• Sabrina Ongaratto, do Home Office
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Rose e Roberto com o filho, João Luiz (Foto: Arquivo pessoal)

Rose e Roberto com o filho, João Luiz (Foto: Arquivo pessoal)

A história de luta do pequeno João Luiz começou cedo. "Ele foi adotado assim que nasceu. No início, não foi fácil. Foram dois anos no hospital. Ele fez oito cirurgias, passou por uma pneumonia e até meningite viral, mas superou tudo", conta a mãe, Rose Nunes Pereira, de Salvador, na Bahia. "Por causa desse tempo hospitalizado, ele aprendeu tudo mais tarde, mas no tempo dele. Começou a andar com 3 anos, mas, aos 6, já sabia as letras e os números. Falava muito, brincava bastante e era muito alegre", completou. João Luiz tinha hidrocefalia congênita e, infelizmente, perdeu sua batalha para uma meningite bacteriana há menos de um mês.

Em entrevista à CRESCER, Rose e o marido, Roberto, contam que foi "tudo muito rápido". "Para a gente, foi a maior supresa negativa", desabafa o pai. "Pela manhã, ele começou a ter diarreia. Depois, ele, que estava sempre com a maior energia, ficou mole, suando frio, querendo dormir... Deitou no meu colo e ficou quietinho. Até que, mais tarde, começou a vomitar. Levamos ele para o hospital e lá, passou a convulsionar. No dia seguinte, ele foi entubado e fez o exame que já acusou uma bacteria, uma infecção na válvula. E aí foi rápido... Ele passou por uma cirurgia para a troca da válvula e deu tudo certo. Ficamos aliviados, mas, quando foram tirar a sedação, ele não voltou mais, não reagiu", lamenta Roberto.

A mãe lembra dos últimos momentos do filho ainda com vida. "Antes da cirurgia, ele abriu os olhos, apertou minha mão, parecia que queria voltar. Até pedi para tirar o tubo para ele conversar comigo, mas explicaram que não era possível", disse Rose. "O médico disse que foi meningite, mas ainda não sabemos qual é a bacteria que foi para a válvula e inchou o cérebro, ocasionando morte cerebral. Ele era a minha alegria. Estamos acabados", desabafou.

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Segundo o casal, o filho estava bem nos últimos quatro anos. "Nunca mais precisou trocar a válvula. Estava forte, alto... Nunca imaginaríamos que isso iria acontecer. Era um menino querido demais! Está sendo uma dor tão grande", disse Roberto. "Tudo na minha casa está igualzinho: o quarto dele, as fotos...  Assisto muito aos vídeos dele e choro com saudade. São muitas recordações. Meu filho foi um anjo, só passava amor carinho para todos", lamentou Rose. "Ele tomou todas vacinas, inclusive contra a meningite B, na rede particular. Fiz questão de dar todas. Mas ele morreu dia 18 de setembro, um dia antes de completar 7 anos", finalizou.

João morreu um dia antes de completas 7 anos (Foto: Arquivo pessoal)

João morreu um dia antes de completas 7 anos (Foto: Arquivo pessoal)

PALAVRA DE ESPECIALISTA

A hidrocefalia é o aumento de líquido cefalorraquidiano no cérebro. "O diagnóstico costuma ser feito entre a 14ª e 16ª semana de gestação, por meio de um ultrassom simples, de rotina. Aspectos do crânio e cerebelo também dão sinais de alterações. Isso acontece, geralmente, na terceira semana de gestação. A mulher nem sabe que está grávida, mas o problema já está lá", explica o neurocirurgião pediátrico Sérgio Cavalheiro, do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP). "A hidrocefalia destrói o tecido cerebral e leva a alterações de inteligência e morticidade", completa. 

Nesse caso, é possível fazer uma cirurgia com a criança ainda na barriga da mãe para minimizar as sequelas. Caso contrário, após o nascimento, é importante corrigir o fluxo com válvulas, isto é, tubos flexíveis colocados no cérebro para regular e redirecionar a quantidade e pressão de líquido para outra parte do corpo, onde possa ser absorvido. Segundo o pediatra Renato Kfouri, vice-presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), crianças com patologias, como fístula — uma espécie de conexão anormal entre os órgãos —, implante auditivo ou válvula, como foi o caso de João Luiz, que fazem "comunicação" com o meio externo, possuem uma maior predisposição à microorganismos que contaminam o sistema nervoso. "Aumenta o risco, pois você tem um corpo estranho fazendo comunicação com o sistema nervoso central. Isso pode permitir que, eventualmente, algumas bactérias se proliferem e contaminem. Infelizmente, em alguns casos, pode ser grave. Então, essas pessoas têm um risco aumentado, não somente à meningites, mas à outras bactérias", esclarece. 

O especialista lembra ainda que as vacinas aumentam a proteção, mas não impedem completamente que uma pessoa contraia uma infecção. "As vacinas não são 100% eficazes. Pode, sim, haver falhas, infelizmente", disse. Não há um calendário de vacinação "diferente" para crianças, por exemplo, com hidrocefalia, mesmo assim, a recomendação é manter a vacinação em dia.