• texto – Malu Echeverria edição – Mônica Kato Foto – Tomás Arthuzzi/Editora Globo assistente de fotografia – Iago Fundaro Styling – Bruna Castro Produção Executiva – Mariana Costa Beleza – Danielle Gomes Cenário – Tamy Rente
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CF307-MAT-CAPA-SONO (Foto: Tomás Arthuzzi/Editora Globo)

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As noites maldormidas são uma das principais queixas dos pais de crianças pequenas desde sempre. Nem a realeza escapa. Quando o sobrinho Archie Harrison nasceu, no mês passado, o príncipe William, do Reino Unido, que já é pai de três, deu ao irmão Harry as boas-vindas ao “clube da privação do sono” em suas declarações à imprensa. De fato, no começo da vida, os bebês despertam várias vezes durante a madrugada e podem ter dificuldade para voltar a dormir, entre uma fase e outra do sono. É normal. A explicação está no desenvolvimento cerebral: “O ciclo de sono e vigília de um recém-nascido é fragmentado, porque o mecanismo que regula os ritmos circadianos [período de 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico dos seres vivos] não está totalmente amadurecido”, explica o neurocientista John Araújo, professor de cronobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Nos pequenos, de acordo com o especialista, tal ciclo dura apenas quatro horas, o que significa que o “dia” deles é mais curto.

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A boa notícia é que, com o tempo, essa situação tende a se normalizar, diz o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Ainda que não seja possível determinar a idade exata em que a criança vai dormir a noite toda, já que isso é influenciado por fatores individuais e hábitos familiares, espera-se que até os 2 anos o sono noturno seja mais longo, para alívio dos pais”, afirma.

Então por que, em muitas casas, as noites em claro continuam por anos a fio? A resposta pode estar ligada ao estilo de vida das famílias do século 21. “Estudos mostram que a população adulta reduziu em uma hora e meia o número de horas dormidas no último século. Imagino que esse déficit será maior daqui a um tempo por causa da influência dos gadgets que nos cercam, além do estresse do dia a dia. O que certamente também afeta a qualidade do sono das crianças”, afirma Moreira.

E a questão vai muito além do cansaço na manhã seguinte: dormir mal e menos do que o recomendado pode prejudicar o desenvolvimento das crianças agora e no futuro. “Seus filhos podem se sair melhor do que você depois de uma noite sem dormir. Eles têm a chance de tirar uma soneca aqui ou ali. Ainda assim, esses intervalos casuais não garantem os mesmos benefícios de uma boa noite de sono.

Pesquisas mostram que crianças cansadas mostram dificuldade em regular suas emoções e reter informações, além de maior probabilidade de apresentar problemas para dormir ao longo da infância, da adolescência e até mesmo na vida adulta”, alerta o pediatra Craig Canapari, diretor do Centro Pediátrico do Sono da Universidade Yale (EUA), no recém-lançado It’s Never Too Late to Sleep Train: The Low-Stress Way to High-Quality Sleep for Babies, Kids, and Parents (“Nunca é tarde para treinar o sono: o método de baixo estresse para um sono de qualidade para bebês, crianças e pais”, em livre tradução do inglês), Editora Rodale Books. No livro, o médico ressalta que o problema aumenta, ainda, o risco de a criança se tornar obesa – como comprovou uma revisão de estudos feita recentemente pela Universidade de Warwick (Reino Unido), com base em 42 pesquisas na área. Em resumo, a explicação está relacionada à “bagunça” que noites maldormidas provocam no nosso metabolismo. Não é à toa que ter hora para dormir e acordar é uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde, divulgadas recentemente, para prevenir o sedentarismo e a obesidade infantil.

Para Canapari, a qualidade do sono é a base para a saúde e o sucesso de todos os membros da família. “É primordial para o crescimento, para a segurança e para a felicidade”, diz o especialista, referindo-se à liberação do hormônio do crescimento, que acontece principalmente durante o sono, assim como ao perigo da direção de automóveis e outras máquinas sem a devida atenção. E, sim, a correria do nosso dia a dia está interferindo nesse cuidado.  O empresário Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, na intenção de amenizar a situação, criou uma “caixa do sono” para a esposa, Priscilla Chan, que tem a mania de olhar no celular a todo instante durante a noite, desde que se tornou mãe. Trata-se de um dispositivo de madeira que emite uma luz suave quando chega a hora de as crianças acordarem. Assim, ela não precisa ficar conferindo o celular a madrugada toda.

CF307-MAT-CAPA-SONO (Foto: Tomás Arthuzzi/Editora Globo)

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A ansiedade é apenas uma das razões que tiram o sono dos pais. A seguir, veja as principais mudanças e hábitos modernos que estão atrapalhando as noites de crianças e adultos, e como resolver esse problema na sua casa – se você não for tão engenhoso quanto o Zuckerberg.

1 - Falta de rotina

Deixar as crianças acordadas até tarde para matar a saudade causada por ficar o dia inteiro longe delas, quem nunca? Uma nova pesquisa publicada no Journal of Child and Family Studies (EUA) mostrou, aliás, que quanto mais rígido o horário de trabalho das mães, pior a qualidade do sono das crianças. Acontece que ter hora certa para dormir e acordar são fundamentais para criar bons hábitos de sono. Além disso, o hormônio do crescimento é liberado em maior quantidade no início da noite, daí a importância de as crianças irem para a cama mais cedo do que os adultos. Se você costuma chegar em casa quando o seu filho está prestes a dormir (ou já dormiu), caso não consiga negociar um horário flexível no trabalho, uma alternativa é acordar mais cedo para aproveitar o comecinho do dia juntos, sem pressa.

A dona de casa Rosane Fraga, 29, mãe de Julieta, de 2 anos e 9 meses, sofreu com a falta de rotina. “Por volta dos 2 anos, minha filha dormia bem. Mas como não era mais um bebê, descuidamos dos horários e ela começou a ver TV até tarde, o que trouxe consequências negativas”, diz. Como esse hábito já estava prejudicando até a vida do casal, Rosane resolveu dar um basta. “Segui as dicas de uma consultora de sono que uma amiga havia testado, respeitando os horários para deitar e levantar, incluindo as sonecas. Deu certo e recuperei a minha sanidade”, brinca.

Para garantir noites tranquilas na sua casa também, a pediatra Simone Fagondes, do Departamento Científico do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), recomenda que o bebê tenha horários regulares não só para dormir, como também para as demais atividades do dia – tomar banho, brincar, comer. “Outro cuidado fundamental é a redução dos estímulos à noite, tanto da luminosidade quanto dos ruídos e de brincadeiras muito agitadas”, diz. Por isso, que tal criar um ritual (de 30 minutos) para encerrar o dia de um jeito especial, começando pelo banho e pela escovação dos dentes, incluindo uma história ou canção de ninar e fechando com um beijinho de boa noite? É o que faz a economista Íris Mendes, mãe de Joaquim, 2 anos, e Sara, 7 meses, a bebê da capa desta edição. “À noitinha, ficamos um tempo brincando no chão da sala. Depois, dou banho e mamadeira para Sara, que dorme superbem e sozinha, no berço dela”, conta.

2 - Telas por todos os lados

É sabido que a luz azul emitida por celulares, tablets e computadores inibe a produção de melatonina, o hormônio que avisa o organismo que está na hora de dormir. Quando o uso for em um ambiente escuro, pior ainda, como revelou uma pesquisa recente feita com pré-adolescentes pela Universidade de Lincoln (Reino Unido) em parceria com o Instituto Suíço de Saúde Pública e Tropical (Suíça). Os resultados mostraram que aqueles que utilizavam o celular ou assistiam à televisão em um quarto iluminado tinham 31% mais chance de dormir menos do que os que não lançaram mão de nenhuma tela. A probabilidade subia para 147% quando a atividade era realizada no escuro.

Até pouco tempo, a única tela que roubava o sono dos pequenos era a TV. Mas as atrações voltadas para os pequenos terminavam no início da noite, período em que eles deveriam ir para a cama. Hoje, porém, há opções o dia inteiro, até de madrugada, sete dias por semana – seja na TV a cabo ou na internet. “Os neurotransmissores cerebrais que nos fazem ficar atentos nos impedem de dormir e, por isso, as telas fazem tão mal à noite”, diz o neuropediatra Antônio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). Por isso, a única saída nesse caso é evitá-las durante esse período ou, pelo menos, uma hora antes de ir para a cama. Como não adianta só proibir, sem oferecer nada em troca, em vez das telas, que tal aproveitar esse momento em família para ler um livro para o seu filho?

3 - Estímulos demais

Não são só as telas que deixam as crianças mais agitadas e atrapalham o sono, claro. A psicóloga Renata Soifer Kraiser, autora de O Sono do Meu Bebê (Editora CMS), explica que uma agenda cheia também exerce influências negativas. “Uma vez atendi uma criança que tinha por volta de 3 anos, bastante agressiva e com dificuldades para dormir. Tudo melhorou quando reduzimos as atividades extracurriculares dela para apenas uma: natação, e somente depois da soneca da tarde”, relembra. De acordo com a psicóloga, que presta consultoria para pais sobre esse assunto há 15 anos, o estresse gerado pelos inúmeros compromissos libera o hormônio cortisol, que nos mantém alertas. “É por isso que, mesmo cansados, não dormimos”, diz.  Brincadeiras que demandam muita energia corporal também têm de ser evitadas nesse horário pela mesma razão.

Até os passeios nos finais de semana, segundo Renata, devem levar isso em conta – especialmente se for na hora da soneca. Ou você nunca viu um bebê irritado no começo da tarde, aos berros, enquanto “se diverte” com a família no shopping center lotado? “As necessidades de adultos e crianças são diferentes, os pais precisam respeitá-las e entender que é uma fase. Elas não conseguem nos acompanhar em todos os programas, não adianta reclamar do choro depois”, resume.

CF307-MAT-CAPA-SONO (Foto: Tomás Arthuzzi/Editora Globo)

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4 - Sonecas de menos

E por falar em sono diurno, saiba que ele é fundamental não apenas para o seu filho descansar, como também para aprender. “A soneca tem a função de desocupar circuitos cerebrais para novos aprendizados, assim como consolidar a memória”, diz o neuropediatra Farias, do Hospital Pequeno Príncipe. De modo geral, ao final do primeiro ano, o bebê ainda faz duas sonecas diárias, uma de manhã e outra à tarde. Já no segundo ano, o descanso acontece normalmente uma vez ao dia e, entre o terceiro e quarto ano, essa necessidade desaparece espontaneamente.

O problema é que boa parte das crianças de hoje inicia sua vida escolar cada vez mais cedo, já que a maioria dos pais trabalha fora. O soninho, então, tende a ser reduzido ou mesmo eliminado da rotina. “Até por pressão dos pais, já que muitos dão mais valor a outras atividades escolares nesse período, como esporte. ‘Vou pagar para meu filho dormir?’, eles se perguntam”, conta a psicóloga Renata, que também atende instituições de ensino. Mas, pelo bem das crianças, seja em casa seja na escola, vale a pena criar um ambiente propício para incentivar o hábito. “O lugar onde a criança faz a soneca deve ser semelhante ao do sono noturno, em termos de iluminação e acústica, e o ideal é que a duração da sesta não seja superior a 45 minutos”, recomenda a pediatra Simone, da SBP. O descanso também vai fazer diferença à noite, já que um bebê irritado demora mais para pegar no sono.

5 - Hora de ir para a escola

Além de entrar na escola com idade precoce, nos grandes centros urbanos é comum as famílias saírem de casa ao raiar do dia, por causa do trânsito. E quem vai de transporte escolar sai mais cedo ainda. Acordar logo ao amanhecer não é exatamente um problema, pelo contrário. Era o que acontecia antes da invenção da energia elétrica e o nosso organismo ainda funciona melhor dessa forma. “No entanto, o número de horas de sono que o corpo precisa – que varia conforme a faixa etária – deve ser respeitado. Um bebê de 6 meses tem de dormir de 12 a 15 horas por dia (somando com as sonecas), por exemplo. Se a criança dorme tarde e acorda tarde, tudo bem. Mas se tem de se levantar cedo para ir à escola, a família precisa levar isso em conta e colocá-la na cama no horário adequado”, afirma o neuropediatra Farias.

6 - Hábitos alimentares

A obesidade infantil atinge atualmente dez vezes mais crianças e adolescentes do que nos anos 70, segundo a OMS. Mas saiba que o cardápio do seu filho também pode influenciar o sono, para o bem e para o mal. Bebidas com cafeína, por exemplo, assim como alguns tipos de refrigerantes, chá preto e chá-mate, café e chocolate, devem ser evitados no mínimo quatro horas antes de dormir. “Isso porque a ingestão desse estimulante atrasa a liberação de melatonina”, explica a pediatra Camila Martins Barbosa, do Sabará Hospital Infantil (SP). Ela também alerta que é preciso evitar nesse período alimentos muito gordurosos, de difícil digestão, ou açucarados, por deixarem os pequenos “animados”. De acordo com a pediatra, quando a hora de dormir se aproxima, eles não devem estar nem com fome, nem superalimentados. “Se for o caso, após o jantar, ofereça um lanche leve com frutas, pão, queijo (com pouca gordura, como o branco) ou leite”, afirma. Esse último, aliás, é um famoso indutor natural do sono por conter uma substância chamada triptofano.

Aqui, uma única ressalva. “Se a criança tem o hábito de pegar no sono tomando leite, seja do peito, seja da mamadeira, ela vai querer mamar novamente ao acordar no meio da madrugada”, diz a consultora do sono Michele Melão, da Maternity Coach (SP). Por isso, ela reforça que o bebê seja colocado no berço após a mamada, porém ainda acordado.
Chás de ervas, como camomila e erva-doce, que também são calmantes, podem ser aliados do bom sono, mas só devem ser consumidos a partir dos 6 meses e com o aval do pediatra. Lauren, que hoje tem 2 anos, tomava o seu diariamente, no início da noite. “Era tudo natural e sem açúcar. Além de diminuir as cólicas, ela dormia melhor. Foi receita da avó, aprovada pelo médico”, afirma a mãe, a contadora Laiza Silva, 29.

7 - Alergias e afins

Entre o segundo e terceiro ano de vida, Enzo começou a despertar inúmeras vezes ao longo da noite. A mãe, a advogada Juliana Galves Ferrari Sanches, 35, percebeu que havia algo de errado. “Ele roncava e se movimentava demais. Um otorrinolaringologista o diagnosticou com adenoide e rinite, mas disse que ele iria melhorar ao crescer”, conta. A situação, no entanto, piorou. A família buscou ajuda, então, de um alergista. Mas toda vez que a medicação era suspensa, o problema voltava com mais força. “Até que o terceiro especialista, também otorrino, observou que ele respirava mal logo no exame físico e, depois, solicitou uma polissonografia (exame detalhado do sono, que registra as atividades cerebrais, cardíaca, respiratória e muscular enquanto o paciente dorme). O resultado: 150 apneias totais e 144 despertares só naquela noite”, relembra Juliana. Após uma cirurgia para a retirada da adenoide e das amídalas, Enzo, que hoje tem 4 anos, passou a respirar e a dormir melhor. “Ele voltou a comer e a crescer também. Do jeito que o coloco na cama, ele acorda no dia seguinte”, conta a mãe, aliviada.

Há outros tipos de alergias que prejudicam o sono dos pequenos, segundo a pediatra Márcia Pradela, especialista em Medicina do Sono, professora do Curso de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). “Ainda que as respiratórias sejam as mais conhecidas, as cutâneas [urticária e dermatites] e as alimentares [intolerância à lactose e APLV – alergia à proteína do leite de vaca] também devem ser consideradas”, alerta. E como os índices vêm aumentando no Brasil e no mundo – as alimentares, só para citar um exemplo, já acometem até 8% dos menores de 3 anos no país, segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia –, preste atenção aos sintomas do seu filho (em crescer.com.br você encontra um dossiê sobre cada uma delas).

A boa notícia, segundo a especialista, é que esses problemas são fáceis de tratar. Daí a necessidade de avaliar o sono sob diferentes aspectos. “Dificuldades relacionadas ao sono podem ser tanto a causa quanto o sintoma de outros problemas, da obesidade à depressão. Não é apenas o número de horas dormidas que importa, como também a qualidade delas”, completa o pediatra Moreira, da Unifesp.

8 - Pouco tempo ao ar livre

E nada como brincar, correr e pular para promover a saúde, não é mesmo? De acordo com o neurocientista John Araújo, da UFRN, tudo isso também está diretamente atrelado a uma noite tranquila. “A atividade física facilita o sono noturno. Em primeiro lugar porque melhora o sistema cardiorrespiratório (e quando respiramos bem, dormimos bem). Além disso, ela também estimula o cérebro, o que favorece o descanso à noite”, explica. Se a atividade for ao ar livre, melhor ainda. “A exposição à luz natural favorece a regulação do ciclo de sono e vigília”, completa.

O especialista chama a atenção para a relação entre sedentarismo (olá, videogame), obesidade infantil e má qualidade do sono, comuns entre as crianças atualmente. “Virou uma bola de neve. Precisamos agir com urgência para ajudá-las a ter uma vida mais saudável”, conclui.

CF307-MAT-CAPA-SONO (Foto: Tomás Arthuzzi/Editora Globo)

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9 - Ansiedade

Ela é uma das principais causas de insônia em adultos, mas será que afeta também os pequenos? Ao menos indiretamente, talvez. Uma pesquisa da Universidade da Pensilvânia (EUA), publicada no periódico científico Sleep, mostrou que a saúde mental das mães durante a gravidez e no pós-parto, por exemplo, pode alterar a qualidade do sono das crianças. No estudo, os filhos daquelas que apresentaram sintomas de depressão nessa fase tinham mais chance de exibir distúrbios do sono em idade pré-escolar. Já entre aqueles cujas mães se sentiam mais felizes, os problemas para dormir diminuíram na mesma proporção.

“O resultado estimula os cuidados com a saúde das mães durante a gestação e endossa o papel familiar e da comunidade no apoio a elas. O que irá beneficiar não apenas as mulheres, como também o que diz respeito ao sono e à saúde de seus filhos no longo prazo”, afirmou a pesquisadora Jianghong Liu, autora do estudo. O pediatra Daniel Becker, do Instituto de Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda: “Se os pais não cuidarem do próprio sono, o cansaço vai levar à falta de paciência e prejudicar o vínculo com os filhos”, afirma.

Além de baixar as expectativas – o bebê vai chorar e acordar de madrugada, sim! –,  lembre-se de que você não precisa dar conta de tudo sozinha. É nisso que acredita a educadora parental Luanda Barros, de Brasília (DF). Nesse contexto, uma rede de apoio ajuda. “Mas ela é difícil de ser tecida, depende da disponibilidade do outro e de a mãe se abrir para isso”, diz a especialista, que é mãe de quatro filhos. Segundo Luanda, o casal deve dividir a responsabilidade de ensinar o bebê a dormir. “Juntos, eles vão encontrar a melhor estratégia. Sempre levando em conta que o que funciona para uma família nem sempre resolve o problema da outra”, diz.

Ao mesmo tempo, é preciso estar atento ao nível de ansiedade dos pequenos. “Ela pode ‘aparecer’ durante a noite de diversas maneiras. Pode ser pontual, como na véspera de uma viagem ou do aniversário, ou resultado de uma agenda puxada demais”, alerta a psicóloga Renata. De resto, a maneira mais fácil de manter um sono tranquilo para as crianças, garante a especialista, é ficar de olho na rotina. “Quanto mais previsível o cenário, menos ansiosa a criança fica,” reforça. Agora, se a questão for mais profunda, como a iminência de um divórcio dos pais, o que também afeta e muito o sono dos pequenos, ela sugere a ajuda de um psicólogo para restabelecer o equilíbrio da família.

10 - Mania de comparação

Os padrões de sono também são influenciados por questões individuais, segundo enfatiza o pediatra Canapari, da Universidade Yale. Não é à toa que um dos capítulos da obra se chama “Encontrando o melhor horário para o seu filho dormir”. “Todo mundo tem uma predisposição biológica para um certo cronotipo. Essa preferência inata é descrita na medicina como matutinidade/vespertinidade”, afirma. Ou seja, ainda que a maioria caia no sono naturalmente por volta das 20h30, algumas crianças gostam de dormir e acordar tarde. Além disso, umas dormem melhor no berço, enquanto outras, com os pais, e por aí vai. Sendo assim, cada criança é única. Nada de comparar o seu bebê com o da vizinha, que já dorme a noite inteira, ou com o próprio irmão, que nunca acordava de madrugada para mamar. Essa mania de comparação – resultado da cobrança pela perfeição que as mães do século 21 sofrem ou até mesmo impõem a si mesmas – só piora a situação, porque aumenta a ansiedade dos pais e, por consequência, a do filho também.

Em vez de se culpar porque as coisas não saíram como você imaginava, a recomendação da consultora do sono Michele é simples: seja um detetive do seu filho. “Ele fica mais tranquilo com o banho ao meio-dia ou antes de dormir? Acorda de bom humor? Se for o caso, anote! A partir dessa observação, você vai descobrir a rotina ideal para ele e fazer as adaptações necessárias”, diz. Assim, com certeza ele vai dormir melhor. E você também.

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