• Sabrina Ongaratto
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A vendedora autônoma Elida Cristina Machado da Cruz, 39 anos, que é de Presidente Venceslau, interior de São Paulo, mas mora com os quatro filhos em Rio Grande, no sul gaúcho, tem enfrentado um grande desafio. No início de julho, Pedro, o caçula, que acabou de completar 2 anos no dia 25 de julho, foi diagnosticado com neuroblastoma, um tipo de câncer maligno em três locais: pulmão, tórax e pescoço. E, desde então, luta para buscar sua cura.

Pedro, que acabou de completar 2 anos, foi diagnostica com neuroblastoma em três locais: pulmão, pescoço e tórax (Foto: Arquivo pessoal)

Pedro, que acabou de completar 2 anos, foi diagnostica com neuroblastoma em três locais: pulmão, pescoço e tórax (Foto: Arquivo pessoal)

Em entrevista à CRESCER, ela contou que o filho nasceu saudável. "A gravidez não foi planejada, mas a chegada dele foi maravilhosa. Mudou minha vida", lembra. "O Pedro não teve de imediato os sintomas do câncer. No dia 30 de junho, ele acordou gemendo e com a barriga inchada. Achei que fossem apenas gases. Mas, no dia seguinte, levei ao pediatra do posto de saúde do meu bairro. A médica examinou e pediu que o levássemos ao hospital. Ela, inclusive, foi comigo. Chegando lá, ela conversou com um médico e pediu um raio-x. O exame mostrou que Pedro estava com água no pulmão. Imediatamente, ele já foi encaminhado para a UTI para drenar a água e investigar a causa. Depois de muitos exames, desconfiaram que poderia ser um tipo de tuberculose. Foi quase uma semana na UTI, sem saber o que ele tinha", conta.

No dia 6 de julho, dia do aniversário de Elida, os médicos transferiram Pedro para um hospital da capital, Porto Alegre, a cerca de 300 quilômetros. "Aqui, foram mais exames e exames, que descartaram a tuberculose. Foi, então, que veio a notícia de que meu bebê tinha uma massa no tórax e que essa massa já estava pegando a coluna. Segundo eles, se pegasse o osso da coluna, meu filho não conseguiria mais andar. Avisaram que iriam fazer uma biópsia. Foram dias de muita angústia à espera do resultado. Quando chegou, ouvi: 'Mãe, seu filho tem neuroblastoma, um tipo de câncer maligno que se encontra no pulmão, tórax e pescoço'. Meu mundo desmoronou! Chorei, briguei com Deus, perguntava: 'Por que, Senhor? Meu filho estava tão bem'", lembra.

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Desde então, Elida e Pedro estão no hospital. "Me apeguei com Deus e estou sendo sustentada por ele. Meu bebê ainda pegou um vírus da gripe, mas estamos cuidando dele. Ele está fazendo quimioterapia e, em agosto, fará uma ressonância para ver como estão os tumores. Ele enfrenta bem é um guerrerinho, mas não entende o que está acontecendo", explica. "Minha vida mudou muito. Estou sofrendo, longe de casa, mas sei que meu bebê precisa de mim", lamenta. Elida conta que os familiares fizeram uma vaquinha com o intuito de ajudá-la financeiramente com as despesas. "Tenho mais três filhos, de 20, 14 e 12 anos, e uma neta. Minha filha mais velha está com eles em casa. Que saudades dos meus filhos", finalizou.

O menino está internado desde o início do mês (Foto: Arquivo pessoal)

O menino está internado desde o início do mês (Foto: Arquivo pessoal)

Elida com Pedro, no hospital (Foto: Arquivo pessoal)

Elida com Pedro, no hospital (Foto: Arquivo pessoal)

Sobre o câncer infantil

Segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), a estimativa para o período 2020 a 2022 é que surjam 8.460 casos novos de câncer por ano em crianças e jovens abaixo de 19 anos. No entanto, apesar de ser a principal causa de morte nessa faixa etária, o câncer infantil ainda é uma doença relativamente rara, afirma Sima Ferman, chefe da Seção de Pediatria do Inca. O Inca recebe, a cada ano, cerca de 250 pacientes novos infanto-juvenis com câncer, cujo tratamento dura entre seis meses e um ano. E, após esse período, eles continuam em acompanhamento. A boa notícia é que, caso seja diagnosticado precocemente, o câncer infantil tem taxas de cura de até 80%. Em entrevista à Agência Brasil, Sima explica que se a criança chega a um centro de tratamento especializado no momento apropriado, ela tem “uma chance enorme” de ficar curada. 

Os tipos de câncer mais comuns em crianças e adolescentes são as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas. Segundo a médica do Inca, há vários outros tumores que ocorrem em crianças, mas são diferentes dos tumores de adultos, que são relacionados com células mais amadurecidas. “As crianças têm tumores com células muito primitivas. São chamados, muitas vezes, tumores embrionários e têm alta taxa de proliferação celular mas que, também, por essa razão, respondem muito bem à quimioterapia e o resultado de cura em crianças é muito alto”, disse.

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O problema é que muitos dos sintomas nas crianças se confundem com os de outras doenças benignas, como febre, dor de cabeça e vômitos. Mas não é preciso entrar em pânico. "Não quer dizer os sintomas indiquem que seja câncer", explica o oncologista Sérgio Petrilli, do Graac (SP). Mesmo assim, se os sintomas persistirem de 10 a 14 dias, é melhor voltar ao pediatra. Fique de olho se a criança apresentar:

1. Reflexo esbranquiçado nos olhos, estrabismo, perda de visão ou crescimento dos olhos – o chamado olho de gato se manifesta como uma mancha esbranquiçada nas fotos tiradas com flash e pode indicar retinoblastoma.

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2. Sangramentos sem sinal de machucado – pelo nariz, pela gengiva e pela urina. Apesar de ser um sintoma mais raro, também merece atenção. Mesmo que não seja câncer, sangramentos indicam alterações de coagulação

3. Manchas roxas pelo corpo e ao redor dos olhos – demonstram que a medula óssea está infliltrada por células doentes, o que acontece em caso de leucemia ou de neuroblastoma. Vale lembrar que os hematomas de batidas e quedas vão sumir rápido e aparecem somente no lugar da lesão. 

4. Dor de cabeça: pode ser confundida com enxaqueca, já que muitas vezes aparece acompanhada de náuseas. Por isso, em caso de desconfiança de que seja algo mais grave, vale insistir para que o pediatra faça uma tomografia. Quando medicada, a dor de cabeça se resolve em 1 ou 2 dias.

5. Dores nos ossos, nas juntas, nas costas e facilidade de fraturas – podem ser facilmente confundidas com dores do crescimento, mas quando a dor passa a interferir na vida da criança, quando ela reclama com muita frequência, melhor investigar. O inchaço também pode indicar que algo não vai bem.

6. Alterações na forma de andar, de falar e perda de equilíbrio – são mais frequentes em casos de tumor cerebral, quando geralmente são acompanhados de dores de cabeça, vômitos e alterações oculares.

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7. Caroços e inchaço – Gânglios no pescoço podem sinalizar uma simples amidalite, ou mononucleose, mas sempre merecem ser investigados. A barriga inchada, que normalmente é vista como sinalizador de verminoses, também. 

8. Febre prolongada – dura entre 7 e 10 dias, mas após o 3º dia já é preciso ir ao médico se a temperatura não baixar. No início, se não é encontrado foco infeccioso, é preciso investigar. Doenças comuns (como dor de ouvido) precisam ser descartadas.