• Amanda Oliveira, do home office
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Após câncer de mama, mãe dá à luz espontaneamente  (Foto: Arquivo Pessoal )

Após câncer de mama, mãe dá à luz espontaneamente (Foto: Arquivo Pessoal )

"Ver aquele coração minúsculo batendo na tela é um momento muito especial". Foi assim que a administradora Fernanda Cristina Santos da Silva, 36, descreveu o sentimento de saber que seu desejo de ser mãe estava se concretizando. Para ela, que é casada com Diego Negrão da Silva, esse sonho tem ainda mais de emoção. Com 28 anos, foi diagnosticada com um câncer de mama após um exame de rotina. "Foi um momento difícil, eu era muito nova, cheia de planos". 

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres. A organização estima mais de 66 mil novos casos no Brasil em 2020. Segundo Erika Kawano, ginecologista e mastologista da Clínica Mantelli, o câncer de mama se define como um crescimento exacerbado das células dos ductos e lóbulos mamários. "As células se proliferam e perdem a capacidade de morrer, podendo invadir a corrente sanguínea, levando o câncer para outros órgãos". Entre os fatores principais que levam à doença estão menopausa tardia, uso de anticoncepcional por mais de 10 anos, obesidade, sedentarismo, tabagismo e ingestão de álcool. Além disso, é um câncer mais comum em mulheres com mais de 50 anos. 

A especialista explica que o tratamento do câncer pode afetar a fertilidade da mulher. "A quimioterapia, por exemplo, mata as células que estão se proliferando, isso acaba diminuindo consideravelmente as células ovarianas", diz a especialista. 

IDAS E VINDAS AO HOSPITAL

O câncer de Fernanda atingiu seus ductos mamários e foi necessária a retirada de um quadrante da mama esquerda. Ela conta que a mama não precisou ser retirada inteira, mas perdeu a sua função de produzir leite. A administradora passou por 30 sessões de radioterapia e quatro de quimioterapia. "Eu ia todos os dias ao hospital e meus cabelos caíram. Fiquei careca. No entanto, tentei continuar a minha vida. Não deixei de trabalhar e me sentir viva". Ao saber que o tratamento poderia afetar sua fertilidade, ela decidiu congelar oito de seus óvulos um mês antes. 

Após as sessões de radioterapia e quimioterapia, ela ainda ficou tomando uma medicação por cinco anos e seu sonho de engravidar foi ficando cada vez mais distante, já que ela não poderia engravidar, enquanto estivesse medicada. No dia 31 de dezembro de 2018, a administradora tomou o último remédio para tratamento de câncer e decidiu que tentaria ser mãe. "Em 2019, os médicos acompanharam como meu corpo iria reagir sem a medicação. No início, eu tinha uma contagem de óvulos baixa e um ciclo menstrual desregulado. Havia 5% de chance de eu engravidar sozinha". 

No início deste ano, ela descobriu que tinha engravidado espontaneamente e não precisou fazer a inseminação artificial. Paula Ramirez Kraide, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Santa Joana, que fez o pré-natal de Fernanda, diz que ela foi o primeiro caso que atendeu de uma gestante que teve câncer tão nova. A médica ressalta que o câncer é mais comum em mulheres mais velhas e que realmente pode ter um impacto na fertilidade da mulher. "Mesmo que a radiação seja direcionada no tórax é sempre possível se espalhar para o restante do corpo. "Isso pode impactar a qualidade dos óvulos também, resultando em um aborto e até mesmo uma má-formação genética do bebê". 

Fernanda deu à luz à pequena Liz em outubro  (Foto: Arquivo Pessoal )

Fernanda deu à luz à pequena Liz em outubro (Foto: Arquivo Pessoal )

Na primeira ultrassom de Fernanda, ela relata que teve um susto. "O exame da minha filha mostrou uma alteração cardíaca.", diz a mãe. Segundo Paula, durante o pré-natal, a mãe foi orientada a como lidar como uma possível falha genética. Porém, isso não ocorreu. A pequena Liz nasceu no dia 15 de outubro, sem nenhuma alteração genética. O parto foi uma cesariana, porque Fernanda teve uma perda de líquido amniótico e a bebê estava perdendo peso. 

AMAMENTAÇÃO COM UMA MAMA

A administradora conta que sempre quis amamentar, mesmo tendo uma mama para fazer o aleitamento. "Eu estou amamentando a bebê só com o leite materno, não precisei dar a fórmula. Agora, tenho um pouco mais de dificuldade, meu bico deu uma rachadinha, mas a Liz está mamando bem". 

Para Paula, a possibilidade de uma mulher que passou por um câncer de mama amamentar é surpreendente. Ela disse que durante o pré-natal trabalhou essa questão psicológica com Fernanda, dizendo que se ela não conseguisse amamentar, ela seria uma mãe tão boa quanto se conseguisse. "O aleitamento é importante, mas claro, se fosse preciso, nós entraríamos com o complemento. Hoje, ela já está com 15 dias de aleitamento exclusivo com uma mama e isso é maravilhoso". 

ATENÇÃO AOS SINAIS 

Se notar alguma dessas mudanças em seu seio, comunique logo ao seu médico.  Isso não significa que você tem câncer, mas é sempre bom investigar

• Nódulos endurecidos
• Deformações ou alterações no contorno da mama
• Qualquer saliência na pele da mama
• Qualquer retração ou desvio do mamilo
• Descamação ou vermelhidão em torno do mamilo ou da aréola
• Caroço duro na axila
• Saída de líquido pelo mamilo