• Sabrina Ongaratto
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"Mãe de anjos", escreveu a jornalista Paula Meireles, 36 anos, em seu perfil no Instagram, nesta terça-feira (28). A mineira, de Belo Horizonte, que estava grávida de quádruplos, usou as redes sociais para comunicar a amigos e familiares que, infelizmente, dois dos bebês não resistiram. "Hoje e ontem foram dias tristes e difíceis. Essa é uma das últimas fotos de quando eu tinha cinco corações batendo em mim. Agora são três e dois seguem de outro plano olhando por nós, pois viraram os anjos Arthur e Mathias. Desde o início, vivemos uma montanha-russa de emoções, muitas incertezas nos esperavam nessa jornada e essa foi uma delas", continuou.

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Ela contou que, por conta de um problema de restrição de crescimento, um dos bebês precisou passar por um procedimento. "Esses dois irmãos que dividiam o mesmo saco gestacional eram unidos demais e um não conseguiu seguir sem o outro. O Arthur estava com uma restrição de crescimento e precisamos recorrer à uma cirurgia fetal de urgência, realizada em São Paulo, na última semana. Fizemos de tudo, mas ontem tivemos a notícia de que os dois não resistiram ao procedimento'", lamentou.

Paula, grávida de 6 meses, estava esperando quádruplos (Foto: Reprodução/Instagram)

Paula, grávida de 6 meses, estava esperando quádruplos (Foto: Reprodução/Instagram)

"Graças a Deus, eles partiram sabendo que foram desejados e eram muito, muito amados, por nós, nossos amigos, família e todos que cruzaram nossos caminhos até agora. Só encontramos carinho e energia positiva nesses seis meses de gestação dos quádruplos. Agora, seguimos com Nicholas e Thiago, que estão bem e terão seus irmãos como anjos da guarda muito especiais! Obrigada, meus filhos, por terem nos escolhido e estado conosco nesse breve período", finalizou ela.

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A história dos quádruplos

Em entrevista à CRESCER, em agosto, Paula contou que foram dois anos e meio tentando engravidar até que ela e o marido, Daniel Ottoni, 37 anos, decidiram optar pela fertilização in vitro. Logo após a primeira rodada, eles descobriram os dois embriões transferidos "vingaram" e mais, com apenas 1% de chance, os dois se dividiram. Ou seja, Paula estava esperando por quádruplos. Na época, o casal chegou a registrar algumas das reações hilárias de amigos e familiares sobre a notícia dos quatro bebês.

Reações de colegas e amigas quando descobriram que Paula está esperando quadrigêmeos (Foto: Arquivo pessoal)

Reações de colegas e amigas quando descobriram que Paula está esperando quadrigêmeos (Foto: Arquivo pessoal)

"É uma gestação cercada de incertezas e de falta de controle. Sempre gostei de planejar e controlar tudo, então, está sendo um aprendizado. É uma gravidez de alto risco, sei que eles vão nascer prematuros e estamos nos preparando para todas as possibilidades", disse ela, há pouco mais de um mês.

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Paula e Daniel (Foto: Arquivo pessoal)

Paula e Daniel, no chá de bebê (Foto: Arquivo pessoal)

Probabilidades

No caso de Paula, eram quatro bebês divididos em três sacos gestacionais. Isto é, duas duplas de gêmeos idênticos, que se dividiram de formas diferentes. Segundo o obstetra Geraldo Caldeira, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, a chance de quádruplos na transferência de dois embriões é muito rara. "A chance de transferir um embrião e ele se dividir é de 1 a 2%. Já a chance de transferir dois embriões e os dois se dividirem é de apenas 1%", explicou.

No entanto, no caso de dois bebês que dividem a mesma placenta e saco gestacional, um dos principais riscos é a síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF) — uma condição rara, causada pela conexão vascular entre os bebês, por meio de veias ou artérias do cordão umbilical interligadas, fazendo com que o sangue seja distribuído de maneira desequilibrada. “Diferente do que alguns dizem, esse desequilíbrio não está relacionado com a absorção maior ou menor de nutrientes, ou seja, um bebê não 'rouba' os nutrientes do outro. O que ocorre, na realidade, é que o volume de sangue fica desigual entre os bebês. Um feto torna-se receptor e o outro doador”, explica o ginecologista Javier Miguelez, especialista em medicina fetal do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo.

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Por isso, as consequências são diferentes para cada gêmeo: o chamado “receptor” fica com um volume excessivo de sangue, o que faz com que o coração precise trabalhar mais, causando uma hipertrofia do músculo. “Além disso, por conta dessa absorção, a eliminação de líquido é maior e a bexiga se dilata. Assim, o saco gestacional deste bebê fica com uma quantidade maior de líquido amniótico (em sua maior parte constituída por urina fetal)”, diz Javier. Já o gêmeo doador, justamente por estar doando o sangue que deveria ser consumido por ele, desenvolve-se menos e fica com uma bexiga menor, já que o sangue não é filtrado e, com isso, o volume de líquido amniótico é baixo.