• Vanessa Lima
Atualizado em
amamentação; pai; mãe; pós-parto (Foto: Thinkstock)

Quando o pequeno Arthur nasceu, sua mãe já estava munida de informações sobre amamentação. Joyce Lemos se preparou antes do parto, lendo tudo o que podia e tinha convicção de que ele seria alimentado com leite materno até quando quisesse. Havia apenas um detalhe: o bebê parecia ter preguiça e não queria saber de fazer esforço para sugar. Além disso, um dos seios tinha bico plano e outro, invertido, o que dificultava ainda mais o processo. Triste, a mãe não se conformava em ter de oferecer fórmula para o filho, mas não desistiu porque contava com uma ajuda essencial. "Meu marido fazia de tudo para me deixar tranquila e sempre me motivava. Ele dizia que o Arthur tinha que aprender a mamar e que uma hora daria certo. Em nenhum momento me disse para desistir. Foram incontáveis as idas dele à farmácia para comprar tudo o que pudesse ajudar: copinho, sonda, seringas...", lembra a professora de inglês de 29 anos. Em uma dessas viagens à drogaria, Marlon, o pai, foi em busca de uma bomba para tirar o leite, porque os seios de Joyce estavam cheios e nada de Arthur querer sugar. "Quando ele veio me ajudar com a ordenha, percebeu que a pressão puxava o bico invertido para fora e sugeriu que desse o peito em seguida. Fizemos assim e deu certo!', relata. Com 1 ano e 4 meses, Arthur mama até hoje!

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Embora alguns pais ainda não tenham consciência, um apoio como o que Joyce recebeu é fundamental para o sucesso do aleitamento materno. É o que comprova uma pesquisa realizada no Canadá, publicada na revista científica Pediatrics, da Associação Americana de Pediatria. Cientistas reuniram 214 casais prestes a ter seu primeiro bebê e os dividiram em dois grupos. No primeiro, os pais só receberam informações sobre amamentação na maternidade e no segundo, eles estudaram de seis a doze semanas antes do parto. Todos tinham a intenção de continuar a amamentação exclusiva até os seis meses da criança, mas o segundo grupo foi bem mais sucedido. Aos três meses, 95% das mães ainda davam de mamar, enquanto no outro, a taxa era de 88%. No primeiro grupo, as mães relataram estar mais satisfeitas com o apoio do parceiro e os pais mostraram maior nível de confiança. O estudo concluiu que quando as mulheres se sentem amparadas pelos companheiros, elas se enxergam como parte de uma equipe, e, assim, têm mais chances de manter a amamentação, mesmo quando se sentem exaustas ou inseguras.

Para a psicóloga especialista em aleitamento Bianca Balessiano, da consultoria Posso Amamentar, do Rio de Janeiro, essa compreensão dos pais tem aumentado, mas ainda é muito menor do que deveria. "Uma das razões disso é a licença-paternidade no Brasil, de apenas cinco dias corridos. Quando a família volta da maternidade para casa, não dá nem tempo de o pai se envolver com o processo porque já precisa trabalhar. Poucos são os que conseguem tirar um mês de férias quando nascem os filhos", aponta. Para ela, o sucesso da amamentação é mais provável quando o homem se envolve, porque a mulher precisa de um adulto presente, que compreenda esse momento e que crie um vínculo com ela e com a criança, já que amamentar é cansativo e esgota a mulher física e emocionalmente. "Há outras tarefas que qualquer pessoa na casa pode fazer, que é assumir o restante dos cuidados com a casa, com os filhos mais velhos, fazer comida... Mas essa conexão emocional é muito mais efetiva quando parte do companheiro", diz.

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NÃO PRECISA OFERECER MAMADEIRA
É comum termos a visão de que a ajuda do homem se resume a oferecer uma mamadeira para que a mulher possa dormir mais. "Não é disso que a mãe precisa. Ele pode fazer sua parte de outra maneira, pegando o bebê no colo, deixando as coisas à mão para a mãe, oferecendo um copo de água, uma massagem e simplesmente com a presença. Ele deve ser uma figura empática, que compreenda realmente o que está acontecendo ali e tentando se colocar no lugar dela o tempo todo", explica a psicóloga. Foi o que fez Marlon, pai de Arthur. "O homem sabe que a criança precisa mamar. Se não apoia, não está se importando com o filho. É uma coisa da mulher e não tem como ajudar diretamente, mas tem que incentivar", afirma. De acordo com Joyce, até hoje, ele acorda de madrugada, pega o bebê no berço e traz para Joyce amamentar. Marlon ainda rebate eventuais palpites da família e dos amigos, que perguntam até quando Arthur será amamentado. "Ele apoia o desmame natural", conta a professora de inglês.

Além da curta licença-paternidade, outro fator que costuma diminuir o envolvimento do homem nesse processo familiar é a cultura. "Eles sentem o impacto na família com a chegada do bebê, sentem as mudanças no relacionamento e na rotina, mas não são encorajados a falar sobre isso", afirma Bianca. Para ela, a melhor forma de ajudá-los a se soltar e a se engajar mais, é estimular a convivência com outros casais que passam pela mesma situação. Assim, os pais vão conversar e, como o assunto é comum, eles, eventualmente, chegarão nele, trocando informações e compartilhando experiências.

O QUE O PAI PODE FAZER PARA AJUDAR?

Mas se não podem amamentar eles mesmos, como os pais podem participar do aleitamento materno? Com a ajuda da consultora Bianca Balessiano, selecionamos 5 atitudes que fazem toda a diferença:

Buscar informação
Como revelou a pesquisa, o conhecimento é essencial. Antes mesmo de o bebê nascer ou até antes de engravidar, envolva seu marido na busca de informações sobre o assunto. Leiam juntos, assistam vídeos, procurem especialistas e frequentem grupos de apoio. Saber o que é a amamentação, a importância dela para o bebê e para mãe, conhecer os possíveis problemas e as técnicas é a melhor forma de se preparar.

Ser consciente e não criar expectativas erradas
O parceiro precisa entender o momento e entender que pode parecer fácil amamentar um bebê, mas não é. "Alguns homens ainda pensam que a mulher fica em casa sentada o dia todo com o bebê no colo durante o período de licença-maternidade e não compreendem como elas não conseguem nem escovar os dentes ou tirar o pijama. Eles precisam entender que amamentar é exaustivo, física e emocionalmente. Demanda muito da mulher". Não criar a expectativa de que tudo vai voltar a ser como era antes do nascimento do bebê imediatamente já facilita - e muito.

Estar presente
Em geral, na fase inicial do aleitamento, a mulher passa os dias e as noites com o bebê grudado nela. É bom ficar pertinho do filho, mas também pode ser enlouquecedor. "A mãe precisa da presença de um adulto que a compreenda e que esteja ali, emocionalmente conectado, para não surtar", diz Bianca. Mesmo que o homem não possa oferecer o peito para o bebê, ele pode estar junto. É uma forma de apoio.

Assumir outras tarefas
O pós-parto é um período exaustivo por si só. Como a mulher fica o tempo todo às voltas com o recém-nascido, é importante que o pai assuma as outras responsabilidades, como os cuidados com os filhos mais velhos, a organização da casa, providencie os alimentos, etc.

Meio-de-campo    
Esse período é mesmo complicado paras as mulheres que se tornam mães. Além de toda a adaptação que o nascimento de um bebê exige, elas ainda precisam ouvir comentários e palpites, muitas vezes inconvenientes. Cabe ao pai ser o intermediário e dizer às visitas qual é o limite. "Principalmente com a família dele. Às vezes, as mulheres têm liberdade com a família delas, mas com a do marido, nem tanto", lembra Bianca.

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