• Amanda Oliveira
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Após aspirar seu cocô, Pietro foi transferido para a UTI (Foto: Arquivo Pessoal )

Após aspirar seu cocô, Pietro foi transferido para a UTI (Foto: Arquivo Pessoal )

Quando entrou na 40ª semana de gravidez, Gleiciane de Jesus Silva, 34, estava confiante de que teria um parto normal. No entanto, os médicos tiveram de optar por uma cesárea, antes mesmo de a bolsa estourar. Pietro, o bebê, tinha evacuado dentro do útero e o bebê acabou aspirando mecônio. 

“Os médicos me falaram que ele tinha aspirado seu cocô e isso tinha levado a uma infecção no pulmão. Como estava com problemas respiratórios, foi transferido de Eunápolis [na Bahia, onde a família vive] para uma UTI em Salvador. Eu nunca tinha ouvido falar disso”, diz a mãe. Faz sete dias que a criança está na Unidade deTerapia Intensiva (UTI), sendo medicada e com tubos de oxigênio. Pietro é o terceiro filho de Gleiciane que já tem duas meninas: uma de 14 e outra de 16 anos.

Aspirar o cocô, é possível?

O que se chama de cocô, nesse caso, é, na verdade, o mecônio, uma massa compacta, que bloqueia o intestino da criança para ele não funcionar durante a gestação, segundo Ênio Torricillas, pediatra, neonatologista e coordenador da UTI Neonatal do Hospital Santa Cruz (SP).

A situação se torna um problema quando o trabalho de parto demora demais para acontecer. “A placenta envelhece e começa a faltar oxigênio. O bebê entra em sofrimento fetal. Essa situação faz com que a criança relaxe e o ânus elimine o mecônio”, diz o especialista.

Como essa substância fica, então, solta no útero da mãe, o bebê pode aspirá-la. Dentro do pulmão, ela acaba formando uma camada oleosa, o que impede a natural troca de ar. Por isso, é necessário que o bebê seja encaminhado para a UTI, onde será entubado com oxigênio para auxiliá-lo na respiração. 

Pietro (Foto: Arquivo Pessoal)

Nem sempre o bebê aspira o próprio cocô, mas quando isso acontece é preciso estar atent  (Foto: Arquivo Pessoal)

Durante o tratamento, nem sempre é fácil aumentar a disponibilidade do gás já que, às vezes, a criança não se adapta aos tubos. "Quando não conseguimos oxigenar o bebê, ele ‘acha’ que ainda está dentro da barriga da mãe e o nível de oxigênio diminui ainda mais. Isso pode provocar lesões no coração e no cérebro da criança”, diz o especialista.

Para reverter esse cenário, é possível usar substâncias surfactantes, que são responsáveis por deixar os alvéolos — local em que ocorre a troca gasosa — mais abertos e “lavar” a barreira de mecônio do pulmão. Dessa forma, aumenta a absorção de oxigênio.

Dá para evitar?

Segundo o médico, esse é uma fatalidade muito difícil impedir. A recomendação é para que os profissionais de saúde aumentem a atenção e monitem a grávida ainda mais de perto depois da 40ª semana.

Um dos sintomas de que o bebê está em sofrimento fetal é o aumento ou diminuição dos batimentos cardíacos. “A mãe não tem muito como prever esses casos, mas vale prestar atenção se a criança passa a se mexer pouco, por exemplo. Geralmente, o bebê diminui os movimentos para preservar o oxigênio”, afirma o pediatra.

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