• Juliana Malacarne
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A queda das temperaturas e a volta à rotina tem feito aumentar novamente casos de doenças que foram incomuns no auge da pandemia de covid. Uma delas é a meningite. “Atualmente, temos alguns surtos localizados de meningite, mas não há um aumento generalizado de casos no Brasil”, explica Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Em 2020 e 2021, com as medidas de prevenção à covid, como distanciamento e uso de máscaras, vimos uma queda de todas as doenças de transmissão respiratória, inclusive a meningite, e agora estamos retornando aos patamares de 2019”.

Criança sendo vacinada (Foto: ThinkStock)

O pediatra alerta, porém, que, apesar do número de casos estar dentro do esperado, a meningite pode trazer complicações muito graves para as crianças atingidas. Em São José dos Campos, uma criança de 4 anos morreu em março deste ano por causa da doença. “Dos casos de meningite bacteriana no Brasil, um em cada quatro vem a óbito e dos que sobrevivem cerca de 20% fica com alguma sequela, como perda de audição, amputações e convulsões”, alerta Kfouri. “Então é uma doença com um potencial de gravidade enorme, por isso, é muito importante proteger as crianças com a vacinação”.

Apesar de vacinas contra meningite estarem disponíveis gratuitamente no Sistema Único de Saúde e haver opções também nas redes particulares a cobertura vacinal contra a doença vem caindo. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2015, 98,2% das crianças tinham se vacinado contra a meningocócica C, o sorogrupo mais comum no Brasil (responsável por 80% dos casos). Já em 2021, a cobertura foi de apenas 68%. Em 2019, pré-período pandêmico, a taxa era de 87,4%.

A baixa cobertura vacinal tem causado preocupação entre especialistas. “Especialmente agora, com a volta das crianças à escola e o convívio entre grandes grupos em ambiente fechados, os pais devem atualizar a carteirinha de vacinação dos filhos”, alerta Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “Apesar de relativamente rara, a meningite costuma causar quadros graves especialmente nos mais novinhos então é muito importante imunizar as crianças assim que possível”.

Saiba mais sobre a meningite e veja como e quando proteger seu filho:

O que é meningite?

A meningite é uma inflamação das membranas protetoras que envolvem o cérebro e a medula espinhal (meninges). Ela pode afetar qualquer pessoa, mas no Brasil é mais comum em bebês, crianças pequenas e adolescentes.

Geralmente, essa inflamação é causada por vírus ou bactérias. As meningites virais costumam ser benignas, sem grandes complicações neurológicas e, geralmente, não necessitam de tratamento, com exceção dos quadros provocados pelo vírus da herpes, contra o qual existe um medicamento específico. Já as meningites bacterianas, especialmente ocasionadas pelos micro-organismos pneumococo, meningococo e hemófilos, são mais sérias e exigem tratamento urgente e rigoroso com antibióticos.

Quais são os sintomas?

Os sintomas da meningite nas crianças são variados e incluem febre, dor de cabeça, vômitos, irritabilidade e choro. Um dos principais sinais é a rigidez na nuca, que faz com que o pequeno tenha dificuldade ou não consiga encostar o queixo no peito. A presença de pequenas manchas arroxeadas na pele, chamadas de petéquias, também pode ocorrer.

De acordo com o pediatra Marco Aurélio Sáfadi, os bebês menores de 1 ano que não estão vacinados são especialmente vulneráveis a meningite por ter um sistema imunológico ainda imaturo. “Quando estão com a doença, os bebês, além da febre e vômito, apresentam imensa irritabilidade e gemem muito. Nos bem novinhos, os pais podem notar um abaulamento da moleira, que fica mais alta e protuberante. Conforme a infecção evolui, podem surgir também manchas arroxeadas na pele. Esses são os principais sinais de alerta”, explica o pediatra.

Quais vacinas com proteção contra a meningite estão disponíveis?

Existem 12 diferentes sorogrupos de meningite meningocócica. No Brasil, os tipos A, B, C, W e Y são responsáveis por 95% dos casos e, para eles, já existe vacinação. Todas as vacinas, tanto as disponíveis na rede pública quanto na particular, são seguras e eficazes.

Vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS):
BCG
– Dose única ao nascer
Pneumocócica 10 – 1ª dose aos 2 meses; 2ª dose aos 4 meses e reforço aos 12 meses
Meningocócica C – 1ª dose aos 3 meses; 2ª dose aos 5 meses e reforço aos 12 meses
Pentavalente – 1ª dose aos 2 meses; 2ª dose aos 4 meses e 3ª dose aos 6 meses
Meningocócica ACWY – Dose única em crianças entre 11 e 12 anos

Vacinas disponíveis somente na rede particular:
Meningocócica B
– Indicada para crianças a partir de 2 meses de idade no esquema de duas doses e reforço
Pneumocócica 13 – Indicada para crianças de 2 meses até 6 anos em dose única

Como tratar?

O tratamento das meningites bacterianas deve ser feito no hospital com antibióticos. Os quadros virais geralmente se resolvem por conta própria, sem precisar de intervenção.