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Um relato de parto de uma mâe que deu à luz na Casa Angela, uma casa de parto que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo, chamou a atenção por um aspecto desconhecido de muitos de nós: a ingestão de um shake para a auxiliar no andamento do trabalho de parto. Mas isso existe mesmo? Funciona? De que que é feita essa bebida? Como ela atua no organismo? Quem pode tomar?

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CRESCER conversou com especialistas para entender como esse suco natural pode induzir ou ajudar no trabalho de parto, e quando essa intervenção é, de fato, necessária.

Damascos, tâmaras e óleos laxativos são alguns dos ingredientes das várias receitas que existem para o shake que pode ajudar no parto (Foto: Pexels)

Damascos, tâmaras e óleos laxativos são alguns dos ingredientes das várias receitas que existem para o shake que pode ajudar no parto (Foto: Pexels)

O shake é um método estimulante e é apenas uma das práticas que podem ser utilizadas sob a orientação de um profissional da saúde, após a avaliação clínica, segundo a obstetriz Thais Trevisan, da Casa Angela. "Ele consiste em uma vitamina de frutas preparada com a mistura de um óleo vegetal, que também tem ação laxativa. Por isso, não recomendamos o uso sem indicação e supervisão de um profissional", detalha.

Mesmo que seja natural, a especialista reforça que a indução do trabalho de parto deve ser avaliada de maneira individual. “Na Casa Angela, acompanhamos a gestação até 41 semanas, estatisticamente a maior parte das gestantes entrará em trabalho de parto até este período, mas uma parcela delas não entrará e precisará de uma avaliação médico hospitalar. Nós chamamos de convites ao nascimento as técnicas naturais não farmacológicas que envolvem a preparação e equilíbrio do corpo e mente para o parto. Quando a gestante completa 40 semanas de gestação conversamos sobre os métodos disponíveis que podem auxiliar no início do trabalho de parto e a mesma junto com seu acompanhante decide se gostaria de utilizá-los ou não”, explica.

Segundo o obstetra Paulo Noronha, métodos de indução natural podem ser usados, em uma gestação de risco habitual, depois das 37 semanas, desde que haja o desejo da mulher e o acompanhamento profissional. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que se ofereça indução medicamentosa apenas a partir de 41 semanas em gestações de risco habitual.

Além do shake (cuja composição varia com uso de tâmaras, damasco e até mamão, dependendo da receita, com um óleo laxativo), podem ser usados para indução natural, por exemplo, óleo de prímula e acupuntura. Mas não existe fórmula mágica que funcione para todas as mulheres. 

“É importante ressaltar que os convites ao nascimento buscam o equilíbrio geral do corpo e mente da gestante e seus acompanhantes. Então, cada gestante terá uma indicação diferente em busca deste equilíbrio e bem-estar. Por exemplo, uma gestante muito ansiosa provavelmente não se beneficiaria de métodos estimulantes para proporcionarmos um cenário favorável ao parto. O mais indicado seria utilizar métodos de relaxamento, ambiente acolhedor, conversar sobre os medos e anseios... Dessa forma conseguimos um ambiente favorável para toda dança hormonal que auxilia a desencadear um trabalho de parto”, orienta Thais.

Segundo Noronha, ainda não existem evidências científicas de que os métodos naturais realmente funcionem e a sua ingestão pode ter efeitos colaterais. “Por exemplo: o óleo de rícino pode dar cólicas e diarreia e não desencadear trabalho de parto. Por serem compostos naturais, em geral, não têm contraindicações. Mas o uso deve ser muito bem avaliado pois a paciente pode não tolerar o paladar, pode ter náuseas, vômitos...”, afirma à CRESCER.

“Estudos em laboratórios demonstraram que animais ao utilizar este óleo apresentaram um aumento da motilidade do intestino, bem como aumento de prostaglandinas E-2 nos tecidos intrauterinos, o que provocaria contrações uterinas. Mas os mecanismos que relacionam o uso do óleo com o início do trabalho de parto ainda não estão bem definidos”, completa a obstetriz da Casa Angela, que também reforça a ação laxativa do óleo, o que demanda cautela em seu uso.

“O uso das práticas integrativas e complementares, de um modo geral, visam o cuidado e olhar integral ao ser humano. Não é o uso de uma técnica individual que faz a pessoa entrar em trabalho de parto, mas sim todo um plano de cuidado traçado individualmente. Nós não orientamos o uso de nenhuma prática sem o acompanhamento de um profissional”, conclui Thais.

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