• Maurício Brum e Sílvia Lisboa
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CF303- SAUDE-ALERGIA (Foto: PRISCILA BARBOSA)

(Foto: PRISCILA BARBOSA)

A  impressão de que bebês e crianças sofrem mais do que adultos com certas alergias de pele, como a dermatite atópica, um dos tipos mais comuns – caracterizado por manchas avermelhadas e coceira intensa – tem base científica. Ela faz parte de uma evolução que os médicos chamam de “marcha atópica”, que é o caminho que o corpo vai percorrendo na relação com os alérgenos. Sendo assim, uma criança que sofreu com vermelhidão, irritação e muita coceira na pele tende a desenvolver outras alergias atópicas mais tarde, que se manifestam no sistema respiratório, como a rinite e a asma.

Mas alto lá: nem toda dermatite atópica é alérgica. A dermatite provocada por fralda, por exemplo, é irritativa – relacionada ao pH das substâncias com as quais a pele tem contato, no caso, a urina e as fezes. Já as brotoejas (a chamada dermatite de calor) são um tipo de dermatite causado pela obstrução nas glândulas sudoríparas, impedindo o bebê de suar corretamente. É importante diferenciar para o tratamento ser certeiro.

Crianças com dermatite têm a pele muito sensível, que reage de forma exagerada a substâncias como pólen, mofo, ácaros, pelos de animais, fragrâncias e corantes adicionados em loções e sabonetes, e mesmo por roupas de lã ou tecido sintético, formando lesões na pele. “Conforme vamos mudando para uma sociedade mais ‘moderna’, com mais poluentes no ar, mas com menos sujeira, menos filhos, menos irmãos, menos convívio com animais e a natureza, há uma tendência a ser mais alérgico”, aponta Pastorino.

As crianças alemãs sentiram isso na pele (e no nariz) após a reunificação do país, em 1990. Vivendo em uma região menos industrializada e mais pobre do que os vizinhos, as crianças da então Alemanha Oriental ficavam menos dentro de casa e tinham famílias normalmente maiores. Por lá, havia menos casos de dermatite e rinite do que no lado ocidental. Nos anos após a integração dos dois países e a mudança de hábitos, os casos dispararam entre os pequenos alemães orientais.

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Embora não haja cura conhecida, a alergia dermatológica tende a melhorar naturalmente com o crescimento da criança. “Há dois picos importantes, que acontecem na infância precoce e na adolescência. Se for muito grave, ela pode continuar no adulto, mas normalmente melhora”, diz Pastorino. Vale lembrar que a dermatite atópica pode ser confundida com a urticária crônica espontânea, também conhecida como UCE. Os sintomas das duas são parecidos, mas a UCE nem sempre tem como gatilho agentes externos porque é uma reação do organismo. Essa distinção não é simples e deve ser feita por um especialista.

Diferenciar isso é importante porque, se a causa da irritação for uma alergia dermatológica, há fatores de risco conhecidos – a vantagem é que, assim, os pais podem saber o que afastar das crianças para não agravar o quadro.

Foi o que fez a publicitária Clarissa San Pedro, 40, quando a filha Olga, 4, foi diagnosticada com dermatite atópica. Com quatro meses, a menina arranhava as bochechas para aplacar a comichão, e o aspecto da lesão piorava muito. Após o diagnóstico, veio um tratamento com pomadas de uso tópico e hidratante – muito hidratante. “Os banhos ficaram mais curtos e menos quentes, e mantínhamos as unhas bem curtas para que ela não machucasse a pele quando coçasse”, recorda a mãe.

Conforme Olga crescia, a dermatite migrou. Do rosto foi para as dobras do corpo – sempre acompanhada de coceira. Para controlar as lesões, o jeito foi tornar a hidratação da pele um hábito, já que esse cuidado constante faz com que as crises sejam cada vez mais espaçadas, pois a camada sobre a pele ajuda a protegê-la dos agressores. A menina está bem melhor hoje.