• Mônica Pessanha
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Mães relatam que são as principais responsáveis por aulas online (Foto: Pexels.)

Quando superprotegemos nossos filhos, tiramos deles a oportunidade de saber que é possível falhar (Foto: Pexels.)

Frequentemente, recebo pais que me procuram extremamente angustiados com o fato de não entenderem por que os filhos se sentem insatisfeitos e muitas vezes, deprimidos, mesmo quando têm tudo o que pedem. São pais e mães ansiosos e exaustos, prestes a explodir, pois não sabem mais o que fazer para agradar e demonstrar que amam os filhos. Talvez, você se identifique um pouco com esse breve quadro que acabei de desenhar aqui.
Tempo engraçado esse que estamos vivendo, não? Os pais estão sob pressão da sociedade, que os obriga a ter sucesso em todas as áreas. Eles se sentem pressionados a ser os melhores no trabalho e querem ser pais exemplares, perfeitos. O medo de fazer o mal e de serem julgados pelos outros os paralisa cada vez mais. Inconscientemente, eles projetam todas as esperanças de sucesso nos filhos. Mas eles estão sem tempo. Assim, consumidos pela culpa de não verem os filhos o suficiente, eles tentam responder e antecipar todos os desejos das crianças.

É aí que a estratégia vista como ferramenta para educar os filhos, começa a se mostrar como erro de cálculo. Muitas pais acham que estão na direção correta quando buscam atender a todas as supostas necessidades de seus filhos, mas, na realidade, estão errados. Superprotegendo, eles os enfraquecem mais do que qualquer outra coisa. Já se perguntaram por quê? Bom, devo começar dizendo que as crianças, hoje, não têm mais tempo para sonhar com o que pode torná-las felizes, pois seus desejos são imediatamente realizados e, às vezes, até antecipados. Vamos pensar: como estar pronto para o fracasso ou mesmo para uma simples dificuldade, quando temos alguém que faz tudo por nós? Quando alguém inclusive antecipa nossos desejos?

Como pais, quando superprotegemos nossos filhos, tiramos deles a oportunidade de saber que é possível falhar, antes de vencer. Não só isso: como ajudar a criança a dar conta da angústia que a falta gera, se ela nem consegue desejar, já que seus desejos são atendidos mesmo antes de elas os externarem? Parece óbvio, mas não podemos nos esquecer de preparar nossos filhos desde cedo para lidar com as dificuldades, frustrações e vicissitudes da vida. Por exemplo, a criança que joga um objeto no chão testa o adulto. Ela deve entender que os pais nem sempre estarão lá para pegar. Quanto mais acostumamos a criança a lidar com as frustrações, mais a ajudamos a se tornar independente.

Você não pode imaginar o prazer que uma criança sente quando consegue fazer algo por conta própria. Ao contrário, ao ajudá-la, ao projetar nela nossos desejos e ambições, acabamos por oprimí-la. Assim como é inútil superestimá-lo, buscar a todo custo desenvolver suas habilidades impondo-lhe um ritmo frenético de atividades extra-escolares tem o mesmo efeito: ansiedade, depressão, raiva ... Os sintomas de desconforto.

Pode parecer que não, mas da minha experiência de mais de 20 anos no consultório, fico cada vez mais convencida de que nossas crianças estão cansadas. E muitos dos comportamentos que fazem com que os pais busquem ajuda terapêutica para elas está, em parte, relacionada a essa idealização. Seja como for, a mensagem das crianças é simples: elas não entendem esse ritmo que lhes é imposto e esse olhar parental perpetuamente focado nelas. O problema é que, na maioria das vezes, os pais pensam que estão fazendo a coisa certa quando fazem tudo por elas ou preenchem cada minuto de sua agenda.

Mas como encontrar o equilíbrio? Amem e protejam, sem sobrecarregar seus filhos. Ajudem-no a se tornar independente. Os pais têm o poder de resolver um grande número de questões que podem ser fonte de angústia nos filhos, desde que tenham consciência da existência de um problema. Quando sentam e analisam a situação, os pais podem utilizar seu poder instintivo e natural para saber o que devem ou podem fazer para mudar as coisas. Além disso, mantenha em mente que uma criança pequena precisa, acima de tudo, de carinho, o que é essencial para seu equilíbrio, mas que também devemos dar a ela o espaço e o tempo necessários para que possa sonhar e expressar sua criatividade.

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos.