• Chris Nicklas
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Com apoio da família as chances de prosseguir com a amamentação aumentam (Foto: ThinkStock)

Com apoio da família as chances de prosseguir com a amamentação aumentam (Foto: ThinkStock)

Era véspera de natal.
Na fila de uma loja esperávamos para pagar nossas compras. Logo à minha frente um homem com um carrinho de bebê duplo, dois recém-nascidos dormiam silenciosamente enquanto a mãe andava pela loja tentando escolher os últimos presentes.
Foi quando passou pelo nosso lado, voltando dos fundos da loja, um funcionário. Parou rapidamente ao lado do pai dos bebês, espiou para dentro do carrinho dos gêmeos e desejou ao homem um feliz ano novo e muitas felicidades. Assim que terminou a frase começou a se distanciar, mas um segundo depois parou, se virou e disse: felicidade e sorte você já tem! E se foi, deixando para trás um pai atônito. Vi em seu olhar que por um momento precisou parar para pensar.

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Era o seu primeiro natal na condição de pai de gêmeos. Aquele turbilhão de novidades atravessara sua vida e mal podia entender o que era ter essa tal felicidade a que se referira o funcionário da loja.
Ali naquela fila, acredito que só eu (também mãe de gêmeos) vi aquele olhar paralisado que invadiu seu rosto. Num milésimo de segundo imagens, questionamentos, dúvidas, uma vida passada à limpo numa fila de natal.
Sim, ele era um sortudo, só não conseguia ainda desfrutar desta sorte entre choros, fraldas, banhos, mamadas, mamadeiras...

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Lembrei-me do meu primeiro final de ano ao lado do meu marido e filhos. As ajudantes, obviamente de folga, afinal era natal.
Olhávamos à nossa volta e tudo parecia fora do lugar, inclusive nós. Deslocados do que antes era a nossa forma de viver e sem saber muito bem o que seria daqui para frente a nossa nova vida.

Ainda na loja, pensei em falar algumas palavras sobre o quanto aquilo tudo era temporário e como eu já havia estado ali, podia garantir que estava tudo bem, apesar de nada parecer normal. Mas seria invasivo...

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Silenciei.
A olhar aquele homem e sua esposa ali fiquei num misto de compaixão, identificação e nostalgia, pensando no quanto, hoje em dia, não estamos preparados para o que a parentalidade nos traz de presente, de passado e de futuro. O que entendemos como felicidade hoje está muito distante da imagem de um bebê e suas demandas sem fim. E assim, muitos de nós, atravessamos estes primeiros meses e anos dos nossos filhos nos sentindo roubados, sequestrados de nossas próprias vidas.
Até que eles cresçam e a saudade vem. De um tempo em que um pequeno ser nos olha de uma forma que ninguém nunca mais nos olhará, nem mesmo ele.
Sorte dos que conseguem viver isso com consciência, atentos a cada gesto e conquista.
Para as mães e pais de bebês neste momento: feliz 2019, que vocês consigam viver este ano da forma mais presente possível, pois depois dele virá 2020, 2021, 22, 23... O tempo não volta!

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site Amamentar é…, estudante de Psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina de 15 anos. (Foto: Edu Rodrigues)