• Juliana Malacarne e Renato Bonfim
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amor; emoção; adoção; proteção (Foto: Thinkstock)

Um ato de amor (Foto Thinkstock

Adoção é acima de tudo um ato de amor. Fizemos um breve retrato da situação de pretendentes e crianças no Brasil, um passo-a-passo para quem deseja adotar e três depoimentos de quem já passou por isso ou está na fila de espera.

Atualmente no Brasil existem mais de 33 mil pretendentes inscritos no Cadastro Nacional de Adoção para pouco mais de 5.600 crianças que precisam de um lar -- 80% dessas crianças têm mais de 9 anos. Essa diferença, aliada a um processo burocrático necessário para garantir a segurança dos envolvidos, explica em parte porque o processo de adoção pode ser demorado.

Para a juíza Dora Martins, da Vara da Infância e Juventude de São Paulo, um dos maiores empecilhos para a adoção no Brasil é o preconceito. “É preciso derrubar os mitos em relação à adoção. Ela não é caridade. É um ato de ousadia, um ato de formar a família por uma via diferente, mas que implica nas mesmas circunstâncias e comprometimento afetivo e psicológico”, disse.

Depois de vencer os preconceitos e mitos, chega a hora de escolher se essa é a maneira  que se deseja para aumentar a família. Para quem já tomou essa importante decisão fizemos o passo a passo abaixo.

1)  Quem pode adotar?


Todo mundo que tenha mais do que 18 anos pode adotar. A única restrição pode aparecer na conta entre a idade do adotante e o adotado: é necessário que a diferença seja de, no mínimo, 16 anos. No mais, solteiros, viúvos, casados, héteros ou homossexuais podem ser pais ou mães por esse meio.

Quem pode ser adotado?
Todas as crianças ou adolescentes que tenham ficado sem família. Avós ou irmãos da criança ou adolescente não podem adotá-los; eles devem, então, pedir a guarda ou a tutela.

2) Manifeste a vontade de adotar


Assim como a decisão de ter um filho biológico, adotar requer o mesmo preparo e  maturidade. Quando tudo isso já está certo, é hora de tomar a iniciativa certeira. Para começar o processo de adoção, procure a Vara da Infância e Juventude da sua cidade ou região. Caso não haja uma, vá até o fórum. Os solteiros podem manifestar o desejo sozinhos, mas, quando se trata de um casal, os dois têm que ir juntos. Nesta etapa, os seguintes documentos serão apresentados:

I - Qualificação completa;
II - Dados familiares;
III - Cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;
IV - Cópias da cédula de identidade e CPF;
V - Comprovante de renda e domicílio;
VI - Atestados de sanidade física e mental;
VII - Certidão de antecedentes criminais;
VIII - Certidão negativa de distribuição cível

3) Entrevista


Após a inscrição, com todos os documentos já apresentados, você será chamado para uma (ou mais) entrevista com um assistente social e psicólogo. É neste momento que será avaliada a condição de oferecer um ambiente familiar adequado, a compatibilidade com a natureza da adoção e o oferecimento de vantagens ao adotando. A partir da aprovação do seu perfil, você já pode se inscrever no Cadastro Nacional de Adoção e inserir as características da criança que você deseja adotar, como idade mínima, cor da pele, necessidades especiais, etc.

4) Aprendendo sobre a adoção


Nesta etapa, os pais que já tiveram os perfis aprovados participam de um curso de preparação psicossocial e jurídica, para conhecer as necessidades emocionais de uma criança adotiva e as responsabilidades que você terá ao decidir ser pai ou mãe.

5) Agora é só esperar!


Se você chegou até aqui, é hora de aguardar o seu filho chegar até você. De acordo com o perfil escolhido, o Novo Cadastro Nacional da Adoção cruzará os dados das crianças e dos candidatos do Brasil inteiro em busca de características que se encaixam. O maior número de crianças e adolescentes disponíveis é as de que têm mais de 4 anos de idade. Então, se você escolheu um perfil de recém-nascido, por exemplo, o processo demorará mais tempo.

6) Convivência


Se você já encontrou a criança que tem o perfil desejado, neste momento o juiz determina o chamado “estágio de convivência”, em que você passará um período por dia, no abrigo, com o futuro adotado. O período varia de acordo com a Vara da Infância e Juventude e pode durar meses.

7) Sim, você tem um filho!


Após todas as etapas, o juiz determina a adoção. Lembre-se: a relação entre pai e filho é a mesma, seja a criança adotada ou biológica. Então, não economize o amor!

Depois de saber como fazer, conheça três histórias de adoção

Armando Char, a filha Beatriz e a esposa Katya (Foto: Arquivo Pessoal)

Armando Char, a filha Beatriz e a esposa Katya (Foto: Arquivo Pessoal)


“Eu e minha esposa Katya adotamos a Beatriz no ano de 2012 quando ela tinha 4 anos e meio. Ela é nossa única filha. Desde o pedido de adoção até o dia em que fomos chamados para conhecer a Bia foram nove meses.

Talvez o fator que tenha feito o nosso processo ser relativamente rápido tenha sido o perfil de crianças que a gente colocou. Nós não fizemos restrição de etnia nem em relação ao sexo. O nosso desejo era de ser pai e mãe. Não nos interessava saber se era menino ou menino, como não nos interessaria saber em uma gravidez. Não nos interessava saber da cor. É um processo de se despir de preconceito. A única coisa que pedimos foi um limite de 5 anos de idade.

Depois do pedido de habilitação para adotar, participamos de um curso para entender o processo e as crianças. Lá recebemos o acompanhamento de assistentes sociais e psicólogas. Esses profissionais também fizeram entrevistas com os casais para conhecer os perfis de cada família.

Eu quero crer que é por meio desse perfil que eles conseguem fazer as felizes ligações entre as famílias e as crianças. Quando acharam a Beatriz para a gente, acharam a nossa filha, efetivamente, sem dúvida nenhuma.

Tenho amigos que dizem que adoção foi um “gesto generoso, bonito”... Não tem nada disso. Para mim ela foi muito mais. Eu desejava ter filhos. Não me interessava muito como. Eu discuti bastante esse assunto com a minha esposa quando a gente definiu que o nosso primeiro filho seria adotivo. É daí que eu vejo que não tem nada de generosidade. É uma escolha consciente. Eu fiz a escolha de ser pai”.

Armando Char, advogado, 42 anos

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Priscilla Aitelli e o marido, Silvio Faustino (Foto: Arquivo Pessoal)

Priscilla Aitelli e o marido, Silvio Faustino (Foto: Arquivo Pessoal)

“Desde que eu e meu marido, que tem 41 anos, começamos a namorar, pensávamos em adotar. Sempre foi uma vontade dos dois. Mas queríamos também um filho biológico. Nós fizemos diversas tentativas, mas a gestação nunca chegou ao fim. Chegou a um ponto que estava no meu limite físico e emocional e decidimos parar. Foi então que tive a certeza que não era preciso engravidar para ser mãe.

Já faz três anos que eu entreguei os documentos necessários para conseguir a habilitação para adotar, em 21 de março de 2012. A partir daí passamos por: curso para futuros pais adotantes, entrevista com a assistente social, visita à nossa casa, sentença judicial, inclusão no Cadastro Nacional da Adoção, intimação... A habilitação em si só saiu em 28 de novembro de 2014. Demorou bastante tempo. Agora estamos na fila de espera.

A gestação do coração não tem prazo, mas também tem suas dificuldades, como haveria em uma gestação biológica. A maior frustração desse momento é a demora e a ansiedade. Toda família está envolvida com aquilo, mas não existe prazo. Não dá para fazer quase nada com antecedência, nem enxoval.

Você não sabe se será menina ou menino e no nosso caso nem quantos serão. Nós indicamos que gostaríamos de adotar irmãos de até 5 anos. É preciso ter uma rede de apoio pronta para quando as crianças chegarem. Mesmo assim, essa espera é um momento maravilhoso de felicidade, de plenitude, como qualquer gestação. É uma oportunidade única para autoconhecimento e amadurecimento do casal.

Estamos torcendo para que sejam dois irmãos. Seria muita felicidade depois de tanto tempo de espera. Mas se vier um só, entraremos na fila de adoção de novo.”

Priscilla Aitelli, bióloga, 36 anos

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Luciane, o marido e o pequeno Noah (Foto: Arquivo Pessoal)

Luciane, o marido e o pequeno Noah (Foto: Arquivo Pessoal)

“Quando eu tinha 3 anos minha mãe biológica faleceu. Aos 9, fui morar na casa da minha tia, irmã da minha mãe, e fui adotada por ela e seu marido. Sempre cresci com esse sentimento de que precisava retribuir aquela chance que eu tive de ter uma nova família, que me amou e me aceitou da forma que eu era.

Então, quando eu conheci meu marido, eu tive mais certeza ainda que adotaria um filho, porque, desde novo, ele já tinha um diagnóstico de que não poderia gerar filhos de uma forma natural. Eu até poderia engravidar por inseminação, mas a adoção foi a forma que escolhemos para construir uma família.

Começamos o processo de adoção em janeiro de 2011. Estou na fila de adoção há quatro anos para o irmãozinho ou irmãzinha do meu filho Noah, de 2 anos e meio. Noah chegou à nossa casa quando ainda era recém-nascido, por meio de uma adoção consensual.

O momento da chegada foi emocionante. Lembro tão bem da gente chegando em casa com o coração acelerado que parece um filme. A sensação foi de um parto mesmo. Quando peguei Noah no meu colo, meu coração arrebentou de amor e olhei para ele e soube que era mesmo para ser meu. Só consegui agradecer e dizer a ele que, se em algum momento ele se sentiu rejeitado, ele devia saber que foi muito amado por nós durante anos.

O pré-natal de quem passa por uma gravidez do coração é psicólogo. É preciso fazer um acompanhamento, cuidar do corpo e da mente, porque a gente nunca sabe quando vai receber a ligação do fórum. No nosso caso, isso é como estourar a bolsa e temos que estar preparados. Não posso estar mal, em depressão porque passei quatro anos esperando. Tenho que estar bem para quando chegar o momento, e a criança encontrar um lar saudável.

A única diferença entre uma família formada pela adoção é a forma como as crianças chegaram à família. Os laços de sangue não interferem no vínculo. Uma família que se ama vai além disso. Todo filho, seja biológico ou não, precisa ser adotado no coração.”

Luciane Cruz, 32 anos, administradora

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