• Chris Nicklas
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Se estiver perto de uma recém mãe, ofereça sua ajuda. Atitudes simples podem fazer toda diferença na vida desta mãe (Foto: ThinkStock)

Se estiver perto de uma recém mãe ofereça sua ajuda. Atitudes simples podem fazer toda diferença na vida dela (Foto: ThinkStock)

Imagine uma mãe esgotada.
Agora imagine que ela é pobre e que passa os dias sozinha.
É jovem, imatura, seu marido chega do trabalho tarde e dorme.
Os dias passam e o que fica é o choro do bebê, intermitente, insistente, ensurdecedor.
As noites, ela me conta, são sofridas e solitárias, como sua vida como um todo, desde que o seu filho nasceu...
Em nossa troca de mensagens ela fica mais à vontade para falar sobre o que sente; sua tristeza, os repentes de arrependimento e a juventude jogada pela janela.
Não a julgo, muito pelo contrário, escuto suas palavras escritas em um português deficiente e sinto uma profunda empatia.
Talvez por isso ela fale... Percebe que a recebo sem julgamento.
Mas quando atinge um certo ponto de transparência e sinceridade, ela some de nossos “encontros” semanais.
Aquela última noite havia sido especialmente desesperadora.
E ela, descontrolada, agredira o bebê.
Logo pela manhã estava a me contar sua dor, sua culpa.
Não se reconhecia.

#AcolhaUmaMãe: "A ficha só cai quando o bebê está ali, exigindo o conhecimento de um mestrado inteiro"


-Que mãe era ela?! Como pudera perder a razão?!
O bebê, inocente e indefeso, passava por algo que ela não conseguia decifrar.
Seria dor? Fome? Sono? O que afinal o levava aos berros praticamente todas as noites e dias?
Além de tentar lhe dar o maior número de informações possível, sobre como aperfeiçoar as mamadas para saciá-lo, eu a aconselhava a ir a um Posto de Saúde ou um Banco de Leite para procurar ajuda profissional, mas ela me dizia que não sabia onde ir, confusa e perdida em sua ignorância não acreditava que algo poderia dar certo.
Perguntei por parentes, amigas, vizinhas e o marido. Nada! Ela parecia não ter ninguém, como se a possibilidade de se comunicar com os outros tivesse desaparecido.
Era só ela e o bebê naquele labirinto que ela me descrevia com muita dor.
Um dia, de repente, retornou às nossas conversas.
Quando vi sua mensagem fiquei na expectativa de que algo houvesse melhorado, mas não, tudo continuava igual.
Não me conformei! Insisti com ela que procurasse ajuda, que não ficasse em casa sozinha pois enlouqueceria.
O casamento já não existia. Sua casa estava imunda. Ela mesma estava um trapo.
Conforme essa nova fase de nossa troca de mensagens evoluía me dei conta de que ela desistiria até mesmo de me procurar.
E assim foi.

#AcolhaUmaMãe: “O bebê dormia tranquilamente, mas um pedaço do coração insistia em avisar que havia um problema”


Em pouco tempo sumiu e nunca mais soube dela, nem de seu bebê.
Não me conformo até hoje.
Me pergunto sempre que sociedade é essa que inventamos na qual uma mulher fica absolutamente sozinha em meio à revolução emocional que a maternidade promove.
Como parentes, amigos, vizinhos e profissionais da área da saúde não se mobilizam e organizam para ajudar uma mãe inexperiente em crise?
O que se passou com essa moça acontece com milhares de mulheres que não têm em sua volta uma rede de apoio consistente nos primeiros meses de vida do bebê.
Uma tristeza.
Precisamos mudar isso!
Olhe para o lado. Talvez você nem perceba mas perto de você, em seu bairro, em sua família, exista alguém passando por algo assim. Faça uma visita, puxe papo, ajude com a casa, as compras, um almoço feito com carinho...
Sempre há algo que podemos fazer.
Um pequeno ato pode fazer uma imensa diferença para o outro.

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site Amamentar é…, estudante de Psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina de 15 anos. (Foto: Edu Rodrigues)