• Andréia Sadi
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Andréia Sadi, grávida dos gêmeos Pedro e João, e o parceiro André Rizek (Foto: Arquivo pessoal)

Andréia Sadi, grávida dos gêmeos Pedro e João, e o parceiro André Rizek (Foto: Arquivo pessoal)

Sempre quis ser mãe, mas nunca soube quando seria o momento. Acredito, sim, que somos um misto de nossas experiências particulares somadas às nossas raízes - e isso inclui até aquilo que rejeitamos ou o que queremos nos distanciar. Por exemplo, quando eu dizia pequena que “jamais faria” algo ao ver minha mãe fazendo aquilo com seu três filhos. Hoje, grávida de gêmeos, aos 33 anos, meus meninos nem nasceram e eu já paguei a língua:  espero repetir minha mãe para Pedro e João. E já tenho feito coisas baseada no que ela fazia - e a vejo quando me olho no espelho. Mas é exatamente aí que começam todas as dúvidas: vou ser uma boa mãe? Vou dar conta? Como vai ser conciliar carreira e filhos? A gente se vira, é verdade? Vou me reconhecer como mulher? Eles vão gostar de mim? Como minha mãe fez para criar três filhos praticamente sozinha? Eu tenho André [Rizek], que é minha pessoa favorita no mundo, meu parceiro de vida, amor da vida toda, meu ombro nas inseguranças que passaram a ser diárias - e, mesmo assim, sigo cheia de dúvidas sem prazo para serem respondidas. Marinheiros de primeira viagem mode on.

Nunca soube quando a maternidade aconteceria nem como lidaria com ela porque uma das minhas inseguranças era não conseguir achar o tal do melhor momento na carreira. Como minha mãe repetia quando eu era pequena, eu fui criada para estudar e trabalhar: então, como encaixar o combo? Pensava muito nisso e conversava com minhas amigas sobre o tema. Uma vez ouvi de uma jornalista que admiro e que tem uma carreira brilhante que não existe isso de melhor momento: filho não atrapalha carreira de mulher, pelo contrário: é benção, a gente se vira e traz mais vontade de trabalhar. Tudo se encaixa.

Mesmo não sabendo que engravidaria meses depois daquela conversa, com certeza o que  jamais imaginei era que estaria vivendo isso tudo em meio à maior crise sanitária das últimas décadas. Sempre ouvi que a gestação era um período solitário, mas eu não senti assim, mesmo em home office. Compartilhei momentos muito felizes e únicos, virtualmente, com amigos e família. E  tirando os dois primeiros meses, que foram pesados de enjoos e náuseas, a gravidez foi bastante produtiva profissionalmente. Trabalhar, para mim, é combustível, é prazer- e eu deitei e rolei (aqui no sentido figurado porque com essa barriga está difícil fazer malabarismos rs): cobri eleições municipais, voltei com meu programa, o “Em Foco”, com as entrevistas inéditas na GloboNews, fiz reportagens exclusivas, furos e continuei com os comentários na rádio CBN, no blog no G1 e até dei curso de jornalismo. Brinco que o slogan da GloboNews, #nuncadesliga, era um recado me preparando para a maternidade e eu não sabia.

Trabalhar como jornalista me preenche, eu funciono melhor para outras áreas da vida quando estou fazendo tudo ao mesmo tempo agora. Brinco também que amo um “caos com método” - e eu praticamente resolvi tudo que eu precisava (ou que me disseram que eu preciso...), pelo WhatsApp: do enxoval dos bebês aos médicos, praticamente fiz tudo pelo celular, enquanto estava organizando entrevistas e reportagens.

Digo que comprei tudo que me disseram que eu preciso porque isso foi um ponto interessante desses oitos meses. A quantidade de conselhos, de dicas, de orientações, instruções que eu recebi...não está no gibi. E os relatos assustadores? A ponto de André chegar um dia para uns amigos e ironizar: “Mas também tem coisa boa, né?’’. Por serem gêmeos, ouvimos o tempo todo que nossa vida vai ser muito difícil, muito trabalhosa, muito cansativa...Eu imagino que seja mesmo. Por mais que me prepare, sei que será bem diferente quando eles nascerem. Mas a gente optou por parar de escutar quando estamos ouvindo os outros relatarem os terrores da maternidade - e seguir na nossa vibe de que fomos premiados com uma família linda, com dois filhos saudáveis, fofuchos e cheios de amor.

Vamos deixar para surtar - porque vai rolar - quando for necessário. E olha que tive uma prévia na reta final da  gravidez, uma espécie “gestantezilla”: tudo fico preocupada, quero fazer 50 exames..tudo faço mil perguntas, mil pesquisas... Coitado do meu médico, paciente jornalista!! rs.

Como não temos o controle de nada, por ora, fico apenas repetindo um mantra internamente, mania que tenho desde criança, mas sempre em tom de ironia, de brincadeira: escolho uma música, um trecho, mixo estrofes e fico encaixando em determinado momento da vida. Neste momento, grávida de João e Pedro, o susto mais maravilhoso que eu poderia ter tomado, só consigo brincar (com direito à performance no banho, juro. canto mal mas danço bem!) com a letra de “I Will Survive” [Gloria Gaynor]: “At first, I was afraid, I was petrified, I know I'll stay alive! I've got all my life to live, I've got all my love to give, I will survive!’’

Andréia Sadi (Foto: Divulgação/TV Globo)

Andréia Sadi (Foto: Divulgação/TV Globo)

Andréia Sadi, jornalista, paulistana, 33 anos, grávida do João e do Pedro. Comento política na GloboNews ,TV Globo e CBN apresento o programa em Foco, na GloboNews e escrevo sobre os bastidores da política no G1. Por aqui, maternidade e tudo mais que couber.
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