• Marcelo Cunha Bueno
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Criança precisa de gente. Criança aprende se relacionando, se conectando às pessoas que ama. Criança cresce melhor quando está no mundo da coletividade.

criança escola (Foto: Thinkstock)

(Foto: Thinkstock)

O papel da família é essencial para que ela desenvolva um olhar sensível ao mundo. A família é responsável por gerar os conteúdos da intimidade. Construir as bases para tudo aquilo que é do íntimo, do eu. Alimenta o coração, nutre a alma. A criança começa a entender e a decifrar o mundo de acordo com as traduções que seus adultos fazem dele. Está aí a importância de darmos amor genuíno sempre: quando uma criança recebe amor, entende que o mundo precisa ser composto por ele. Um dia, devolverá esse amor ao mundo.

Mas chega um momento em que as crianças precisam levar essa intimidade para ser testada, para ser enriquecida pela diversidade infinita que o mundo nos apresenta. Daí a importância da escola. A escola é a representação desse mundo na infância e é o lugar seguro para elas praticarem suas vontades e desejos, adaptando-os ao ritmo do coletivo. Socializar é se conhecer.

Quanto mais oportunizamos experiências sociais às crianças (escola, parques, brincadeiras com primos e amigos, amigos do prédio, de casa, da rua), mais amplificamos o entendimento que elas terão desse universo tão diverso, e mais as encorajamos a serem autônomas.
 

“As crianças nos vigiam o tempo todo. Para aprender”

Marcelo Cunha Bueno

Tem um ditado antigo que diz: amar é deixar o outro ir. Isso significa que, quando a gente estimula o contato social, escolhe a escola, a gente diz para a criança: vai, eu sei que você consegue. Isso é prova de amor, de cuidado, de entendimento. E quem não se sente amado quando alguém nos diz isso?

Os adultos têm de entender que as crianças nos vigiam o tempo todo. Para aprender. No começo, copiam para se regularem. Depois, assumem esses comportamentos tornando-os parte de quem são. Viu como não dá para negligenciarmos falas, gestos e posicionamentos?

Tanto na escola como em casa, devemos ser, também, tradutores da complexidade da vida em grupo. As crianças não nascem sabendo se relacionar. Aprendem no caminho, contrapondo as regras e dinâmicas de casa e do mundo social. Por isso, muitas vezes, parecem tão diferentes nos discursos da escola e da casa. Porque experimentam possibilidades de ser e estar diferentes em cada espaço. O adulto tradutor é aquele que cola a experiência da criança ao contexto social e às dinâmicas daquele coletivo específico, entregando para a criança uma linha racional e afetiva para que, aos poucos, ela se constitua como ser social, ético.

Amor caseirinho, escola, experiências diversas, tradução e, sobretudo, modelo são a chave para ligarmos o mode on do afeto, respeito e cuidado de que esse mundo tanto precisa.
 

Marcelo Cunha Bueno é um educador apaixonado pela infância. É pai do Enrique, 9 anos. Diretor da Escola Estilo de Aprender, autor dos livros 'Sopa de pai' e 'No chão da escola: por uma infância que voa' (Foto: Divulgação)

Marcelo Cunha Bueno é um educador apaixonado pela infância. É pai do Enrique, 9 anos. Diretor da Escola Estilo de Aprender, autor dos livros 'Sopa de pai'; e 'No chão da escola: por uma infância que voa'(Foto: Divulgação)