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Depois que seu filho Ezra, que atualmente tem 11 anos, foi diagnosticado com autismo, a mãe Joan Fouquette, dos Estados Unidos, o colocou em diferentes dietas e terapias, na esperança de oferecer ao pequeno uma qualidade de vida melhor. Mas foi somente com o uso de um remédio à base de cannabis medicinal que ela realmente notou melhora no comportamento da criança.

O pequeno Ezra, que hoje tem 11 anos, ao lado do irmão (Foto: Reprodução/Facebook/Joann Fouquette)

O pequeno Ezra, que hoje tem 11 anos, ao lado do irmão (Foto: Reprodução/Facebook/Joann Fouquette)

Em entrevista à CNN internacional, Joan contou que Ezra apresentou os primeiros sinais de autismo em 2012, quando tinha 17 meses de idade. Ele parou de falar e começou a tapar os ouvidos e bater a cabeça no chão. Cinco meses depois, após uma série de testes, a criança recebeu o diagnóstico de transtorno do espectro do autismo. "É devastador. Já ouvi pessoas compararem isso com perder um filho. Você perde a idealização da vida que você e seu filho iriam ter", lamentou a mãe.

Ainda de acordo com a CNN, existem apenas dois medicamentos antipsicóticos aprovados pela Food and Drug Administration (agência reguladora de medicamentos dos EUA) para tratar crianças com autismo, mas eles são utilizados apenas se o paciente demostrar agressão severa ou automutilação. "Esses medicamentos são eficazes para esses sintomas, mas infelizmente estão associados a efeitos colaterais significativos. Isso pode predispor a criança ao desenvolvimento de outras doenças, como diabetes ou problemas do tipo cardiovascular”, explica o Dr. Eric Hollander, diretor do Programa de Autismo e Espectro Obsessivo Compulsivo do Sistema de Saúde Montefiore, em Nova York.

De acordo com Joan, Ezra começou a se machucar e apresentar comportamento agressivo com outras pessoas. Mas ela decidiu não o medicar com os remédios aprovados pela FDA, por medo dos efeitos colaterais. "Tentamos introduzir uma dieta sem glúten, sem caseína, sem laticínios. Tentamos remédios homeopáticos. Tentamos todas as terapias que existem”, lembrou a mãe. “A certa altura, tive muitos hematomas porque ele estava ficando mais violento", continuou.

Foi quando a mãe ficou sabendo de um ensaio clínico da Universidade de San Diego que envolvia crianças com autismo e um remédio feito com a parte não psicoativa da cannabis. Nessa época, Ezra tinha 9 anos de idade. “Já vi medicamentos feitos à base de cannabis sendo usado em crianças com epilepsia. Eu vi o quanto isso ajudou outras pessoas e pensei: 'é totalmente natural. Pode não haver nenhum efeito colateral real. Por que não tentar?'", contou Joan.

Dra. Doris Trauner, neurologista pediátrica e principal pesquisadora do ensaio, disse à CNN que os pacientes não sabiam se estavam recebendo o medicamento ou placebo. A ideia principal do projeto era examinar como o cérebro de crianças com autismo reagem a essa substância. "Sabemos que no autismo existem algumas diferenças na química do cérebro. Existem algumas mudanças nos sistemas de neurotransmissores, tanto no sistema da dopamina quanto no sistema da serotonina, que podem contribuir para alguns dos sintomas", explicou a médica. "E a cannabis, entre muitas outras coisas, tem efeitos no sistema da serotonina. Isso pode ajudar em termos de interações sociais em particular", continuou.

O estudo ainda não foi concluído, mas os resultados iniciais são animadores, segundo a Dra. Trauner. "Estamos vendo algumas mudanças bastante impressionantes. Crianças que tinham comportamento agressivo estão mais calmas. Crianças que apresentavam automutilação não fazem mais isso e seus machucados estão cicatrizando. Muitas delas se tornaram mais sociais", relatou a médica. 

Joan não sabe se seu filho recebeu placebo ou o medicamento, mas notou melhora já nas primeiras semanas de tratamento. "Um dia, eu estava no supermercado e meu marido me enviou um vídeo. Era Ezra deitado no chão enrolado em um cobertor, e ele estava cantando. Ele nunca tinha cantado antes", lembrou a mãe.

Agora, ela consegue se comunicar melhor com Ezra e a criança não é mais agressiva. “Estou percebendo que meu filho está voltando. Ele está falando comigo. Ele está feliz. Ele está cantando. O que mais eu poderia pedir?", disse Joan, emocionada. O pequeno terminou o tratamento há um ano e desde então não sofreu nenhuma regressão de comportamento, segundo a mãe. "Isso tornou as coisas mais fáceis para ele. Ficou mais fácil para ele viver, mais fácil para ele ser ele mesmo", afirmou.

No entanto, a Dra. Trauner explicou que mais pesquisas precisam ser feitas. "É muito cedo para ficar animado com isso. Acho que há algum motivo para esperança, mas não é uma boa ideia apenas tentar usar esse tipo de medicamento por conta própria", alertou. 

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