• Sabrina Ongaratto, do Home Office
Atualizado em
 (Foto: Getty)

(Foto: Getty)

Segundo dados do Info Tracker, uma plataforma que monitora dados da covid, desenvolvida pela USP e pela Unesp, o número de casos de crianças e adolescentes de zero a 15 anos com covid vem aumentando no estado de São Paulo. De 4.951 em outubro passou para 5.238 em novembro. A faixa etária que teve um aumento mais significativo foi de 11 a 15 anos, com 11,4%.

+ 7 mitos e verdades sobre covid em crianças

No entanto, o que mais chama atenção nesse contexto, segundo Wallace Casaca, coordenador da plataforma e professor da Unesp, é o número de meninas com covid, se comparado ao de meninos, no mesmo período. "O número de crianças e adolescentes do sexo feminino surpreendeu, pois o aumento nesse gênero foi bem mais acentuado — 13% de um mês para o outro", disse. Já o dos meninos praticamente se manteve o mesmo, e até com uma leve queda.

COMORBIDADES

Outro dado que se destaca é o aumento de casos de covid entre meninas de até 9 anos com algum tipo de comorbidade, como asma, diabetes, cardiopatia, doenças hematologica, hepática, neurológica, renal, imunodepressão, obesidade, pneumopatia ou outros fatores de risco. Esses quase dobraram: de 16 para 31. Comparando meninas com e sem comorbidades, a diferença se destaca ainda mais:

Gênero feminino, de 0 a 9 anos (sem comorbidade): aumento de 9% em novembro
Gênero feminino, de 0 a 9 anos (com comorbidades): aumento de 93% em novembro

Já o caso de meninos com comorbidades diminiui de 29 para 23. "Quando olhamos no geral, a faixa etária dos 12 aos 17 anos é a que teve o maior crescimento de casos: passou de 2.823 em outubro para 3.425 em novembro. Um aumento de 21% em apenas um mês. Tanto meninos quanto meninas com comorbidade", destacou Wallace.

Entre as comorbidades, segundo o professor, o diabetes é o que mais aparece. "O aumento, em novembro, se comparado a outubro, foi de 75%; passando de 13 para 23, o número de meninos e meninas com diabetes que contraíram a covid", afirmou. "Embora os sintomas da covid-19 em crianças se manifestam de maneira mais leve, quando elas apresentam algum tipo de comorbidade, a situação pode se agravar, inclusive levando à internações e até óbito", completou ele.

Até 5 de dezembro, segundo o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, 514 crianças de até 5 anos morreram de coronavírus no Brasil. Bebês de até 1 ano somam 344 mortes. O país é o terceiro com o maior número de casos no mundo: 6,5 milhões. Em relação à mortes, foram mais de 176 mil.

+ Em casos raros, covid pode causar paralisia em crianças, diz estudo

PALAVRA DE ESPECIALISTA

Segundo o pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), por enquanto, o aumento do número de casos de crianças com covid é proporcional ao dos adultos. "Nós estamos vendo um aumento de casos em todas as faixas etárias, então, na verdade, esse crescimento de crianças com covid acompanha os índices gerais. Ainda é cedo para falarmos em alguma desproporção ou alteração na proporção de casos entre adultos e crianças. Elas estão adoecendo porque os adultos também estão contraindo o vírus. Mesmo assim, por onde a pandemia passa, observamos que as crianças continuam contraindo em uma quantidade muito menor e tendo manifestações mais leves, assim como óbitos, em relação aos adultos", explicou.

+ Crianças: capacidade de pegar e transmitir covid é 50% menor, diz estudo da Islândia

Sobre o número desproporcional de meninas contraindo o vírus no estado de São Paulo, o infectologista afirma que, por enquanto, não há evidências que mostrem que mulheres e meninas sejam mais suscetíveis ao coronavírus. "Pelo contrário, em todo o mundo, a covid costuma acometecer 60% mais homens, principalmente nas formas mais graves", destaca. E quanto às comorbidades, o especialista afirma que cerca de 60% das crianças que desenvolveram complicações mais graves em função da covid, tinham doenças de base, ou seja, alguma complicação de saúde", diz. "Crianças raramente desenvolvem formas graves, mas, quando desenvolvem, geralmente são aquelas tem que comorbidades", finalizou.