• Vanessa Lima
Atualizado em

Quem já sofreu ou sofre constantemente de rinite e de sinusite sabe o tormento que é quando um dos dois — ou os dois! — problemas atacam. O nariz entope de um jeito, que a impressão que dá é que nunca mais sua respiração vai voltar ao normal. Isso sem falar nos espirros, coriza e coceira na garganta, no caso da rinite, e na dor na testa e nos seios da face, no caso da sinusite. Em situações comuns, além de medidas como a lavagem nasal, é possível contar com a ajuda de alguns medicamentos de alívio rápido (sempre com prescrição médica, é claro). Mas se você está grávida, nem sempre apelar para as prateleiras da farmácia é uma opção segura. O que fazer, então?

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Gestante com sinusite (Foto: Satawat Khumsongsee / EyeEm / Getty Images)

(Foto: Satawat Khumsongsee / EyeEm / Getty Images)

Sinusite na gravidez

“A sinusite ou rinossinusite é a inflamação da mucosa do nariz e dos seios paranasais. O problema pode ser causado por vírus, bactérias ou alérgenos e, em casos raros, por fungos”, explica a otorrinolaringologista Tatiana Abdo, do Hospital São Luiz Anália Franco, da Rede D'Or São Luiz (SP). As crises podem ser agudas, quando acontecem de maneira pontual, ou crônicas, quando o problema é persistente.

Quando essas mucosas estão em processo inflamatório, começam os sintomas, que são: dor de cabeça, sensação de pressão entre os olhos ou na testa, sensação de pulso na cabeça, secreção amarela ou esverdeada, nariz obstruído, coriza e dificuldade para respirar. Se sentir tudo isso já é terrível em qualquer condição, imagine quando seu corpo luta para se recuperar enquanto forma um ser humano, que depende do organismo materno para tudo? Sem falar que a gestação deixa a mulher de mãos atadas, já que nem todas as medidas farmacológicas, com efeito de alívio mais rápido, podem ser usadas.

“A gestação pode ser considerada uma condição de imunossupressão, que favorece essas infecções, principalmente as bacterianas. É preciso reforçar os cuidados para evitar a evolução de um quadro viral para um quadro bacteriano”, alerta Tatiana. “É importante evitar a automedicação. Se for necessário tratamento com antibiótico ou outros medicamentos, é primordial conversar com um especialista”, acrescenta a especialista. Isso serve para qualquer condição, mas, no caso das gestantes, é preciso avaliar com mais cautela ainda, para evitar riscos ao desenvolvimento do bebê.

O que fazer, então? O jeito é apelar para as medidas não farmacológicas. A lavagem nasal é a principal delas e costuma ajudar tanto na prevenção, quanto no alívio dos sintomas. Isso pode ser feito com soro ou com uma solução salina, com concentração de até 3%. “Outra dica é tentar elevar a cabeceira da cama em 30 ou 45”, recomenda a especialista. A posição facilita a drenagem da secreção, amenizando a obstrução do nariz.

Rinite na gravidez

A rinite também é um processo inflamatório, mas que se concentra na mucosa do nariz. “São várias as causas, desde os vírus que causam resfriados e gripes, até bactérias, além de sensibilidade a pó, ácaros e fungos, passando pelo uso de alguns medicamentos, poluição — sobretudo nas grandes cidades — contato com substâncias químicas irritantes e até hormônios”, detalha a otorrinolaringologista. Segundo a especialista, de 20 a 40% das mulheres reportam sintomas de rinite durante a infância e adolescência e, destas, uma taxa entre 10 e 30% relata piora dos sintomas durante a gravidez.

“A rinite na gravidez pode ser dividida em dois tipos: o primeiro inclui todas as versões de rinite (alérgica, não alérgica, medicamentosa etc.) e que pode acontecer a qualquer momento da vida, mas, por acaso, acontece também na gestação; o segundo é a rinite gestacional [leia mais abaixo], que acontece especificamente nessa fase da vida, por causa das mudanças causadas pela gravidez no organismo”, diferencia a médica. A rinite alérgica, geralmente, é pré-existente e pode melhorar, piorar ou ficar inalterada ao longo das 40 semanas.

Os sintomas da rinite são: irritação no nariz, coceira, espirros constantes e sequenciais, obstrução nasal, coriza, coceira no nariz, nos olhos, no céu da boca e na garganta. “A obstrução nasal causada pela rinite pode estar associada a uma piora na qualidade do sono da gestante, à piora da qualidade de vida, além de ronco e de apneia. A apneia pode ser o resultado de uma combinação de fatores, como o ganho de peso, que acontece também na gestação”, aponta Tatiana. “Alguns estudos na literatura médica chegam a associar a respiração oral, que acontece quando o nariz fica entupido, a problemas mais graves, como hipertensão materna, retardo do crescimento intra-uterino e pré-eclâmpsia — embora ainda não seja consenso”, afirma.

Rinite na gravidez (Foto: baona/Getty Images)

(Foto: baona/Getty Images)

Em todo o caso, é importante contar com acompanhamento médico — tanto para avaliar a evolução do quadro, como para orientar o tratamento adequado e seguro, para a mãe e para o bebê. Quem já sofre com rinite alérgica antes mesmo da gestação deve consultar o especialista que a acompanha para saber se é indicado ou não continuar os tratamentos de costume. “Só o profissional poderá avaliar a relação entre riscos e benefícios para dizer o que compensa”, pontua.

De maneira geral, é importante saber que o melhor e mais garantido é tentar primeiro as medidas não medicamentosas, segundo Tatiana. Aqui, novamente, entra a lavagem nasal, a inalação com soro, a inclinação da cama, de modo a ficar em uma posição que favoreça a desobstrução do nariz. “Estimular essa mulher a praticar exercícios físicos também é algo que pode ser feito com o objetivo de melhorar a rinite, o controle de peso e a qualidade de sono”, recomenda.

Quem tem rinite — seja gestacional ou não — deve ainda caprichar na hidratação, evitar o tabagismo (ativo ou passivo), evitar acumular muitas coisas em casa, livros, objetos, roupas, porque isso favorece o contato com o pó, que desencadeia o processo de irritação na mucosa nasal. Se for usar um casaco que estava guardado, tente lavar e deixá-lo exposto ao sol antes, para eliminar a poeira. “Na faxina, evite varrer, passar espanador, usar produtos com cheiro forte. Prefira um pano úmido”, orienta Tatiana.

O que é rinite gestacional?

Sim, existe um tipo de rinite que só acontece durante a gestação — e por causa dela. Uma mulher que nunca sofreu com crises antes, de repente, pode ser acometida pelo problema justamente nessa fase, em que as opções de tratamento e alívio são reduzidas. Você é uma das “ganhadoras” dessa loteria? Segundo os dados disponíveis na literatura médica sobre esse problema, isso acontece com 9% das grávidas.

Os sintomas e as maneiras de tratar ou aliviar os sintomas são os mesmos da rinite comum ou alérgica — lavagem nasal, evitar fatores com potencial de irritar ainda mais a mucosa nasal (como pó, ácaros e fumaça). A diferença está mesmo na origem. “A provável causa é justamente a alteração hormonal da gestação, como o aumento da concentração de estrógenos e de progesterona”, indica a otorrinolaringologista. O hormônio trofoblástico, presente na formação da placenta, também pode ter o efeito de inchar as estruturas da mucosa nasal, dificultando a passagem do ar e desencadeando a rinite.

Segundo ela, é mais comum que o problema aconteça entre o segundo e o terceiro trimestre, com duração de seis semanas, e a resolução completa dos sintomas acontece em até duas semanas depois do parto, quando os níveis hormonais começam a voltar ao normal.

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