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Um estudo divulgado na última quinta-feira (30), conduzido no Reino Unido, aponta que o benefício de aplicar duas doses da vacina contra a covid-19 em crianças entre 12 e 17 anos supera o risco e evitaria milhares de hospitalizações no país.

Pfizer vai pedir autorização para uso emergencial da vacina em crianças de 5 a 11 anos nas próximas semanas, nos EUa (Foto: Getty)

Crianças de 12 a 17 anos recebem uma dose da vacina da Pfizer no Reino Unido (Foto: Getty)

Atualmente, no Reino Unido, crianças dessa faixa etária tomam uma única dose da vacina da Pfizer. E a recomendação ocorre devido ao risco, ainda que raro, de uma inflamação do coração associada à segunda dose.

No Brasil, a vacina da Pfizer é indicada a crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos, já em duas doses. “O esquema é de duas doses. O benefício, no atual cenário da pandemia, é inequívoco”, diz à CRESCER o infectologista pediátrico Renato Kfouri, vice-presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Segundo o especialista, no grupo mais afetado pelas miocardites – meninos, de 12 a 17 anos – o risco varia, no máximo, até 60 casos por milhão de doses aplicadas. “E esse é o pior risco. Meninas, primeira dose e outras idades têm um risco ainda menor do que esse. Ou seja, é um risco raro para um evento benigno, já que não há mortes associadas a essas miocardites”, completa.

A opinião é compartilhada pela equipe de pesquisadores do estudo, liderada pela Queen Mary Universit: o benefício "claramente" supera o pequeno risco de miocardite, que afeta cerca de um em 10.000 e geralmente é leve, segundo o Daily Mail.

Para a conclusão, o trabalho analisou as taxas de infecção por covid-19, internação hospitalar e morte entre adolescentes em ondas anteriores da pandemia no Reino Unido. O levantamento estimou que, se os casos da covid-19 nas escolas secundárias continuarem no ritmo atual, um regime de duas doses poderia evitar 4.430 admissões e 36 mortes em adolescentes em comparação com uma única injeção.

Alguns cientistas britânicos ouvidos pela imprensa local afirmam que resultados do estudo são controversos. Isso porque, embora a maioria dos pacientes que desenvolvem miocardite após a vacina sofra apenas com sintomas leves da doença, os cientistas ainda não têm certeza sobre as consequências a longo prazo da inflamação do coração.

Especialistas também defendem que o estudo não traz a comparação de eficácia entre aplicar uma e duas doses, além de não comparar a diferença no risco de covid-19 grave entre crianças saudáveis ​​e aquelas com problemas de saúde subjacentes.

Mas Kfouri lembra que ainda não se sabe se o risco de miocardites diminui com uma concentração vacinal menor. “Chama a atenção um dado de um estudo que já foi submetido ao FDA [agência que regula medicamentos nos Estados Unidos], em crianças de 5 a 11 anos, considerando um terço da dose: a gente não sabe se esse risco de evento adverso, de uma miocardite, diminui com uma concentração vacinal menor. Mas no atual cenário, de pandemia, com o tanto de mortos que temos, a relação de risco x benefício com esses eventos adversos continua muito favorável”, conclui.

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