• Fernanda Montano
Atualizado em
Primeira infancia (Foto: Thinkstock)

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A inda dentro da barriga da mãe, o bebê já está aprendendo. Quando nasce, é uma nova sensação atrás da outra, cérebro fazendo sinapses a uma velocidade impressionante e seu desenvolvimento acontece de maneira rápida e intensa. E assim será durante os primeiros anos de vida, repletos de conquistas e descobertas – não é à toa que tanto se fala da importância de um olhar com cuidado para a primeira infância. Mas o que influencia esse processo? A carga genética que o bebê traz da família? O ambiente em que ele vive? Suas próprias experiências? Tudo isso, ao mesmo tempo e agora. Para Anna Chiesa, enfermeira, professora da USP e consultora da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, a herança genética está presente e não pode ser menosprezada, mas a ciência já mostrou que o ambiente e a vivência são tão relevantes quanto. “Irmãos gêmeos, com a mesma carga genética, terão experiências variadas e podem apresentar temperamentos distintos, o diferencial é a vivência. Em ambientes ricos de estímulos apropriados e afeto, em que o adulto demonstra interesse pela criança e onde ela é protegida e se sente segura, com certeza ela se desenvolverá bem”, afirma.

Anna lembra ainda que, para crescer, a criança depende muito da interação com o adulto. “Esse contato não é substituível pela tecnologia”, alerta. A afirmação reforça a importância do afeto na relação com os pais e cuidadores para que o bebê progrida. A pediatra norte-americana Diane Cullinane é especialista em desenvolvimento e diretora executiva do Professional Child Development Associates, na Califórnia. Para ela, existem muitos fatores que influenciam o desenvolvimento: alguns são simplesmente genéticos, outros estão relacionados à saúde da criança e sua experiência com o mundo. Mas ter uma relação amorosa com os pais é provavelmente o mais importante. “Uma criança se beneficia se tiver contato com vários tipos de ambientes e pessoas diferentes. Porém, o relacionamento com os pais é sempre o fator mais importante para o aprendizado”, diz. Uma pesquisa recente da Universidade de Washington, nos EUA, comprovou exatamente o poder desse amor. O estudo, feito com 127 crianças em idade pré-escolar, mostrou que a interação entre mãe e filho pode fazer dobrar de tamanho o hipocampo, região do cérebro associada ao aprendizado, à memória e à regulação das emoções.

VIVA A NATUREZA

Em um ambiente natural e ao ar livre, a criança tem uma riqueza de aspectos para observar muito maior do que dentro de casa. Possibilitar que a criança tenha contato com tudo isso dá suporte para que ela desenvolva a criatividade e o aprendizado de maneira ainda mais intensa. Foi o que percebeu a fotógrafa Marcia Fernandes, mãe de Mel, 10 anos, Gael, 5, e Zion, 2. Eles moram em apartamento e os pais tentam compensar levando as crianças para brincar ao ar livre o máximo possível. “A parada na pracinha na volta da escola, por exemplo, é sagrada”, conta. O contato com os animais também é muito benéfico para o desenvolvimento das crianças, no que diz respeito à coordenação motora, senso de responsabilidade e afeto.

COM AMOR, MAS SEM PRESSA

Nessa interação tão importante, os pais criam muita expectativa para acompanhar as conquistas dos filhos e acabam atropelando o processo. Cada criança é única, tem seu ritmo e deve ser respeitada – isso também é amor. Portanto, não há necessidade de estimular em excesso. O máximo que você vai conseguir é estresse, frustração e etapas ultrapassadas na correria. Esteja atento ao bebê, ao que ele manifesta como interesse e necessidade. “É um processo rápido, em 15 dias você tem outra criança dentro de casa. Por isso, é importante prestar atenção para, então, trabalhar estímulos nas diferentes áreas”, lembra Anna Chiesa.
Para não exagerar, basta atenção e criatividade. É o que faz a geógrafa Andreia Quintão, mãe de Miguel, 5 anos, e Lucas, 2. Quando o mais novo era menor, ela fazia móbiles Montessorianos (de papel e tecido) para ele observar. Conforme notava que Lucas já prestava atenção em outras coisas, mudava os formatos, colocando sons, até que ele começou a querer pegar. “Aí eu fazia o móbile com diferentes texturas e colocava a uma distância que ele pudesse tocar o objeto”, lembra. Andreia não gosta dos brinquedos que “brincam sozinhos” e procura oferecer aos filhos opções mais educativas e com material reciclável.

A CADA CONQUISTA, UM NOVO MUNDO

O desenvolvimento motor é o que possibilita novas habilidades cognitivas na criança. Isso porque a cada novo movimento que consegue fazer, um mundo se abre à sua frente. Ao engatinhar, por exemplo, sua perspectiva muda completamente, assim como ao ficar de pé, andar, falar e ser compreendido. Por isso é tão importante deixar que a criança conheça e explore diferentes ambientes. “Quanto mais ela for incentivada a olhar e se integrar a esse ambiente, vai adquirindo confiança no processo de incorporar novas habilidades”, explica a enfermeira Anna Chiesa.

EXPLOSÃO DE SENSAÇÃO

As habilidades cognitivas são desenvolvidas no bebê por meio dos estímulos sensoriais. Aqui entram o olho no olho, o toque, o contato pele a pele, o cuidado, a amamentação. Momentos simples da rotina, como a troca de fralda e o banho, são fundamentais nesse processo. Pode não parecer, mas seu filho aprende muito ali. “O desenvolvimento cognitivo da criança acontece por meio das experiências afetivas com seus cuidadores. Elas aprendem sobre amor e confiança ao serem carregadas, alimentadas, embaladas. Depois, aprendem a lidar com a raiva, a frustração e o medo também por meio de padrões de interação com os cuidadores”, diz a pediatra norte-americana Diane Cullinane.

Pés (Foto: Thinkstock)

(Foto: Thinkstock)

BOA NARRATIVA

Acompanhando o desenvolvimento cognitivo, chega a tão esperada fase das primeiras palavras. Mas não ache que você só deve estimular quando começar a ouvir tentativas de “mamã” ou “papá”. O bebê ouve a voz dos pais desde o útero e é capaz de reconhecê-la desde o nascimento. Conversar sempre com a criança, narrando o que está fazendo, como no banho ou na troca, por exemplo, é fundamental para que ela comece a entender a ação e reação relacionadas ao que ouve. Outros estímulos possíveis desde os primeiros meses são músicas de variados ritmos e a leitura.

Por volta dos 4 meses, começa a fase dos balbucios – um indicador básico do desenvolvimento cognitivo da criança. Até os 6 meses, passa a imitar sons. As primeiras palavras costumam aparecer entre 9 e 12 meses e, com 1 ano e meio, começa a combinar duas palavras, como “dá papá”. “O que se espera é até os dois anos uma combinação de duas a três palavras com um vocabulário de até 150 palavras. É importante lembrar que o desenvolvimento da linguagem está ligado diretamente ao ambiente em que a criança vive”, afirma Karine de Camargo, fonoaudióloga do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

O PEQUENO TAGARELA

Outras dicas em relação à fala são sempre nomear o objeto que for apresentar à criança, de preferência sem o uso de diminutivos ou apelidos. Um ponto importante também é não cair na tentação de atender aos pedidos de bate pronto quando ela somente apontar o objeto ou disser apenas “dá”, por exemplo. “Quando a criança começa a verbalizar é fundamental que seja falado corretamente com ela e solicitado que peça o que quer e não aponte”, orienta a pediatra Caroline Gabardo, da Sociedade Paranaense de Pediatria. É assim que faz a advogada Mariana Alvarenga, mãe de Theo, 2 anos. “Fico impressionada como ele se comunica. Com 1 ano e 8 meses já se expressa com tanta clareza, forma frases, fala palavras inteiras e ‘difíceis’, como mamadeira”, diverte-se.

CABEÇA, OMBRO, JOELHO E PÉ

O desenvolvimento motor começa de cima para baixo. Por isso, primeiro o bebê consegue segurar a cabeça, depois, controla o movimento dos braços e mãos, então senta, anda, e assim por diante. Veja a seguir quando essas conquistas acontecem – lembrando sempre que cada criança tem seu ritmo. Querer apressar as coisas e pular etapas não é saudável, como lembra a psicopedagoga Maria Silvia Martinucci, proprietária da Gymboree Play & Music, espaço para bebês e crianças em Curitiba (PR). “Costumo dizer que o processo de desenvolvimento da criança é como subir em uma escada. Subir correndo pode levá-la a tropeçar.”

3 meses: nessa fase o bebê já está mais firme e consegue sustentar a cabeça. Também começa a tentar segurar objetos.
5 meses: no chão, consegue rolar para deslocar-se pelo ambiente.
6 meses: já ergue os braços para pedir colo e muitos conseguem manter-se sentados, com ou sem apoio. Até o sétimo mês, quase todos os bebês sentam sem apoio.
9 meses: normalmente estão prontos para engatinhar. Também já batem palmas e dão tchau.
12 meses: anda com apoio. Até os 15 meses geralmente todos andam sem apoio, sobem escadas engatinhando e usam copos e talheres nas refeições.
18 meses: aqui normalmente o bebê já corre – e muito!
2 a 3 anos: dá cambalhota com ajuda, pula com os dois pés e consegue andar para trás.
3 a 4 anos: sobe escadas alternando os pés, segura o lápis usando o polegar e o indicador e anda na ponta dos pés.
4 a 5 anos: fica apoiada em um pé só, recorta curvas no papel e abre e fecha zíperes e botões.
5 a 6 anos: pula corda, aprende a amarrar o cadarço e muitas já andam de bicicleta.

Você sabe... Você sabe...

...por que o bebê gosta tanto de espelho? Porque ele ainda não se reconhece ali e pensa tratar-se de outra criança. Isso porque, até cerca de 6 meses, ele enxerga a si mesmo e à mãe como uma pessoa só. Normalmente, só passa a entender que aquela imagem é dele mesmo por volta de 1 ano. Na casa da analista de TI, Milena Ornelas, mãe de Maria Julia, 1 ano, a brincadeira de se olhar no espelho virou rotina. Desde bem pequena a menina adorava ver o reflexo ali e, a partir de 6 meses, a mãe passou a colocá-la em frente a um espelho todos os dias antes do banho, já sem roupa. “Ela dá muita risada. Fica se olhando, então, olha para a gente, para o espelho novamente. Adora se admirar”, brinca.

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