e testículos; vulva e vagina) em contextos cotidianos, como na hora do banho. Tudo bem recorrer a apelidos fofos, como “pepeca” ou “pipi”, mas é importante que as crianças saibam como se chamam de verdade.
Talvez soe estranho para você, mas tente ser espontâneo como se estivesse dizendo “joelho”. Lembre-se que o pudor começa nas palavras. Se você não consegue nem se referir literalmente a essas partes do corpo, como espera que seu filho se sinta à vontade com elas?