• Juliana Malacarne
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Briga de casal (Foto: Getty Images/PhotoAlto)

(Foto: Getty Images/Ale Ventura)

O primeiro ano de vida de um filho é a prova de fogo para a maioria dos casais. Por mais que os pais tenham estudado sobre o assunto e até feito cursos para se preparar para a chegada do bebê, nenhum casal está 100% pronto para os conflitos que poderão surgir no relacionamento. A rotina muda e surgem novas responsabilidades, tarefas e um estilo de vida que deixa de ser a dois e passa a ser em grupo. É normal que o casamento sofra um baque – tanto que esse impacto tem até nome: baby clash, ou choque do bebê, em tradução livre.

Um estudo com 5 mil homens e mulheres, conduzido pela Open University, no Reino Unido, mostrou que casais sem filhos se consideram mais felizes no relacionamento. A principal justificativa foi o tempo a mais que têm para dedicar ao parceiro, com diálogo e uso de frases como “eu te amo”. Em contrapartida, a pesquisa mostrou que mulheres com filhos se sentem mais completas nos outros âmbitos da vida. Para conseguir o melhor dos dois mundos só existe uma maneira: buscar um meio termo e aceitar que conflitos são inevitáveis.

De acordo com o psicólogo Luciano Passianotto, especialista em sexualidade humana pela Unicamp, um dos fatores que potencializam o atrito entre o casal, principalmente no começo da vida do filho, é uma visão romântica sobre o pós-parto: “A realidade é que uma criança traz muitas demandas, nem todas agradáveis: noites em claro, insegurança ou ansiedade no cuidado... Um filho é o maior projeto que muitos casais assumem e, como a vontade de que  aquilo dê certo é grande, as decisões são tomadas sob forte pressão. Assim como em toda situação estressante, a chance de haver embates aumenta”.

Respire fundo

Na hora de avaliar como anda o relacionamento, o que faz diferença não é a frequência de desentendimentos, mas a capacidade de o casal se comunicar, lidar com as questões necessárias e trabalhar em equipe para resolvê-las. Se não há mais abertura para um diálogo construtivo em que os dois têm um objetivo em comum, é hora de procurar um profissional para tentar reabrir esse espaço de troca. Quando as discussões mantém o respeito, elas podem ocorrer até na frente das crianças. “Se não houver violência verbal, o filho percebe que há uma vontade de acordo e começa a assimilar o diálogo como a melhor forma de lidar com problemas. Ele compreende que mesmo pessoas que se amam se desentendem, mas que é possível resolver com tranquilidade”, explica a psicoterapeuta familiar Teresa Bonumá (SP).

Mesmo com a chegada de outros filhos, a situação tende a ficar mais calma depois dos primeiros anos de vida do primogênito. Afinal, pai e mãe já sabem o básico para cuidar de um bebê, não precisam começar tudo do zero e provavelmente se encontraram nos papéis que funcionam melhor para a família. Conforme os anos passam e as crianças vão ganhando mais independência, os conflitos tendem a diminuir e o tempo livre para fazer atividades a dois é retomado. Vem então a satisfação de ter vencido juntos um dos maiores desafios na vida de qualquer ser humano e a certeza de ter deixado para o mundo um grande presente.

1. Distribuição desigual de tarefas

Quando apenas um dos parceiros fica encarregado (e sobrecarregado) com os cuidados com o bebê, tudo tende a ser mais complicado. É o caso de Thalita Arnaud, 31 anos, mãe de Leonardo, 2, que afirma entrar em conflito pela falta de participação do marido em tarefas cotidianas, como banho e alimentação. “O que mais me incomoda é a frase: ‘Mas você é a mãe’. Sim, sou a mãe e ele é o pai! A obrigação de cuidado não é apenas minha. Estamos conversando e aos poucos ele tem entendido”, afirma.

Por causa da amamentação, é natural que o bebê passe mais tempo com a mãe nas primeiras semanas, mas depois a família deve decidir o que funciona melhor. Se os dois trabalham, cabe uma divisão igualitária de tarefas. Já quando um passa a maior parte do dia fora e o outro fica em casa é importante entrar em um acordo para que ninguém fique exausto, lembrando sempre que cada um deve ter tempo para um momento exclusivo com o filho na rotina.

2. Limites e regras

“Como sou mais coração mole e meu marido mais rígido, não concordamos sobre os momentos em que uma correção é necessária. Isso acaba em briga”, conta Leidyany Mendes, 24, mãe de Leonardo, 4. A situação é comum e geralmente ocorre quando o casal foi criado sob diferentes formas de disciplinar. Nesses casos, o ideal é conversar longe da criança para que um não tire a autoridade do outro. “O diálogo em particular tem dado certo. Nós sabemos que os dois querem o melhor para o Leo”, diz.     

Para o casal Yuri, 32, e Keila Reis, 36, os conflitos são mais frequentes na hora de decidir as regras da alimentação de Júlia, 5. “Não quero que ela coma doces, nem mesmo em festas de aniversário. Uma alimentação saudável é essencial e trará diversos benefícios no futuro. Já minha esposa a deixa beliscar chocolates como recompensa por ter comido bem nas principais refeições”, conta Yuri. O consenso a que chegaram foi evitar exageros, além de se empenharem em explicar para a Júlia as propriedades nutricionais de cada alimento para que ela possa, no futuro, tomar sozinha a decisão do que deve ou não comer.

3. Amor e sexo

É inegável que a chegada do filho altera a vida sexual do casal. O tempo fica muito escasso e o cansaço toma conta dos dois. Mesmo assim vale fazer um esforço e encontrar uma brecha para namorar. De acordo com a psicóloga Gláucia Guerra, coordenadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário São Camilo (SP), para retomar o sexo é importante que pelo menos uma vez por mês o casal realize uma atividade prazerosa para ambos, como um jantar. “Isso é crucial para manter o relacionamento saudável e a consciência de que os dois não são apenas o pai e a mãe. Há um amor romântico também”, afirma. A partir daí, a cumplicidade aumenta e a intimidade dentro do quarto se torna uma consequência.

4. Um dos pais se sente em desvantagem

Se apenas um dos parceiros consegue sair com os amigos ou ir ao cinema há algo errado! Esses momentos, além de relaxantes, são importantes para a manutenção da individualidade, mas é preciso que os dois tenham a oportunidade de experimentá-los. De acordo com a sexóloga Carol Ambrogini (SP), colunista da CRESCER, o casal pode combinar antecipadamente que cada um terá pelo menos uma hora da semana para fazer algo para si, enquanto o outro assume o cuidado com o filho nesse intervalo: “É horrível pensar que a vida que você tinha antes termina com a chegada do bebê. É possível encontrar equilíbrio”.

5. Planejamento financeiro

Dinheiro (ou a falta dele) abala qualquer relação. E a chegada de uma criança pode deixar tudo mais difícil, pois os gastos só aumentam. Para Soraia Motta, 35, mãe de Márcio, 6, o assunto é delicado: “Temos discutido tanto sobre o que cada um gasta que até já fizemos isso na frente do nosso filho. Parte meu coração”, diz. Em situações como essa, fazer uma planilha mensal separando os gastos de acordo com temas (alimentação, saúde, roupas, escola) pode ajudar a família a identificar aonde o dinheiro está indo. Dessa forma, o casal poderá fazer juntos os cortes necessários. Para facilitar, os pais precisam decidir quem será o responsável por um gasto específico: um paga o aluguel e o outro faz as compras, sem deixar ninguém em desvantagem. Se você sente que essa ideia pode funcionar para você, vale distribuir os gastos proporcionalmente ao salário de cada um.

6. Interferência externa

Quando nasce um bebê, a maioria dos familiares quer ajudar, mas às vezes os palpites acabam atrapalhando a rotina do casal, que ainda está se adaptando. No caso de Joana*, 36, mãe de Carlos Eduardo, 7 meses, foi a sogra que gerou instabilidade. “Prefiro seguir os conselhos do pediatra e tenho minhas próprias concepções, o que ela não respeitava. Queria passar dias na minha casa interferindo na criação”, afirma. Ela conta que depois de conversar muito com o marido, ganhou seu apoio e hoje em dia a avó visita e convive com o neto, mas respeita os limites colocados pelos pais. Está passando por uma situação parecida? Marque um bate-papo formal com seu parceiro e o parente em questão para discutir o assunto. Essa conversa evitará discussões no calor do momento, onde provavelmente surgem posturas inflexíveis. Não esqueça também de fazer algumas concessões. Afinal, perceber que existem diferentes formas de ver o mundo é algo que faz bem para a criança. Portanto, não se incomode se as regras forem um pouco mais flexíveis nas visitas à casa dos avós, por exemplo.

7. Ciúme

Pode parecer estranho, mas é mais comum do que se pensa um dos parceiros se sentir enciumado com o relacionamento da criança com o outro. Rafaela Pinto, 28, mãe de Raul Filipe, 4, passa por isso e afirma que o marido reclama dizendo que os dois o deixam de lado. Existem várias causas possíveis e o primeiro passo deve ser conversar sobre o assunto com o parceiro para entender o que está por trás dessa insegurança – o que Juliana vem tentando fazer. Se o diálogo não resolver, procure perceber se você não se sente segura quando seu parceiro(a) cuida do filho ou acredita que ele(a) não faz as coisas tão bem quanto você. Inconscientemente, isso pode fazer com que você o(a) impeça de assumir um papel maior e formar um vínculo mais estreito com a criança, o que no futuro pode gerar o ciúme.

8. Maneiras diferentes de amar

“Meu companheiro é um desligado quando se trata de cuidados que considero simples com o bebê, como fechar a janela para trocá-lo após o banho. Ele demonstra amor com brincadeiras, enquanto eu dou carinho ao proteger. Ele dizia que eu era superprotetora e eu o acusava de ser descuidado”, diz Giovana*, 35, mãe de Pedro, 9 meses. Assim como acontece na família deles, as pessoas têm formas diversas de mostrar que se importam e não existe certo e errado. Vale lembrar que conviver com essa diferença é até benéfico para a criança que ganha repertório e consciência maiores sobre maneiras de dar afeto. Para Giovana, a vida familiar melhorou com um diálogo franco com o marido: “Disse que precisava do apoio dele e que apenas estava zelando pelo bem-estar do nosso filho. Demonstrei confiança nelee disse que o amava. Estamos mais unidos desde então”.

9. O dilema da cama compartilhada

Muitos especialistas argumentam que dividir o leito com as crianças compromete a intimidade do casal, mas incontáveis outros defendem que é a melhor decisão para algumas famílias. Na casa de Daiana Bortoloti, 35, mãe de Pedro, 6, e Arthur, 3 meses, o mais velho dorme junto com os pais e o pequeno em um berço no mesmo quarto. “Meu marido é a galinha da história e quer os pintinhos debaixo das asas. Não sou a favor, mas acabei concordando. Ele me convenceu com o argumento de que ‘eles crescem rápido’”, conta. Caso o casal opte pela cama compartilhada, o ideal é manter os momentos de privacidade em outro ambiente da casa ou definindo dias da semana para dormir sozinhos.

10. A escolha da escola

Encontrar o colégio ideal é um desafio. Fernanda Vida, 32, mãe de Lucas, 7, Beatriz, 6, e Pedro, 4, conta que passou dois anos buscando o local adequado para matriculá-los no ensino fundamental. “Meu marido queria uma escola convencional e eu procurava uma que tivesse o currículo mais aberto. Brigamos muito até decidir por uma instituição tradicional, mas de meio período. Uso o tempo livre para atividades criativas e visitas a parques e museus. Assim, suprimos uma necessidade que o colégio não atende tão bem. Não existe escola perfeita!”, diz. Além de fazer uma lista com os prós e os contras de cada escola, vale levar a criança para fazer aulas experimentais e ouvir a opinião dela, dependendo da idade.

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