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Grávida no consultório médico (Foto: Getty Images)

País concentra 77% das mortes de gestantes e puérperas (Foto: Getty Images)

No Brasil, as grávidas e puérperas brasileiras vêm sofrendo mais com o impacto do coronavírus. É o que aponta uma pesquisa realizada por especialistas brasileiros. Publicado no jornal científico International Journal of Gynecology & Obstetrics, o estudo mostrou que o país concentra 77% das mortes de gestantes e puérperas, comparado com o restante do mundo. O dado se torna ainda mais alarmante quando se contrasta com os números de mortes por H1N1, surto que ocorreu no Brasil em 2009.

Segundo a enfermeira obstetra Maíra Libertad, uma das autoras da pesquisa, em 12 meses, a gripe suína causou a morte de 57 mães. Já a covid-19 em apenas três meses já matou 124 grávidas e puérperas, isto é, mais que o dobro. "No início, se apontou que o coronavírus não seria tão grave nas gestantes, mas o Brasil tem mostrado um cenário diferente", explica a enfermeira. Os pesquisadores ainda apontam que mesmo em países como Estados Unidos, que possui uma taxa de natalidade próxima da brasileira, o número de mortes é menor. Dos 160 óbitos no mundo todo, até a publicação do estudo no dia 9 de julho, 16 ocorreram nos EUA.  

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Maíra explica que a reunião de dados para o estudo começou já em março, no início da pandemia. "Nós prevíamos que no Brasil, a taxa de mortalidade materna teria um comportamento diferente do resto do mundo, principalmente, devido à precariedade do nosso sistema de saúde". Foi então que ela se reuniu com pesquisadores da UNESP, UFSCAR, FIOCRUZ, IMIP e UFSC para monitorar as mortes das brasileiras. Para reunir as informações, eles consultaram a base de dados do Ministério da Saúde, que aponta os casos de doença por Síndrome Respiratória Gripal. Na plataforma, era possível checar quantas pessoas estariam com coronavírus e separar as mães por idade. 

Em três meses, o Brasil teve 978 grávidas e puérperas com coronavírus. A primeira morte foi registrada em 22 de março. Na análise, as pesquisadoras também apontaram que dos 124 óbitos de mulheres gestantes ou puérperas, 74 dessas mulheres desenvolveram a doença na gestação e 50 no pós-parto. 

SAÚDE PRECÁRIA 

Para Maíra, um dos principais fatores que vem contribuindo para o Brasil sustentar a maior taxa de mortes maternas pela covid é a dificuldade de acesso a um sistema de saúde bem equipado. No estudo, os pesquisadores identificaram que das 124 mães que morreram, 27% não foram internadas na UTI — Unidade de terapia intensiva — e 36% não foram entubadas. "Isso não é esperado, já que a covid é uma doença respiratória. Uma das hipóteses é que estejam faltando leitos de UTI para algumas mulheres ou elas estão chegando em um estado tão grave que não é possível mais socorrê-las". 

Outro ponto destacado pela pesquisadora é a insuficiência de testes realizados em gestantes. "As grávidas precisam ter prioridade nas testagens, pois se são diagnosticadas com antecedência, conseguem chegar ao hospital mais cedo". Com relação às comorbidades, o estudo identificou também uma relação de mortalidade maior em mulheres com doenças cardíacas, diabetes e obesidade.

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