• Vanessa Lima
Atualizado em
A obesidade das crianças pode estar ligada à percepção das mães (Foto: Thinkstock)

A obesidade das crianças pode estar ligada à percepção das mães (Foto: Thinkstock)

“Daqui a pouco ele cresce, estica e emagrece”. É comum ouvir pais e mães dando justificativas parecidas com esta quando o filho está acima do peso. No entanto, essa percepção pode ser um fator-chave para que a criança desenvolva ou mantenha sem controle um quadro de obesidade. É o que sugere uma pesquisa recente, realizada na Universidade de Houston, nos Estados Unidos. Cientistas do Departamento de Saúde e Performance Humana analisaram questionários respondidos por 70 mães de origem latina e de baixa renda e perceberam que o risco de desenvolver obesidade ou subnutrição pode estar ligado à maneira como a mãe vê o peso do filho.

De acordo com o estudo, 54% das mães de crianças obesas ou com sobrepeso achavam que seus filhos tinham um peso normal. “É difícil diminuir as taxas de obesidade se os pais não são capazes de detectar se seus filhos estão acima do peso. Eles podem achar que as crianças não terão problemas com o peso no futuro quando eles ficarem mais altos ou mais velhos, mas a situação claramente requer intervenções para promover um estilo de vida mais saudável”, diz Daphne Hernandez, uma das professoras envolvidas na pesquisa.

“A mãe está em contato com o filho todos os dias e perde a noção do ganho ou da perda de peso progressiva”, diz Louise Cominato, endocrinologista pediátrica e coordenadora do ambulatório de obesidade do Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas, em São Paulo (SP). “Minha impressão é que a percepção da má-alimentação e perda de peso pelas mães brasileiras é muito mais frequente do que a percepção da obesidade, ou seja, a mãe nota que o filho está perdendo peso, mas não que está ganhando”, opina.

Ser gordinho é sinônimo de ser saudável?


Por mais que as campanhas de combate à obesidade e os alertas sobre o perigo da doença - principalmente quando se fala de crianças – tenham aumentado, ainda há quem acredite que uma criança gordinha é, necessariamente, uma criança com saúde. “O problema é o significado que atribuem àquele peso. Dois fatores podem dificultar essa percepção: o fato da criança estar crescendo, quando há também a variável da altura como fator de confusão, e a cultura disseminada de que nos primeiros anos de vida, quanto mais pesado, mais saudável”, diz o endocrinologista pediátrico Felipe Monti Lora, do Hospital Infantil Sabará (SP).

A médica do Hospital das Clínicas concorda: “Essa imagem de saúde e bebê gordinho foi muito ‘vendida’ na década de 1970, pelas indústrias produtoras de leite industrializado. O objetivo era desacreditar o aleitamento materno e incentivar o consumo, aumentando o lucro. As consultas pediátricas são fundamentais para a avaliação da saúde da criança. Só considerar o peso, sem correlacionar com a criança como um todo, não tem sentido”. Ela explica também que, para saber se o peso do seu filho está saudável, é importante consultar o pediatra sobre o Índice de Massa Corpórea (IMC) e não só sobre o peso.

Sem comparações


Um dos argumentos usados pelas mães que participaram do estudo norte-americano é a comparação. Para Louise, o aumento da obesidade e sobrepeso em nosso meio também é um problema. “Quando a mãe compara com o amiguinho também acima do peso ela acha que está tudo bem”, lembra.

De acordo com o médico do Hospital Infantil Sabará, o peso deve ser avaliado individualmente pelo especialista. O ganho recomendado varia de acordo com o contexto e com a situação de cada paciente. “O metabolismo é de cada indivíduo e pode acontecer de uma pessoa precisar de mais atividade física que outra para emagrecer. A obesidade tem muitos fatores (conhecidos e desconhecidos) e, com certeza, existe tanto a predisposição genética quanto a influência do ambiente, que interagem entre si”, explica Lora. Ele dá ainda outro exemplo para mostrar que cada caso é diferente e deve ser analisado com cuidado: “Os prematuros que nascem pequenos têm um risco maior de serem ‘poupadores de energia’, fazendo estoques de gordura e aumentando o risco de obesidade no futuro. Portanto, seu ganho de peso nos primeiros anos de vida deve ser mais lento”.

O contrário também acontece


Além de chamar a atenção para a obesidade, a pesquisa da Universidade de Houston aborda também o problema contrário. De acordo com o resultado, há também os pais obcecados com o excesso de peso, que acabam passando essa preocupação para as crianças de maneira desproporcional. “Em saúde, tudo o que é excesso é ruim. O exagero na preocupação com o peso pode gerar ansiedade, depressão e transtornos alimentares”, destaca a endocrinologista pediátrica do HC. O ideal, portanto, é fazer o acompanhamento com o pediatra e equilibrar as refeições, preferindo alimentos saudáveis e estimulando a prática de exercícios, sem passar dos limites.

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