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Há 9 meses, a mãe de quatro crianças Elida Cristina, 40, que mora no Rio Grande do Sul, precisou sair da sua cidade — Rio Grande, no sul do estado — em busca de tratamento para o caçula, Pedro, 2 anos. Na época, o menino foi diagnosticado com câncer em três locais: pulmão, tórax e pescoço. Desde então, foram diversas cirurgias, sessões de quimioterapia e, recentemente, Pedro passou por um transplante de medula óssea. "Hoje, ele não tem mais nenhum tumor e está se recuperando muito bem. Pedro é um bebê ainda, mas é um grande guerreiro. Está sempre com sorriso no rosto, alegre e com muita energia. A equipe médica está acompanhado a recuperação dele semanalmente em consultas e exames. Ele ainda precisa de medicações e acompanhamento e, por isso, precisamos continuar aqui em Porto Alegre", explicou a mãe.

Como Elida é vendedora autônoma, teve que parar de trabalhar. A cerca de 300 km de casa e com mais três filhos para sustentar, em agosto do ano passado, ela decidiu fazer uma vaquinha online para arrecadar doações. No entanto, sem saber como criar uma conta em um site, ela aceitou a ajuda de um estranho. "Ele é amigo de uma mãe que conheci no hospital. Estávamos há mais de quinze dias juntas no mesmo quarto com nossos filhos. Conversando, resolvemos abrir uma vaquinha para cada uma, mas não sabíamos como fazer. Então, ela teve a ideia de pedir ajuda para esse amigo que, segundo ela, trabalha em uma rádio, e eu topei", conta. "Mas ele disse que não deu certo na hora de incluir meus dados e, por isso, iria colocar os dele e depois trocaria. Mandei o número da minha conta bancária para ele trocar, mas ele disse que não conseguiu e garantiu que, assim que entrasse o dinheiro na conta, faria a transferência", lembra a mãe.

Pedro acabou de passar pelo transplante de medula óssea (Foto: Arquivo pessoal)

Pedro acabou de passar pelo transplante de medula óssea (Foto: Arquivo pessoal)

Desespero e impotência

Poucos meses depois, a vaquinha foi finalizada. Elida conseguiu arrecadar R$ 55 mil. No entanto, recebeu menos da metade do valor: R$ 22 mil. "Ele disse que foi assaltado, que o fizeram refém, obrigaram a fazer um pix, roubaram seu carro e seu celular, mas disse para eu não me preocupar, pois o banco devolveria o dinheiro, já que ele tinha seguro. Disse que assim que tivesse notícias entraria em contato comigo, mas sumiu", lembra. Depois disso, ela conta que foi bloqueada por ele no Whatsapp e no Messenger. "Não tive mais respostas. Não quero que aconteça com outras pessoas. É triste", lamentou. 

Preocupada, Elida resolveu entrar na Justiça na tentativa de reaver o restante do dinheiro. Segundo a advogada Lenise Ferreira Schneider, que cuida do caso, o homem foi condenado a pagar todo o valor — cerca de R$ 30 mil — à Elida. "Agora, o processo entra para execução, isto é, o pagamento, de fato. No entanto, vai depender se ele tem bens em seu nome, já que não compareceu nas audiências", explicou a advogada.

"O dinheiro que arrecadamos seria muito importante, em todos os sentidos, durante essa nossa caminhada de internações, cirurgias e tratamentos. Mas o que ficou foi um sentimento de desespero e impotência. Então, decidi informar as autoridades, inclusive para tentar fazer com que essa atitude seja repreendida de alguma forma e ele não volte a prejudicar outra família", afirmou. 

Luta diária

O dinheiro que não foi repassado para Pedro e Elida, hoje, faz falta. "Ele seria usado no dia a dia do meu filho. Estou tendo que gastar com duas moradias: uma para meus filhos, que estão em Rio Grande, e o aluguel para Pedro e para mim aqui, na capital. Minha renda atual é de um salário mínimo mensal, que é pago pelo pai dos meus filhos. Se não fosse a ajuda de pessoas próximas, não teríamos como nos manter durante todo esse tempo aqui", lamentou.

Pedro, que acabou de completar 2 anos, foi diagnostica com neuroblastoma em três locais: pulmão, pescoço e tórax (Foto: Arquivo pessoal)

Pedro, 2 anos, foi diagnostica com câncer em três locais, em julho de 2021 (Foto: Arquivo pessoal)

Com parte do valor que recebeu da Vakinha, Elida conseguiu alugar um apartamento a três quadras do Hospital Santo Antônio, onde Pedro faz o tratamento, e tem custeado a alimentação dos dois. "Somos muito gratos por isso, tem facilitado muito a locomoção do Pedro para as internações, consultas e acompahamentos necessários. O aluguel mensal é de R$ 1.900, mas, para continuarmos aqui, precisaríamos do restante. A previsão de duração do tratamento é de 3 anos. Só que, sem esse dinheiro, já estou buscando outro local, mais barato, porém, mais distante do hospital", contou.

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Elida com Pedro, no hospital (Foto: Arquivo pessoal)

Elida com Pedro, no hospital (Foto: Arquivo pessoal)

"O que fica é um sentimento de tristeza, pois tanta gente se sensibilizou com a intenção de me ajudar e ajudar meu filho; se sensibilizou com a história dele e com a batalha que ele está enfrentando. Agora, mais da metade desse dinheiro está sendo usada para outros fins, que não sabemos quais são. Quero aproveitar a oportunidade para alertar as pessoas que, infelizmente, poderão passar pela mesma situação. É preciso ter cuidado e se informar melhor. Quero também agradecer a todas as pessoas que colaboraram e ajudaram na vaquinha online do Pedro, pois, mesmo sendo uma parte do valor, amenizou diversas dificuldades durante essa longa caminhada", finalizou.

Elida fez uma nova vaquinha online, desta vez com seus dados. Para colaborar, clique aqui.

Pedro foi diagnosticado com câncer em três lugares (Foto: Arquivo pessoal)

Pedro foi diagnosticado com câncer em julho de 2021 e, desde então, está em tratamento (Foto: Arquivo pessoal)

Como não cair em golpes

"A internet facilitou muitos processos, inclusive o de criar campanhas de arrecadação. Mas, é preciso tomar algumas precauções para evitar cair em golpes de terceiros", alertou o site Vakinha.com, um dos maiores do país, à CRESCER. A empresa, com sede no Rio Grande do Sul, disse que prioriza a segurança e tem uma área na plataforma, com vídeos ilustrativos, voltados para esclarecer dúvidas dos usuários, inclusive de como criar as vaquinhas online.

No entanto, a CRESCER pediu que o Vakinha listasse algumas das melhores práticas para evitar cair em golpes na internet:

- Crie vaquinhas online somente em plataformas consolidadas no mercado. É essencial que a campanha esteja em um site de credibilidade, assim, o usuário consegue ter a certeza de que receberá o valor correto e terá mais sucesso ao compartilhar sobre ela;

- Cadastre, preferencialmente, os seus dados pessoais e não de terceiros, principalmente a sua conta bancária. Desta forma, é garantido que o valor será depositado corretamente na sua conta;

- Não divulgue seus dados pessoais. O ideal é sempre resguardar essas informações, já que as campanhas podem alcançar centenas ou milhares de pessoas. Assim, é possível evitar que pessoas mal intencionadas usem seus dados, como a chave do pix, para outros fins.

A Vakinha informou ainda que a plataforma disponibiliza uma chave PIX personalizada para cada campanha, que é formada pelo código da campanha "@vakinha.com.br", permitindo que o usuário a utilize no lugar da sua chave pessoal na divulgação. "O Vakinha tem como principal missão ajudar as pessoas a arrecadarem dinheiro em momentos críticos para elas ou para pessoas em situações de necessidade. Para estimular o maior número de pessoas a doar, precisamos facilitar o máximo de processos possível", disse Luiz Felipe Gheller, CEO e cofundador do Vakinha. "Estamos sempre acompanhando as principais tendências do mercado para poder implementar novas funcionalidades e entregar a melhor experiência possível para nossos usuários", completou o executivo.