• Bruna Menegueço
Atualizado em
Atul Singhal durante palestra em Congresso de Atualização em Pediatria (Foto: Divulgação)

Atul Singhal durante palestra em Congresso de Atualização em Pediatria (Foto: Divulgação)

Nossa, mas que bebê fofo! Olha só, que delícia de perna rechonchuda! É assim que, ainda hoje, muitos veem (e elogiam) uma criança acima do peso. É difícil perceber e aceitar a obesidade de um filho, principalmente de um bebê com menos de 1 ano. Aos olhos dos pais e familiares, as dobras são sinal de saúde – e um motivo a menos para se preocupar. Mas cada vez mais a ciência reforça o “conceito de programação”, ou seja, a qualidade e a quantidade de alimentos oferecidos nos primeiros meses têm efeitos duradouros ao longo de toda a vida.

É exatamente isso que defende o pediatra indiano Atual Singhal, chefe do Centro de Pesquisa em Nutrição na Infância do Instituto de Saúde da Criança, em Londres, na Inglaterra, que conduziu mais de 10 pesquisas sobre amamentação e alimentação na infância.

Em entrevista exclusiva à Crescer, que aconteceu durante um Curso de Atualização em Pediatria, em Fortaleza, ele argumenta que o leite materno é o melhor alimento que as mães podem oferecer aos seus filhos porque gera um crescimento equilibrado e diminui as chances de obesidade, hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto no futuro. E se você não puder amamentar, o conselho principal é: respeite a saciedade do seu filho. Confira!

CRESCER: Bebês que crescem rápido e têm uma aparência saudável são o sonho de todas as mães. Mas você defende que esse crescimento acelerado talvez não seja tão saudável quanto pensamos. Você pode explicar por quê?
ATUL SINGHAL:
Sim. Nós costumamos pensar que, quanto maior o bebê, mais saudável ele é. Agora, sabemos que os bebês que crescem muito rápido têm maior risco de sofrer com obesidade e doenças cardiovasculares no futuro. O mais importante é que o ritmo de crescimento não seja nem tão rápido nem tão devagar. Em nossos estudos, produzimos quadros de crescimento baseados em um grupo de bebês alimentados com fórmula e outro que mamava no peito. Comparando ambos os gráficos, concluímos que aqueles alimentados com mamadeira cresciam mais rapidamente do que os outros. O ideal é que o crescimento seja distribuído, formando uma linha ao longo do quadro. Os que ficam acima dessa linha estão crescendo muito rápido e os que ficam abaixo, muito lentamente. Os médicos e as enfermeiras já estão acostumados a cuidar dos bebês que estão abaixo da linha do crescimento esperado, geralmente porque eles não estão recebendo leite suficiente, por exemplo. Mas a novidade é que, agora, os médicos também terão que se certificar se o bebê não está engorgando rápido demais.

C.: Algumas mães que amamentam no peito se sentem culpadas por achar que o leite materno não é o suficiente para sustentar a criança. Muitas vezes, elas acabam pedindo ajuda para o pediatra e iniciam a fórmula. Isso é recomendável?
A.T.:
Não, isso é um problema. Ao amamentar, a mulher não sabe mesmo quanto leite está dando ao bebê e é natural ficar preocupada se ele está mamando o suficiente. O que revela se ele está sendo bem alimentado é o quadro de crescimento e o ganho de peso. Se ele está engordando da maneira ideal, está tudo perfeito. Nós, pediatras, devemos conscientizar as mulheres e ensiná-las sobre como amamentar corretamente, de forma que se sintam seguras e tenham certeza de que o bebê não está com fome. Mas essas coisas levam tempo para ser assimiladas e, na maioria das vezes, a indicação da fórmula vem antes do aprendizado.

C.: E as mulheres que não podem amamentar os filhos? O que você recomenda?
A.T.:
A única maneira de alimentar um bebê que não pode ser amamentado pela mãe é a fórmula. Qualquer outra alternativa é muito perigosa. Mas esse tipo de nutrição costuma deixar a criança maior do que as que mamam no peito. De qualquer forma, já podemos comemorar. Ao longo dos anos, as fórmulas sofreram redução de proteínas em sua composição justamente para que os bebês não cresçam tanto.

C.: Quando a fórmula fortificada deve ser indicada?
A.T.:
Se o bebê está crescendo, então a fórmula comum é tudo o que ele precisa. Mas, se ele não está se desenvolvendo bem, o pediatra deverá avaliar a situação e a necessidade de adicionar as fórmulas fortificadas. A decisão sempre deve ser do médico.

C.: Se você pudesse deixar uma mensagem para as mães brasileiras que se sentem culpadas por não conseguir amamentar, o que diria?
A.T.:
Como sabemos que amamentar no peito é a melhor opção para o bebê, você deve tentar, tentar e tentar. Ouça conselhos de profissionais e de outras mães que amamentaram. Mas, se mesmo assim não conseguir, tudo bem. Digo apenas para as mães estarem atentas ao excesso de fórmula para que o bebê não engorde demais. A quantidade deve ser o suficiente para deixá-lo saudável.

C.: Há diversas causas que levam à obesidade. Você poderia dizer 5 coisas que os pais podem fazer desde o nascimento do bebê para  prevenir a obesidade?
A.T.:
Há muitas coisas a serem feitas. A primeira delas: tente amamentar até o 6º mês e não adicione nenhuma comida sólida até esse período. É importante lembrar que o paladar do bebê, em toda a vida futura, depende daquilo que você ofereceu nos primeiros meses. Então, se quer que seu filho coma frutas e vegetais, dê esses alimentos a ele desde o começo. Sabemos que crianças em idade escolar apresentam mais resistência e aí fica bem mais difícil de introduzir alimentos saudáveis e mudar o paladar. No começo da vida, os bebês não têm escolha, a escolha alimentar é toda dos pais.

Fora isso, seja o exemplo: ele precisa ver você comendo frutas e vegetais. O que as pessoas não sabem é que, nas primeiras cinco ou seis vezes, o bebê pode não aceitar a comida. Eles gostam de coisas doces, mas precisam desenvolver o paladar para outros sabores. Você pode chegar a tentar 18 vezes até que seu bebê aceite o alimento e goste dele. Os pais não devem usar a comida como recompensa. Também não se deve punir com comida – nunca force o bebê a comer mais do que ele aceita, se ele estiver dentro do peso ideal.

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